«Os igualitaristas,
embora inteligentes como indivíduos, negam o próprio fundamento da inteligência
humana e da razão humana: a identificação da estrutura ontológica da realidade,
das leis da natureza humana e do universo.
Ao fazerem isso, os igualitaristas estão agindo como crianças
terrivelmente mimadas, negando a estrutura da realidade em prol da
materialização rápida de suas próprias fantasias absurdas. Não apenas mimadas, mas também altamente
perigosas; porque o poder das ideias é tal que os igualitaristas têm uma boa
chance de destruir o próprio universo que desejam negar e transcender,
destruindo estrepitosamente tal universo perante nossos ouvidos. Uma vez que sua metodologia e seus objectivos
negam a própria estrutura da humanidade e do universo, os igualitaristas são
profundamente anti-humanos; e, portanto, sua ideologia e suas actividades
também podem ser referenciadas de profundamente más. Os igualitaristas não têm a ética do seu
lado, a não ser que se sustente que a destruição da civilização, e até da
própria raça humana, possa ser engalanada com a coroa de louros de uma
moralidade elevada e louvável.»
Este
excerto de um artigo publicado por Murray Rothbard em 2012, leva-nos a
reflectir sobre os conceitos ideológicos de igualdade e paridade de género, que
as esquerdas radical, ortodoxa e dita democrática, tanto apregoam.
Comecemos
pela igualdade.
Num
primeiro plano, se for entendido como igualdade
de todos os cidadãos perante a Lei e de igualdade de oportunidades, faz
todo o sentido, pois radica no princípio democrático da não descriminação e tem
como referencial o enquadramento legal (constitucional) de todos os cidadãos.
Num
segundo plano, a igualdade entendida na
sua concepção ideológica, de que todas as pessoas têm de ser uniformes, exactamente
idênticas, quanto a todas as suas características. O mundo igualitário seria um mundo de
criaturas sem rosto e idênticas, desprovidas de toda individualidade, variedade
ou criatividade particular.
A
ideologia utópica da igualdade faz parte de um conjunto de instrumentos, a que
recorrem os regimes totalitários e os mistos ditos democráticos, em que o Estado, suprema entidade que tudo
controla e tudo determina, pretende transformar os indivíduos em meros números
sociais, meras peças de uma engrenagem que os tritura, desmotiva, desumaniza e
destrói a sua personalidade.
Aparentemente
inofensivos e pacíficos, que soam bem aos ouvidos de muita gente, dos incautos
e principalmente dos pouco dotados de uma sociedade, porque os nivela com os
mais capazes e dotados, estes conceitos ideológicos de uma esquerda ortodoxa,
que ainda não vislumbrou que os tempos da revolução francesa, de Marx, Engels e
Lenine, já são coisa do passado, são destrutivos de qualquer sociedade e
inibidores do dinamismo e mobilidade sociais, pressupostos da evolução e do
desenvolvimento.
A ideologia
igualitária, também
inspirada no velho slogan da revolução francesa do século XVIII, pretende impor um utópico conceito de
igualdade entre as pessoas: cultural, intelectual, económico e profissional,
não distinguindo os indivíduos bons dos maus, cultos dos incultos, qualificados
dos não qualificados, os inteligentes dos menos dotados, os que trabalham e se
esforçam dos que fingem trabalhar.
O igualitarismo tenta
impor que coisas diferentes, com características diferentes e objectivos
diferentes, sejam iguais e tratadas da mesma maneira.
O
homossexual é igual ao heterossexual, o casamento gay é igual ao casamento ou
união de pessoas de sexo diferente, o mau aluno é igual ao bom aluno e tem
direito ao sucesso tal como este, em
iguais condições, o mau profissional é igual ao bom profissional e tem direito
a seguir a carreira em pé de igualdade com este, o mau candidato a um emprego,
tem de ser admitido em nome de uma paridade de género etc. etc.
O igualitarismo
apresenta uma dupla perversidade. Por um lado, impõe um nivelamento por baixo,
por um critério de «minimus» e por outro impõe que coisas substancialmente
diferentes, sejam iguais.
Segundo
observa Kurt Vonnegut, num conto chamado "Harrison Bergeron",
idealiza uma sociedade igualitária, no sentido anterior, da seguinte maneira:
«…Era o
ano de 2081 e todos finalmente eram iguais.
Não eram iguais apenas perante Deus e a lei. Eram iguais de todas as maneiras. Ninguém era mais inteligente do que
ninguém. Ninguém era mais bonito do que
ninguém. Ninguém era mais forte ou mais
rápido do que ninguém. Toda essa
igualdade era produto das emendas 211, 212 e 213 à Constituição e da vigilância
incansável dos agentes do Ministério de Incapacitação dos Estados Unidos….».
De
facto, só num mundo de terror, onde existisse um Ministério da Incapacitação Humana,
uma sociedade poderia viver e sobreviver, num sistema de utópica igualdade
absoluta.
É
um facto, à evidência do quotidiano, mas também cientificamente comprovado
que, em matéria de igualdade, somos
todos diferentes: física, intelectual, personalística, profissionalmente.
Com efeito, a espécie
humana, é excepcionalmente caracterizada por um alto grau de variedade, de
diversidade e de diferenciação — em suma, de desigualdade.
Uma sociedade
igualitária só pode aspirar a alcançar seus objectivos por meio de métodos
totalitários de coerção;
e, nesse caso, todos acreditamos e esperamos que o espírito humano do indivíduo
se revoltará e frustrará qualquer tentativa de se implantar um mundo de pessoas
desprovidas de inteligência e personalidade
Os
próprios movimentos feministas, incorrem muitas vezes no erro de pretenderem
que as mulheres sejam iguais aos homens, quando se sabe que são física e
psiquicamente diferentes, mas complementando-se e como observa Irving Howe, na
raiz do movimento pela libertação feminina, está o ressentimento contra a
própria existência da mulher como uma entidade distinta do homem, ou seja, o ressentimento
contra a própria natureza.
Em
suma, a ideia de uma sociedade igualitária é uma história de terror porque,
quando as implicações daquele mundo são apresentadas por inteiro, reconhecemos que tal mundo e as tentativas
de alcançá-lo são gravemente desumanos e destrutivos da Ordem Natural e do
Universo; sendo desumano no sentido mais profundo, o objectivo igualitarista é,
assim, intrinsecamente reprovável.
Finalmente,
a questão da paridade de género.
Igualmente
inspirado na ideologia igualitária tem, do meu ponto de vista, uma dimensão
diferente.
Enquadra-se mais no
primeiro conceito de igualdade, isto é, no princípio da não descriminação em
função do género.
Não
pretende um igualitarismo entre géneros, isto é, respeitando a diferenciação entre
sexos, pretende sim ter acesso a cargos institucionais ou laborais, em quotas
paritárias entre os dois géneros. Teoricamente uma quota de 50% para mulheres e
50% para homens em todos os domínios da actividade humana.
Também
aparentemente inofensiva, a ideologia paritária, a ser implementada à
letra, pode da origem a graves distorções e injustiças entre as pessoas, para
além de disfunções no desempenho de funções, tanto na política como no mundo
laboral..
Impor
uma quota paritária entre pessoas, em função do género, implica, logo à partida,
que os cargos a desempenhar sejam em número par, o que nem sempre acontece e, por outro lado, pode obrigar ao desempenho de
cargos por pessoas (homens ou mulheres) menos qualificados e com menor perfil,
em prejuízo de pessoas mais qualificadas e com melhor perfil.
A prática e a
eficiência organizacionais e mesmo na política, aconselha a que as pessoas, indistintamente
de serem mulheres ou homens, devem ser recrutadas e seleccionadas, indistintamente
do género mas sim, exclusivamente em função de critérios de mérito, competência,
qualificação e experiência curricular.
Impor quotas paritárias
é impor o esvaziamento dos processos de recrutamento e selecção e a sua
dispensabilidade, portanto ignorando a qualificação e o mérito e muitas vezes impondo uma disfuncionalidade no desempenho de funções, sejam
elas quais forem e por essa via, disfunções nas organizações e injustiças entre
as pessoas.
Apenas
um exemplo da vida real:
-
Na empresa X, onde fui director, foi aberto um concurso para o preenchimento de
cinco vagas para consultores. Concorreram muitos homens e mulheres.
Feito
o recrutamento e a selecção dos candidatos, segundo as melhores regras da
gestão de recursos humanos, foram admitidos, exclusivamente por critérios de
qualificação, mérito e experiência profissional,
três mulheres e dois homens, sendo as
três mulheres as três primeiras classificadas.
Se
a empresa seguisse o critério da paridade, desde logo, teria de, ou reduzir
para quatro ou aumentar para seis, o número de vagas e, em qualquer dos casos
uma das três mulheres seria prejudicada pois, com excelente curriculum, teria
de ser excluída em benefício de um candidato masculino, com um currículo
medíocre.
Uma
vez mais, estamos perante um conceito utópico, que na prática não funciona e,
por isso se aproxima do conceito ideológico de igualdade absoluta, igualmente
utópico, porque inverosímil e disfuncional.
Em síntese:
- A organização das
sociedades têm de basear-se, não no igualitarismo ideológico totalitário,
destrutivo da Ordem Natural e Universal e redutor e inibidor das capacidades
humanas, mas na diferenciação das características e capacidades dos indivíduos,
os únicos factores potenciadores da
mobilidade e dinamismo sociais e por isso da evolução e desenvolvimento das
sociedades;
- Também numa
perspectiva de evolução e desenvolvimento, a cultura e a cobertura legal da não
descriminação, impõem-se como princípio universal mas, não pode aceitar-se o
princípio da paridade de género, pois o desempenho de funções pelas pessoas
(mulheres ou homens) tem de ser obedecer sempre ao princípio do mérito e da
qualificação.