As
causas que empurraram o país para a situação em que se encontra, são sobejamente
conhecidas. Não vale a pena insistirmos no assunto, tantos os quadrantes da
sociedade que antes, agora e sempre, fizeram
o diagnóstico e apontaram caminhos.
Uma boa parte da sociedade
portuguesa, envelhecida, doente, desempregada, ignora as causas e limita-se a
fazer o raciocino binário, de apenas duas opções de escolha: os que prometem
dar, são bons e é neles que votamos; os que não prometem dar ou que estão a
cortar, são maus e não votamos neles.
Dar migalhas,
entenda-se, para uns, indigno de ser dado a alguém, mas para outros, os que se
contentam com pouco, uma dádiva do céu e são, infelizmente muitos e decidem eleições.
E
os políticos, já com o marketing muito bem afinado e conhecendo de sobra a
cultura do seu mercado eleitoral, aproveitam e exploram, à exaustão, as vantagens
eleitorais desta irracional conduta.
Há
ainda os que, cansados de ver tanta desgraça à sua volta e porque julgam que
nada mudará, que possa melhorar as suas vidas, vidas inglórias, muitas vezes
abaixo do humanamente aceitável ou da subsistência, rejeitam os actos eleitorais,
abrindo caminho à vitória da abstenção.
A partidocracia
aproveita, o mais possível, o comportamento deste segmento da sociedade,
irracional, binário, inconsciente que, adicionado ao comportamento racional e
interesseiro dos encartados do clube partidário e seus amigos e compadres,
procuram dar vantagem ao seu clube de interesses, muitas vezes os mais tenebrosos
e obscuros.
A
oligarquia de poderes, económico, político e estatal, à pala de uma Constituição
feita à sua medida, manda no país e impõe as suas regras implacáveis, a este
povo incrédulo que a tudo se submente e a tudo se resigna.
Habituámo-nos, muitos
de nós, mas mesmo muitos, a avaliar e a interpretar as coisas que observamos, aquilo
que os políticos nos dizem e nos propõem falsamente, olhando apenas para a forma,
para o superficial, para a beleza das cores do presente que nos é servido e
descuramos ou não temos capacidade de interpretação do conteúdo, não por culpa
das pessoas, é bom que se diga, mas por culpa de quem, durante décadas, não
cuidou da formação e educação dessas pessoas.
Confundimos
o lobo com o cordeiro, o diabo com o anjo e esta confusão tem saído caro ao
país, entregando sistematicamente as chaves do galinheiro à raposa, fêmea do
lobo, mais sabida e refinada.
E
quando uma boa parte da sociedade se comporta desta maneira, porque não tem
alternativa, fica refém do regime e do sistema que, arbitrariamente, impõe as
suas implacáveis regras, tiraniza e escraviza o povo.
Esta estranha e falsa
democracia dita representativa, mas que não passa de uma pseudo representação,
não representa coisa nenhuma, a não ser os interesses e domínio da classe
política e económica que, juntamente com um Estado omnipotente e omnipresente em
tudo quanto é sítio, gordo e anafado, por comer demais, concentram e disfrutam da
maior parte da riqueza do país, produzida com o suor dos obreiros do sistema
privado, colocados ardilosamente ao seu quase exclusivo serviço.
E esta reflexão leva-nos
a pensar no que se pode esperar no futuro, a um país submetido, na prática, a uma ditadura oligárquica de que ficou refém,
qual túnel sem saída e onde ficou encurralado.
Muitos
defendem que, remendando sistema e o regime, das suas imperfeições, poderemos
lograr um novo rumo promissor. Mera ilusão.
O
sistema e o regime já levaram dois grandes remendos, aquando das duas
bancarrotas anteriores e está, com sérias dificuldades em remendar a
indumentária já completamente esfarrapada, podre, resultante da terceira
bancarrota, aquela que estamos a viver.
A
partidocracia ditatorial que se apoderou do país, acorrentando-o, explorando a incredulidade
de muitos de nós, tenta desesperadamente e à custa de enormes sacrifícios para
as vítimas de sempre, dos seus devaneios e desvarios, tapar os buracos e
remendar a podridão do tecido, dos buracos abertos pela incompetência e
oportunismo, numa tentativa última de se salvarem do naufrágio desde navio, que
adorna cada vez mais.
O rumo novo para o
país, já não vai com remendos e se teimarmos em remedar o sistema e o regime,
com estes ou com outros protagonistas e não nos preocuparmos com o conteúdo e apenas
avaliarmos as situações pelos discursos inflamados ou das palavras bonitas dos
políticos, teremos garantida uma quarta bancarrota.
E se isso voltar a ocorrer, nada nos salvará,
nem D. Sebastião, a não ser a perda completa
de soberania e independência enquanto povo, com quase mil anos de história, de
que ainda nos podemos orgulhar. E submetermo-nos a novas formas de dependência,
arbitrariedade e opressão.
É sempre necessário,
mas em particular nos momentos históricos de crises profundas, que devemos
reflectir nos conteúdos, nas causas que nos conduziram à ruina e à condição de
país menos desenvolvido e mais desigual, de toda a União Europeia.
Mas
é preciso fazer um esforço para fazer essa análise e esclarecer, por todos os
meios ao nosso alcance, aqueles que, distraídos, inconscientes, binários e
abstencionistas, têm dado o seu contributo para a desgraça do país.
Para tanto, é
imperioso que a sociedade portuguesa, tome consciência de que é necessário fazer
um «refresh» ao sistema e ao regime e avançar para um novo «restart», que o
mesmo é dizer, dar o passo para a IV República e para uma nova força política
que, com credibilidade e competência, possa fazer frente à oligarquia e dar
esperança a um futuro melhor para o nosso país e o seu povo.