domingo, 29 de abril de 2012

O ESPÍRITO DE NOVEMBRO. OBRIGADO JAIME... (PARTE I)

Retalhos de uma Revolução…


Crónica do jornalista «Manuel de Portugal» (pseudónimo) escrita no semanário «O TEMPO» em 18 de Dezembro de 1975.

Este jornalista assim como Vera Lagoa, eram das poucas pessoas ligadas aos media, que na época revolucionária, ousavam desafiar o regime e por isso sofreram perseguições.

Para que hoje possamos entender o clima de confusão revolucionária vivido de 25 de Abril de 1974 até 25 de Novembro de 1975, data em que ocorreu a contra-revolução, que pôs termos ao desvario totalitário comunista.

O 25 de Novembro de 1975, liderado pelo então Ten. Coronel Ramalho Eanes e pelo seu operacional do Regimento de Comandos, Major Jaime Neves, bem pode considerar-se o verdadeiro movimento militar que repôs a ordem democrática no país e pretendeu devolver a verdadeira liberdade ao Povo Português.

O verdadeiro espírito de Abril, a autêntica liberdade, é nesta data que deviam ser comemorados.

E por isso, devíamos antes comemorar o «Espírito de Novembro» como o sentido da verdadeira democracia e da verdadeira liberdade.
Mas, os donos da revolução, que sempre a tutelaram desde o início, passam pelo dia 25 de Novembro, como se ele nunca tivesse existido, como data histórica.

É deplorável. Para quem, como eu, viveram estes acontecimentos.

Mas, em tudo há sempre um «mas», uma dúvida, uma sombra, uma mancha que estraga tudo.

O poder devolvido aos civis, pelo movimento libertador de 25 de Novembro de 1975, como é apanágio das verdadeiras democracias foi, depois de muitos tumultos, conspirações e incertezas,  aproveitado para, desfraldando bandeiras socialistas,  como impunha a Constituição Revolucionária de 1976, oportunismo, despesismo, manipulação, incompetência, terminando no caos.

A texto de «Manuel de Portugal», escrito na época,  diz bem da mordaça que haviam colocado ao Povo Português.

Vale a pena de ler…


Manuel de Portugal

« Mais vale tarde do que nunca e nunca é tarde para pagar uma dívida, mesmo de gratidão.

Chegou-te a vez, Jaime Neves, de seres alvo desta crónica amiga que devia ser, em boa verdade, duma só palavra, grande, extensa, a toda a largura da página: OBRIGADO.

Há em ti, Jaime Neves, a força dum Povo, a determinação de uma raça, o sentido cósmico de uma espécie. É a tua bravura um Hino de Liberdade. É a tua coragem um sintoma de portuguesismo.

Direito, na torre do Chaimite, quando te vi, no dealbar do 25 de Novembro, a  subir a Calçada da Ajuda, bravo entre os bravos, ouvi dentro de mim, oitocentos anos de História, a bradarem em uníssono: vai ali, Portugal.

E ia!

Ia dentro de ti, Jaime Neves, o peão ignoto de Aljubarrota, pensando na mãe, pensando no filho, segurando firme a longa lança guerreira, determinado e audaz, contra o castelhano invasor da Pátria.  Salvé Jaime Neves de Aljubarrota, Libertador da Grei, companheiro de Nun´Álvares, Homem da Gesta e do Combate.

Ia dentro de ti Jaime Neves, o algarvio da moirama, o beirão entroncado, o minhoto labutador, subindo à enxárcia, puxando a vela, manobrando o leme, na Caravela da Aventura, da Grande Nau da Descoberta, levando por mares nunca dantes navegados, a Cruz de Cristo e as Quinas deste Portugal Cristão, deste Portugal Humano.

Ia dentro de ti Jaime Neves, o patriótico conspirador de 1640, valentia indómita a repelir a traição opressora, certeza lusíada em luta de morte contra os vis interesses de nação estrangeira a tentar dominar a nossa Pátria comum.

Ia dentro de ti, Jaime Neves, o lisboeta sem nome, pimpão afadistado que no Rossio em efervescência, bramava irado contra o Mapa-Cor-de- Rosa e as exigências ofensivas dum Ultimato vergonhoso que menosprezava a dignidade do Portugal de Sempre.

Bravo entre os bravos, Jaime Neves, eras Martim Moniz morrendo no Castelo de S. Jorge, Egas Moniz de baraço ao pescoço, eras Santo António a pregar aos crentes, Capelo e Ivens nas selvas traiçoeiras, Republicano da Rotunda, Liberal do Mindelo, Gomes Freire de Andrade balouçando ao vento, Cronista do Reino, Custódia de Gil Vicente, Profecia de Bandarra, Emigrante Partindo, eras tu Jaime Neves, eras eu, Manuel de Portugal.

Jaime Neves de ontem, Jaime Neves de hoje, Jaime Neves de sempre, Português dos Quatro Costados, Povo Trabalhador, Sábio, Santo, Artista, filhos da mesma Terra, filhos do mesmo Sonho, filhos da mesma Grandeza Eterna que nos chama irmãos, para lá Vida e para lá da Morte.

Simbolizavas, Jaime Neves, bravo entre os bravos, Homem que se orgulha dos seus Homens, Homens que se orgulham do seu Homem, simbolizavas o NÃO, possante e viril dum Povo Inteiro, que se quer Livre e não Escravo, a Liberdade Nacional face aos Miguéis de Vasconcelos, que outras Espanhas nos querem vender, simbolizavas o Grito, a Raiva, a Força daqueles que, amando a Pátria, a não renegam nunca, por um prato de lentilhas…»



Continua… (PATRTE II, a publicar brevemente)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

GRÂNDOLA VILA MORENA...


Hoje, 25 de Abril de 2012, passou mais um aniversário de uma revolução.

Foi a Revolução Portuguesa de 1974

Revolução que, como muitas outras, pretendeu romper com um estado social, político, económico e cultural, considerado ultrapassado e por isso com premente necessidade de substituição.

Como em todas as revoluções, o novo estado social que veio substituir o anterior, pretendeu-se que fosse melhor, de contrário não compensaria os custos de uma revolução.

Mas, os custos da revolução de 1974, foram enormes:

- Desde a destruição do sistema económico inicial e da desastrosa descolonização, passando por três bancarrotas, até à actual situação do país. 

O novo estado social pretendeu romper radicalmente com o anterior, como se nada deste se aproveitasse. E por isso o país teve de suportar custos, de que ainda hoje, trinta e oito anos depois, estamos a tentar curar as sequelas.

E os custos foram tanto mais pesados quanto o modelo de arquitectura da nova sociedade se afastou do equilíbrio e se pautou pelo radicalismo,  pela utopia, pelos extremos.

O modelo escolhido e formatado por uma Constituição saída de uma Assembleia Constituinte, eleita por um voto obrigatório e coactivo de um terrível ambiente revolucionário foi, inicialmente, inspirado nos modelos socialistas totalitários da Europa de leste, de capitalismo de Estado ou das democracias populares.

Fidel Castro foi consultado e aconselhou os revolucionários portugueses.

Para o destino dos  reaccionários, fascistas e contra-revolucionários, chavões, porque vazios de significado, apenas pretenderam intimidar os incrédulos e eliminar os adversários políticos, o Campo Pequeno era o mais indicado. A mão de alguém, fez travar o processo e evitar o pior.

Perante as ameaças externas, a revolução arrepiou caminho e inflectiu depois para um modelo socialista moderado, dito democrático. O chamado socialismo soarista.

Este modelo, tentando contornar os problemas do totalitarismo, serviu-se da economia privada e dos cidadãos, para criar um Estado gigantesco que, segundo os seus mentores, ofereceria o paraíso a todos os cidadãos  (o chamado estado social):

- Saúde e educação gratuitos, habitação social para todos, toda a espécie de direitos económicos, sociais e culturais, cumprindo-se à risca a letra da Constituição.

Foi o modelo do DÁ e TIRA. Dá-se com uma mão e tira-se com a outra. Uma espécie de Comunismo Indirecto.

O modelo, no domínio dos direitos, liberdades e garantias também caiu nos extremos, perdendo-se o sentido do equilíbrio, originando oportunismo e desigualdades gritantes.

A dinamização cultural nos campos, nas fábricas, nas escolas, nos sindicatos, alimentou a utopia e o Povo acreditou. Mais uma vez acreditou.

E votou e consagrou!

A cobaia portuguesa experimentou a receita, a habilidade dos políticos condimentou-a e o Povo, embriagado, mais uma vez gostou. E repetiu a dose!

Não deu por nada!

Não se apercebeu da sinistra  e sinuosa curva decrescente da nossa economia e que o sonho do paraíso prometido à sombra de cujas palmeiras dormia ou repousava, saboreando a receita, era alimentado pelo dinheiro dos «mercados» agiotas, que nos era emprestado.

Até que um dia, acordou!

Acordou no meio de um pesadelo.
O pesadelo da Revolução dos Cravos, das Foices, dos Martelos, dos Fitipaldis dos Chaimites:

- Economia de rastos, falências em massa, desemprego generalizado, precaridade, pobreza, miséria.

- Depressão,  casinha dos pais para a juventude, sem direito a constituir família, sem futuro, sem nada. Refém do sistema. Emigração a única saída.

- Títulos académicos fabricados para compor as estatísticas da OCDE, mas que não servem para nada. Um orgulho nacional.

- Igualdade e nivelamento por baixo. Somos todos iguais.

- O crime compensa. O orgulho da justiça portuguesa.

- País a saque.

- Riqueza? Muita, mas só de alguns. Os do sistema, estatais e paraestatais, os dos salve-se quem puder, os chicos espertos, os saqueadores. Estes safaram-se e bem.

Culpados? Não há!

Uns fugiram, outros andam por cá, encobertos pela capa da imunidade e insistindo na utopia, na cassete e na já apodrecida demagogia.

Mas insistem. Insistem enquanto houver mel no tacho e o fundo já roto, ainda se poder lamber.

Até se romper de vez…

Mas, não havendo culpados, há bodes expiatórios!

São estes, os da direita, os fascistas e os reaccionários (à revolução) que o Povo elegeu. Aqueles que deviam ter ido parar ao campo Pequeno, na época, mas que agora estão a levar com todas as foices e martelos em cima, por terem ousado virar a página para nos fazer sair do lamaçal e por isso desafiar a tutela da revolução.

É a democracia tutelada, pelos donos da revolução, militares do MFA (agora Associação 25 de Abril) e civis dos polvos cor de rosa e vermelhos que, julgando-se mais iluminados que os deuses, atestam sempre um certificado de incapacidade e insanidade mental ao Povo Português, sempre que este, por ignorância cultural e minudência mental, na opinião deles, ousa não carimbar o socialismo que eles apregoam e que nos conduziu à desgraça.

O sonho de Abril transformou-se no maior pesadelo da história portuguesa dos últimos cento sessenta anos.

NÓS, POVO PORTUGUÊS, TEMOS RAZÕES PARA COMEMORAR ESTA DATA? NÃO!

SÓ ELES O TÊM, NÓS NÃO!

Eles sim porque, hoje, na Assembleia da República de cravo vermelho na lapela, foram os grandes beneficiados pelo sistema que criaram e com o qual frustraram as justas expectativas do Povo Português.

Aprendamos a lição!




O GRÁFICO DO SOCIALISMO
- Linha descendente azul: queda da riqueza produzida (empobrecimento)
                         - Linhas vermelha, verde e roxa  (o despesismo do Estado, o endivi-
                           damento do Estado e o endividamento total do país, dívida soberana)
                            
                         NB: a linha decrescente da riqueza (empobrecimento), contrasta com
                              a subida galopante do despesismo do Estado, do endividamento do
                              Estado e do endividamento total do país.
                            A linha azul descendente, ao aproximar-se do zero em 2010 e situando-
                              se abaixo dele a partir de 2011, provocou a bancarrota, pela ruptura do
                              modelo.







domingo, 15 de abril de 2012

A FORMA E O CONTEÚDO


Costuma dizer-se que «Mais vale sê-lo do que parecê-lo».

Na nossa vida quotidiana, muitas vezes parecemos aquilo que não somos e também somos aquilo que não parecemos.

Vem isto a propósito daquilo que observamos, daquilo que lemos, daquilo que ouvimos e do modo como formamos a nossa opinião e tomamos decisões.

A subtileza, com que se comunica, em qualquer das suas formas, escrita, oral, gestual, codificada, tem muita influência na forma como o receptor interpreta a mensagem.
Em qualquer processo de comunicação há sempre um emissor, um canal de comunicação e um receptor.
O emissor, quem comunica a mensagem, pode, ele próprio, usar de subtileza, hipocrisia e no limite a própria mentira e o canal (o meio de comunicação), também ele próprio, deturpar a mensagem.

Quando isto acontece, dizemos que existe ruído na comunicação.
E o ruído (a alteração, muitas vezes propositada) do verdadeiro sentido da mensagem, faz com que o receptor (o destinatário) a interprete de modo completamente diverso do seu sentido original, influenciando deste modo, a sua maneira de pensar.

Um exemplo típico de ruído extremamente perverso, é o que acontece quando uma mentira, repetida muitas vezes faz com que os destinatários a considerem como uma verdade. Ou um boato, posto a circular, pelos meios mais diversos, faça com que milhares e milhares de pessoas, acreditem nele.
Podia citar aqui vários casos concretos, que se passaram em Portugal e que convenceram muita gente.
Lembro-me, há uns anos, do meteorito que tinha caído numa praia, algures no norte do país.
A encenação foi perfeita, desde a filmagem da queda, à cratera deixada na praia, à simulação da cor queimada do objecto vindo do espaço, até ao isolamento do local pelas autoridades!

Na política, principalmente, quem dominar os meios de comunicação e usar da máxima subtileza e poder oratório, domina multidões e dessa forma formata a nossa maneira de pensar, influenciando as nossas decisões.

A isto chama-se marketing político.

Contrariamente ao marketing comercial que, perante uma concorrência e competição cada vez maiores, num determinado mercado de produtos ou serviços, procura acrescentar vantagem competitiva às empresas e valor real ao cliente final, o marketing político é, quase sempre, perverso e visa, muitas vezes, influenciar o cliente final (o cidadão eleitor) oferecendo-lhe um «valor» falso que, embrulhado numa atraente embalagem lindamente enfeitada, convence facilmente milhares (milhões) de incautos.

Nem seria preciso reafirmar que estes factos, têm sido uma constante em Portugal, desde sempre,  e é característico de todas as democracias desenhadas neste formato imperfeito, tal como as conhecemos.

Paralelamente à capacidade que devemos ter de distinguir o trigo do joio, aquilo que é verdadeiro daquilo que é falso, também devemos adquirir a capacidade de distinguir entre a embalagem e o enfeite de um presente ( a sua atraente aparência) e o seu conteúdo (o que está lá dentro).

E, antes de tomar uma decisão ou formar uma opinião, devemos, antes de tudo, abrir o presente e observar o seu conteúdo. Ver e analisar, de todos os ângulos.

E, perante o que está a acontecer por este país fora, em que os tradicionais arautos da desgraça, começam a emergir e a ressuscitar dos mortos, apregoando as mesmas falsidades de sempre e a mesma táctica demagógica de sempre, temos (devemos), mais do que nunca estar atentos.

Porque, não queremos, nunca mais, que a tragédia que, já pela terceira vez, nos bateu à porta, se volte a repetir, pela mão desses já sobejamente conhecidos arautos, temos (devemos), mais do que nunca, estar em «posição de guarda».

Nesta democracia imperfeita, de fachada e camuflada e por isso enganadora, nós portugueses, temos de adquirir rapidamente esta capacidade de avaliação e análise, entre o que é falso e o que é verdadeiro, entre a  forma exterior daquilo que observamos e nos vendem e o seu conteúdo (a verdadeira razão das coisas).

E aqui chegamos ao ponto fulcral desta reflexão.

A tentativa de ressuscitar a figura de José Sócrates,  actualmente em marcha, pelos tais profetas da desgraça, mais não visa do que branquear a figura de um dos principais (não o único)  responsáveis da situação trágica que o país está viver,  pela relevância do cargo que desempenhou nos últimos seis anos de governação cor de rosa, do país.

E, o que é preocupante, neste momento, é constatar que muitos de nós portugueses, estamos novamente a acreditar que o Partido Socialista é o grande salvador da Pátria e que estes, os que agora estão no governo, a quem Sócrates passou a «batata quente» e depois fugiu para Paris, onde leva uma vida regalada e de luxo, são agora os grandes responsáveis e os bodes expiatórios de todas as desgraças.

O bluff funcionou em pleno. E foi duplo. Como sempre!

Os que destruiram a Pátria, nunca serão capazes de a reconstruir. Isto também é dos livros e da história. Aprendamos a lição!

Já é tempo de a aprendermos!

Já é tempo de termos adquirido a capacidade de distinguir o que são causas e o que são efeitos.

Já é tempo de entendermos que são as causas que provocam os efeitos, são as causas anteriores que provocam as consequências e que as causas são anteriores aos efeitos.

Se as causas forem boas, os efeitos serão bons. Se as causas forem más, as consequências serão más.

É preciso perceber que este governo, recebeu do governo anterior ( o de José Sócrates) uma situação económica, financeira, social e demográfica, da maior gravidade, que não ocorria em Portugal desde há mais de  século e meio.

Por isso as consequências, os efeitos,  estão a ser gravíssimos.

Mas,  não foi este governo que as ocasionou. Parece-me claro.

Este governo herdou a situação e foi obrigado a cumprir uma severo programa de austeridade.

Este programa não pode ser confundido com as causas. Este programa (dito da troika) visa atacar os efeitos, as consequências de governações anteriores irresponsáveis e desastrosas, que podem ter sido agradáveis e beneficiado muita gente, mas que arruinaram o país.

Podemos questionar se podia ter sido executado de forma mais suave ou se havia alternativas. Mas fomos obrigados a cumpri-lo. Porque se não o aceitássemos, o dinheiro acabava-se em Portugal e as consequências ainda seriam piores.

Nós portugueses, temos de ter a capacidade de, nesta situação de grave emergência nacional, pôr de lado, as nossas convicções ideológicas e de nos unirmos em prol da recuperação do país. Todos os contributos, todas as ideias são úteis e bem-vindas.

Não podemos continuar desunidos. A união faz a força.

Olhemos para os exemplos da Irlanda e da Islândia.
A Grécia não é um bom exemplo, porque os abusos de governações anteriores (socialistas) foram longe demais.

E, nesta hora difícil para todos nós, não deixa de ser preocupante, parte da população portuguesa continuar radicalizada em torno do partido socialista, que sistematicamente nos nem tem atirado para a desgraça.

Radicalizada como se um partido político fosse um clube de futebol! Nada mais perigoso!




Uma coisa é certa:

Se não tivermos a coragem de mudar, continuaremos eternamente numa estagnação crónica ou entrar definitivamente numa espiral de pobreza, que comprometerá irremediavelmente o nosso futuro colectivo e inviabilizará Portugal como país.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

ESQUELETOS NO ARMÁRIO

Ainda em campanha para as legislativas de 2011, o partido social-democrata, pela voz de Passos Coelho, insinuou, em tom irónico, aos seus opositores do partido socialista, que esperava não encontrar «esqueletos no armário», se fosse governo.

No contexto da época, as autoridades socialistas do país, ficaram indignadas perante tamanha suspeita.

Como os factos demonstraram à evidência, após nove meses de governo coligado social-democrata e social-centrista,  os tais esqueletos apareceram por todos os lados, não só dentro dos armários, mas em tudo quanto é sítio e ficámos estupefactos, para não dizer aterrorizados.

Foi uma sucessão de «buracos financeiros», desde os martelados défices dos orçamentos do Estado para  2010 e 2011, que eram muito mais elevados, passando pelos buracos da Madeira e BPN e acabando nos buracos autárquicos e das parcerias público- privadas (PPP).

E, pelo que se está a ver, a coisa não vai ficar por aqui. Novos esqueletos irão certamente aparecer, para nos surpreender quando menos esperamos.

Obviamente que, durante o consulado socrático, a clima de suspeita já era generalizado em todo o país. Passos Coelho apenas deu o pontapé de saída para o jogo começar.

Mas, interrogamo-nos legitimamente, porque teriam surgido tantos esqueletos? Porquê tantos buracos financeiros? E que também tiveram impacto económico? E que também deram o seu importante contributo para a situação de bancarrota em que caímos?

Esta questão conduz-nos ao problema de fundo.





De facto, a opção por um modelo de desenvolvimento dito, pelo seu inspirador e patrono português, de «socialismo democrático», em oposição a socialismo totalitário, tentou a coexistência entre uma economia social de mercado e uma economia pública total ou parcialmente colectivizada, constituída pelos sectores básicos da economia, os recursos naturais e o próprio Estado Central,  autárquico, empresarial autárquico e um conjunto de  órgão públicos, de etiologia diversa.

Aparentemente, mau grado a excessiva dimensão que atingiu e a sua gestão desastrosa,  o sector público da economia não foi um mal em si mesmo. Apenas visou que estes sectores estivessem vedados a privados, dada a sua natureza colectiva.

O problema coloca-se, essencialmente, em relação à componente privada deste sistema:

- As Pequenas e Médias Empresas e uma pequena parte constituída por Grandes Empresas que,  seguindo a lógica deste modelo, dito de socialismo democrático, passou a desempenhar o papel que, numa economia quase totalmente colectivizada é desempenhado pelas agências empresariais do Estado, que obedecem aos ditames do planeamento centralizado da economia.

Ou seja, deu-se liberdade à iniciativa privada, mas sujeita a um controlo muito apertado por parte do Estado, seguindo obrigatoriamente regras próximas das que teriam de ser seguidas por empresas ou agências públicas, numa economia socialista com grau elevado de colectivização.

Essas regras implicaram, não apenas um intervencionismo e um controlo do Estado na gestão destas empresas, como uma excessiva transferência de rendimento destas para o próprio Estado, sob a forma de impostos, contribuições e taxas diversas, que visaram satisfazer uma excessiva despesa pública de um Estado que se agigantou e alimentar o Fundo da Segurança Social a uma taxa muito elevada, que pudesse garantir a maior parte da protecção social dos funcionários das empresas (reformas e uma multiplicidade de subsídios e direitos, ditos adquiridos, e constitucionalmente consagrados).

Este modelo intermédio, tentando evitar o socialismo estatal totalitário, falhou, por um lado porque foram excedidos os limites consentâneos com a nossa capacidade de criar riqueza e devia ter sido travado na altura própria e por outro porque, como acontece em todos os socialismos, os agentes que o protagonizaram e os seus comparsas privados,  se aproveitaram dele em benefício próprio.

Mais uma vez o Povo ficou excluído.

Nem teve sequer direito ao socialismo das migalhas, porque nem a estas lhe foi dado ter acesso.

Embora desde há muito, economistas e não só, de todos os quadrantes, tivessem chamado a atenção para o facto desta opção de arquitectura da sociedade, escolhida pelo país e pelos governos do chamado centrão, estivesse errada, essencialmente pela nossa fraca capacidade económica de sustentar um Estado sobredimensionado e um Estado Social,  tal como foi desenhado, e pelo excessivo dirigismo e intervencionismo do Estado, nada foi feito para a corrigir ou alterar.

A fraca capacidade económica do país, bem evidente na linha, tendencialmente  decrescente  da Produção Nacional, desde há quase quarenta anos, em contraste evidente com a subida da Despesa Pública e da Dívida Soberana, indicavam claramente a insustentabilidade do modelo.

O facto de um ministro deste governo, o Ministro da Economia,  ter interiorizado que o modelo seguido foi errado, já foi um passo importante, dada a natureza quase tabu, desta questão em Portugal.

Tabu, porque as autoridades socialistas que o idealizaram, ainda mandam no país e tentam ainda impor-nos um «politicamente correcto», com o qual pretenderam e pretendem ainda, condicionar e formatar a nossa capacidade de pensar.

Mas, os tempos estão mudar e muitas camadas da população começam a aperceber-se de que temos de mudar de vida, se quisermos sair do atoleiro e lograr o crescimento e o desenvolvimento.

Portanto há que mudar de paradigma.

A Constituição de 1976, do meu ponto de vista, é um grande obstáculo, pela simples razão de que formatou o modelo e apontou um caminho: o socialismo.

Há séculos que procuramos o modelo ideal. Nunca se conseguiu, nem se conseguirá, simplesmente porque não há modelos ideais. E, esbarramos sempre com a natureza egoísta do Homem e nos controlos apertados que é necessário exercer sobre ele. E mesmo assim os sistemas e os modelos falham.

Algo tem de ser feito para que tudo não derive para um «salve-se quem puder» em que, quem for «chico esperto» é Rei.

O novo paradigma tem de garantir, em meu entender, um elemento essencial chamado EQUILÍBRIO e não caia na tentação dos extremos, seja á direita seja à esquerda, pela razão de que, situando-se nos extremos, uma das partes vai ficar prejudicada e outra beneficiada.

E, é dos livros, que um sistema, qualquer que ele seja, desequilibrado, conduz inevitavelmente à sua desintegração e destruição.

Ele deve garantir algumas componentes essenciais para, não só garantir o equilíbrio, como desenvolver-se e maximizar a função de bem-estar social:

  O equilíbrio entre os elementos da Função de Produção Agregada (essencialmente Capital e Trabalho);

● O crescimento económico, que induza o desenvolvimento da sociedade no seu conjunto, evitando a grande concentração  e a grande exclusão;

● A liberdade,  a livre iniciativa e a capacidade criadora dos cidadãos.

● Um Estado ao serviço dos cidadãos e não os cidadãos ao serviço do Estado.


PARA QUE OS TAIS ESQUELETOS NUNCA MAIS SEJAM GUARDADOS NOS ARMÁRIOS...