Em Portugal,
apesar de todas as desgraças que já nos aconteceram nestes quarenta anos da
República de Abril, vive-se ainda o diálogo radicalizado entre esquerda e
direita, como se tudo se resumisse a uma questão ideológica.
As análises,
os comentários, os colunistas mediáticos e os articulistas dos blogs, baseiam
ainda muito as suas opiniões e os seus pontos de vista, nesta dicotomia,
esquerda-direita. Ou seja, nas suas convicções ideológicas.
Tudo se resume e baseia em
análises deste tipo. A esquerda combatendo a direita e a direita combatendo a
esquerda.
Mesmo quando não se trata de
questões políticas, mesmo quando se trata de questões objectivas, que indiciam
práticas criminais e que são do foro da Justiça.
Vem isto a
propósito da detenção do ex-primeiro ministro José Sócrates, por fortes e
graves indícios, de práticas de crimes públicos.
E, não bastando a ruina que este
homem, em seis anos de governação, provocou ao país, facto que, só por si, justificava
uma auditoria à sua governação e apuramento de responsabilidades, não apenas
políticas, como é norma em Portugal, mas civis e criminais, há pessoas que,
perante esta detenção, ainda acham que a atitude das Polícias e do Ministério
Público, não devia ter sido esta.
Ou seja,
desde que a desgovernação ruinosa ou os indícios de crime, venham da esquerda,
tudo deve ser perdoado e esquecido, simplesmente porque se trata da esquerda,
sistema e regime instaurados em Portugal, em 1974, com a Revolução.
Mas, a
verdade objectiva, os factos, as crises permanente em que o país tem estado
mergulhado, nestes quarenta anos da III República, mostram à evidência, que não
se trata, não se tratou, de questões
ideológicas, de questões esquerda-direita, como muita gente neste país costuma
tudo reduzir.
Trata-se objectivamente de uma
crise de regime, que arquitectou um comportamento e uma cultura dos seus
agentes, quase sempre vindos da chamada esquerda, baseados no oportunismo, no
carreirismo, na promiscuidade poder político-poder económico, na corrupção, na
retórica enganadora e na demagogia, agitando as bandeiras ideológicas da
democracia e do socialismo, mas que não passam de máscaras, atrás das quais,
sempre têm escondido os seus verdadeiros intentos.
Uma cultura
baseada nesta estratégia ideológica, mas visando apenas o poder pelo poder, o
individualismo e ambição pessoais, com desprezo pela sociedade e sem qualquer
sentido colectivo da governação.
Estes são,
objectivamente, os factos.
Toda a discussão baseada na
retórica ideológica esquerda-direita, que tudo pretende explicar, mesmo o
inexplicável, é pura perda de tempo e efémero contributo, para que os erros do
passado não se repitam e as disfunções do regime sejam corrigidas.