Sempre defendi o princípio da
colectivização de bens, serviços e recursos, de utilidade pública geral e de
interesse estratégico para um país.
Como tal,
não devem ser entregues a empresas ou instituições privadas.
Por um lado,
estes recursos, dada a sua natureza, se forem entregues a privados e assumindo
muitas vezes a natureza de monopólios, são explorados segundo o arbítrio do
grupo ou empresa privada, visando apenas a maximização do lucro e assim,
prejudicar o interesse colectivo geral, para além de constituir factor de
extrema assimetria na distribuição da riqueza colectiva.
Por outro
lado, dada a sua natureza estratégica, a sua manipulação por privados, pode
lesar gravemente os interesses gerais do país, perdendo, os poderes do Estado,
o controlo sobre esses recursos.
Num mundo,
actualmente globalizado, em que apenas os grandes grupos económicos e
financeiros mundiais, jogam num tabuleiro de xadrez com as peças mais valiosas
e como tal, devoram os meros peões neste jogo desigual, este último aspecto
assume uma importância crucial.
Analisado nesta perspectiva, a
empresa pública, que detém, sob controlo do Estado, esses bens, serviços e
recursos, não é um mal em si mesmo, antes pelo contrário, pois visa,
teoricamente, a sua exploração, de forma a maximizar a utilidade dos mesmos a
toda a colectividade, com um mínimo consumo de recursos.
Porém, mau
grado a existência de Instituições Reguladoras, para que esse objectivo social
seja atingido, a verdade é que, face à sua tutela pelo Estado, as suas
administrações, quase sempre nomeadas por critérios político-ideológicos e não
por critérios de competência e qualificação, descambam numa gestão ruinosa,
fruto do oportunismo, da manipulação e do abuso do poder, saldando-se, quase
sempre, por avultados prejuízos que, na
prática, se traduzem em mais custos sociais para os contribuintes.
As indemnizações compensatórias, que o
Estado, todos os anos, é chamado a transferir para estas empresas, visa
exactamente cobrir os crónicos prejuízos da grande maioria delas.
E esta situação, repete-se
sistematicamente, nesta III República, década após década, sem que nenhum
governo, tenha tentado colmatar o problema, constituindo, estas empresas, em
geral, um enorme e ruinoso encargo público, um enorme custo social para todo o
país, que atinge muitas vezes, centenas de milhões, senão mesmo, de mais de um milhar
de milhões de euros, anuais.
E, o que é
grave, mesmo muito grave, é que, apesar de todos os prejuízos acumulados por
estas empresas, compensados pelo Estado, quase sempre não se traduzem em
benefícios visíveis para o público em geral, resultando, na prática, que os
prejuízos anuais resultaram, na sua maior parte, de uma gestão danosa e do
aproveitamento das administrações, quadros e trabalhadores.
É lícito perguntar, onde radica o
mal da questão?
Incompetência e laxismo na
gestão, abuso de poder, inoperância da regulação, estruturas muito pesadas, sobre
emprego, salários e suplementos acima da média, onde toda a gente se aproveita,
baixa produtividade, gestão e investimentos irracionais sem critérios de
eficiência, atitudes abusivas dos quadros e em geral do pessoal, greves por
tudo e por nada (os trabalhadores destas empresas, assumem um estatuto de
privilegiados, a que poucos outros no país, se podem dar ao luxo), porque sabem
que os prejuízos causadas são socializados por todo o país, etc. etc.
Perante estes factos, as
privatizações de empresas públicas, em curso no país são, em boa parte, deles
consequência. A outra, da falência e colossal endividamento do
país, obrigando-nos a vender, para nosso infortúnio e desgraça, ao desbarato,
todas as joias da coroa, sacrificando, a
interesses estrangeiros, a nossa soberania e independência.
Ou seja, em Portugal,
subverteu-se, pelo abuso e pelo oportunismo, o Princípio Social e o Instituto
da Empresa Pública.
Agora, clamamos a reposição do
erro mas, parece já ser tarde demais.
As
consequências, estamos a pagá-las dolorosamente.
Os
oportunistas, ganharam, é certo, abusaram enquanto puderam e agora bem podem
vir a ter o seu futuro ameaçado.
Mas, todo o
país perdeu e empobreceu.
A capacidade
do Estado, para dar cobertura, como sempre aconteceu, a estes abusos, não é
ilimitada, como a gravíssima crise que atravessámos e continuamos a atravessar,
dramaticamente demonstrou.
A TAP, que está na ordem do dia,
é um bom exemplo.
Bem gostaria, bem gostaríamos
todos, que a TAP, continuasse pública, porque é um recurso estratégico do país.
Mas, a TAP, é um bom exemplo de
descalabro continuado, de má gestão, de investimentos mal planeados, de sobre
emprego, de exagerados salários, a começar pelo seu Presidente e toda a espécie
de suplementos e mordomias, que sobrecarregam enormemente os custos
operacionais da empresa e diminuíram o cash-flow de investimentos, mal
calculados e planeados.
É certo que, perante o descalabro
e a eminência de inviabilidade económica, houve, um grande esforço de
reestruturação, durante os últimos anos mas, os problemas crónicos continuam
lá.
Paralelo, só
a RTP, a Rádio Televisão Portuguesa, também, tal como a TAP, empresa pública,
agora sob concessão.
Mas, como
todas as empresas públicas, a TAP é extremamente vulnerável, às greves
oportunistas, chantagistas e ideológicas, controladas de dentro e de fora, que
não olham a meios para atingir os fins e não ponderam, minimamente, os enormes
prejuízos para a Companhia e as consequências para todo o país.
É tempo de questionar o Instituto
da Empresa Pública, tal como está concebido mas, com muita probabilidade, esse
tempo já terá passado.
O país já entrou numa zona irreversível,
já pouco ou nada resta, já pouco ou nada haverá a fazer, a menos que algo
extraordinário aconteça.
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