sexta-feira, 14 de abril de 2017

III   REPÚBLICA: O VIRAR DA PÁGINA (II)
 
A inoperância do sistema partidário e a sua ineficácia na formação de alianças

 
Feita uma síntese da situação portuguesa e das causas gerais que estão a inviabilizar o progresso e desenvolvimento do país, importa agora escalpelizar os elementos bloqueadores.
O objectivo a que me proponho, visa identificar esses elementos, os elos críticos,  caracterizá-los e apontar caminhos e soluções.
A entrada em cena de novos actores da farsa política, radicalizados em utopias do passado e bem visível em países onde foram aplicadas, como a Venezuela, o Brasil, a Coreia do Norte ou Cuba, entre outros, nada de bom acrescentou ao sistema político português, antes pelo contrário, destruiu e está a destruir valor.
Um partido socialista que, aparentemente de génese social-democrata, protagonista activo de três bancarrotas, se antes se fechava a reformas das instituições, por obstinação ideológica, agora está blindado e barricado nessas mesmas opções.
Opções fulcrais, essenciais, fundamentais, para quem legitimamente deseja a prosperidade e o desenvolvimento do país.
Um partido dito social-democrata que, mau grado a herança socratista que teve de enfrentar, entrou em colapso, em crise de identidade, num desnorte perigoso para a democracia portuguesa.
E destes dois partidos, de matriz ideológica muito próxima, um deles está a mais na cena política, constituindo a sua alternância no poder, um dos grandes impasses da democracia e do desenvolvimento do país.
Deviam fundir-se, ou um deles desaparecer. Há partidos a mais em cena, que não governam nem deixam governar. Sempre apostaram na alternância de poder, de cargos, de clientelas.
E, no espectro político português, um partido de génese democrata-cristã o Centro Democrático e Social (CDS-PP), forçado a uma posição residual, de apoio, apenas quando necessário aos partidos impropriamente chamados do «Centrão», por via de um excesso de partidos, próximos ideologicamente e originando uma perigosa dispersão de votos do eleitorado, o que não abona nada em favor da estabilidade e nas políticas e estratégias governativas.
E, tanto é assim que, por sobreposição ideológica de uns, outros partidos com referencial ideológico próprio e com grande potencial de competências, ficam praticamente excluídos da governação, o que na prática representa mais uma oportunidade perdida para o país.
As tentativas de coligação, umas funcionaram outras não. Em quase todos os casos, o exercício da governação foi difícil, por um lado, pela oposição destrutiva da esquerda, como sempre acontece quando partidos da direita entram em cena, e por outro o falhanço foi o vector dominante, por incompetência, por oportunismo, por demagogia, pela retórica e pelo amadorismo.
As tentativas de Acordos de Regime não funcionaram. O radicalismo, o fanatismo ideológicos, aleados à necessidade de agradar às clientelas partidárias com receio do preço bem alto a pagar em votos perdidos, impediram tal desiderato.
Mais um factor de instabilidade e de estagnação do país e de crise da democracia.
O país, está, portanto, cativo do sistema que criou: dos partidos que não se entendem, que se digladiam em meras lutas pelo poder e de uma democracia dita representativa, mas que na verdade distorce a representatividade da população no Parlamento, apenas representa a expressão partidária de interesses próprios.
O país está, em suma, cativo, de um sistema que não consegue identificar, equacionar e deduzir soluções para os grandes desafios nacionais do progresso, do desenvolvimento e do bem estar social da sua população.
O país, vive assim, em crise permanente de regime, de sistema, de democracia, das Instituições.
O radicalismo ideológico aliado à inoperância e dificuldade do sistema partidário em formar alianças e acordos de regime e a consequente falta de mobilização para a causa comum dos superiores interesses do país, em conjugação com uma substancial parte de população inconsciente, mal informada e sem verdadeiro conhecimento da situação do país e do que verdadeiramente lhe interessa, constituem, no seu conjunto, uma das principais fragilidades da democracia portuguesa.
E esta fragilidade tem sido, desde sempre, a principal causa limitadora e inviabilizadora das reformas necessárias para o estabelecimento das bases do relançamento e progresso do país.

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