domingo, 23 de junho de 2013

A FORMA E O CONTEÚDO: A QUARTA BANCARROTA

As causas que empurraram o país para a situação em que se encontra, são sobejamente conhecidas. Não vale a pena insistirmos no assunto, tantos os quadrantes da sociedade que antes, agora  e sempre, fizeram o diagnóstico e apontaram caminhos.
 
Uma boa parte da sociedade portuguesa, envelhecida, doente, desempregada, ignora as causas e limita-se a fazer o raciocino binário, de apenas duas opções de escolha: os que prometem dar, são bons e é neles que votamos; os que não prometem dar ou que estão a cortar, são maus e não votamos neles.
Dar migalhas, entenda-se, para uns, indigno de ser dado a alguém, mas para outros, os que se contentam com pouco, uma dádiva do céu e são, infelizmente muitos e decidem eleições.
 
E os políticos, já com o marketing muito bem afinado e conhecendo de sobra a cultura do seu mercado eleitoral, aproveitam e exploram, à exaustão, as vantagens eleitorais desta irracional conduta.
 
Há ainda os que, cansados de ver tanta desgraça à sua volta e porque julgam que nada mudará, que possa melhorar as suas vidas, vidas inglórias, muitas vezes abaixo do humanamente aceitável ou da subsistência, rejeitam os actos eleitorais, abrindo caminho à vitória da abstenção.
 
A partidocracia aproveita, o mais possível, o comportamento deste segmento da sociedade, irracional, binário, inconsciente que, adicionado ao comportamento racional e interesseiro dos encartados do clube partidário e seus amigos e compadres, procuram dar vantagem ao seu clube de interesses, muitas vezes os mais tenebrosos e obscuros.
 
A oligarquia de poderes, económico, político e estatal, à pala de uma Constituição feita à sua medida, manda no país e impõe as suas regras implacáveis, a este povo incrédulo que a tudo se submente e a tudo se resigna.
 
Habituámo-nos, muitos de nós, mas mesmo muitos, a avaliar e a interpretar as coisas que observamos, aquilo que os políticos nos dizem e nos propõem falsamente, olhando apenas para a forma, para o superficial, para a beleza das cores do presente que nos é servido e descuramos ou não temos capacidade de interpretação do conteúdo, não por culpa das pessoas, é bom que se diga, mas por culpa de quem, durante décadas, não cuidou da formação e educação dessas pessoas.
 
Confundimos o lobo com o cordeiro, o diabo com o anjo e esta confusão tem saído caro ao país, entregando sistematicamente as chaves do galinheiro à raposa, fêmea do lobo, mais sabida e refinada.
 
E quando uma boa parte da sociedade se comporta desta maneira, porque não tem alternativa, fica refém do regime e do sistema que, arbitrariamente, impõe as suas implacáveis regras, tiraniza e escraviza o povo.
 
Esta estranha e falsa democracia dita representativa, mas que não passa de uma pseudo representação, não representa coisa nenhuma, a não ser os interesses e domínio da classe política e económica que, juntamente com um Estado omnipotente e omnipresente em tudo quanto é sítio, gordo e anafado, por comer demais, concentram e disfrutam da maior parte da riqueza do país, produzida com o suor dos obreiros do sistema privado, colocados ardilosamente ao seu quase exclusivo serviço.
 
E esta reflexão leva-nos a pensar no que se pode esperar no futuro, a um país submetido, na prática,  a uma ditadura oligárquica de que ficou refém, qual túnel sem saída e onde ficou encurralado.
 
Muitos defendem que, remendando sistema e o regime, das suas imperfeições, poderemos lograr um novo rumo promissor. Mera ilusão.
 
O sistema e o regime já levaram dois grandes remendos, aquando das duas bancarrotas anteriores e está, com sérias dificuldades em remendar a indumentária já completamente esfarrapada, podre, resultante da terceira bancarrota, aquela que estamos a viver.
 
A partidocracia ditatorial que se apoderou do país, acorrentando-o, explorando a incredulidade de muitos de nós, tenta desesperadamente e à custa de enormes sacrifícios para as vítimas de sempre, dos seus devaneios e desvarios, tapar os buracos e remendar a podridão do tecido, dos buracos abertos pela incompetência e oportunismo, numa tentativa última de se salvarem do naufrágio desde navio, que adorna cada vez mais.
 
O rumo novo para o país, já não vai com remendos e se teimarmos em remedar o sistema e o regime, com estes ou com outros protagonistas e não nos preocuparmos com o conteúdo e apenas avaliarmos as situações pelos discursos inflamados ou das palavras bonitas dos políticos, teremos garantida uma quarta bancarrota.
 
 E se isso voltar a ocorrer, nada nos salvará, nem D. Sebastião,  a não ser a perda completa de soberania e independência enquanto povo, com quase mil anos de história, de que ainda nos podemos orgulhar. E submetermo-nos a novas formas de dependência, arbitrariedade e opressão.
 
É sempre necessário, mas em particular nos momentos históricos de crises profundas, que devemos reflectir nos conteúdos, nas causas que nos conduziram à ruina e à condição de país menos desenvolvido e mais desigual, de toda a União Europeia.
 
Mas é preciso fazer um esforço para fazer essa análise e esclarecer, por todos os meios ao nosso alcance, aqueles que, distraídos, inconscientes, binários e abstencionistas, têm dado o seu contributo para a desgraça do país.
Para tanto, é imperioso que a sociedade portuguesa, tome consciência de que é necessário fazer um «refresh» ao sistema e ao regime e avançar para um novo «restart», que o mesmo é dizer, dar o passo para a IV República e para uma nova força política que, com credibilidade e competência, possa fazer frente à oligarquia e dar esperança a um futuro melhor para o nosso país e o seu povo.