III
REPÚBLICA: O VIRAR DA PÁGINA (II)
A inoperância do sistema partidário e a sua ineficácia na formação
de alianças
O objectivo a que me proponho, visa identificar esses elementos,
os elos críticos, caracterizá-los e apontar
caminhos e soluções.
A entrada em cena de novos actores da farsa política,
radicalizados em utopias do passado e bem visível em países onde foram
aplicadas, como a Venezuela, o Brasil, a Coreia do Norte ou Cuba, entre outros,
nada de bom acrescentou ao sistema político português, antes pelo contrário,
destruiu e está a destruir valor.
Um partido socialista que, aparentemente de génese
social-democrata, protagonista activo de três bancarrotas, se antes se fechava
a reformas das instituições, por obstinação ideológica, agora está blindado e
barricado nessas mesmas opções.
Opções fulcrais, essenciais, fundamentais, para quem legitimamente
deseja a prosperidade e o desenvolvimento do país.
Um partido dito social-democrata que, mau grado a herança
socratista que teve de enfrentar, entrou em colapso, em crise de identidade,
num desnorte perigoso para a democracia portuguesa.
E destes dois partidos, de matriz ideológica muito próxima, um
deles está a mais na cena política, constituindo a sua alternância no poder, um
dos grandes impasses da democracia e do desenvolvimento do país.
Deviam fundir-se, ou um deles desaparecer. Há partidos a mais em
cena, que não governam nem deixam governar. Sempre apostaram na alternância de
poder, de cargos, de clientelas.
E, no espectro político português, um partido de génese
democrata-cristã o Centro Democrático e Social (CDS-PP), forçado a uma posição
residual, de apoio, apenas quando necessário aos partidos impropriamente
chamados do «Centrão», por via de um excesso de partidos, próximos
ideologicamente e originando uma perigosa dispersão de votos do eleitorado, o
que não abona nada em favor da estabilidade e nas políticas e estratégias
governativas.
E,
tanto é assim que, por sobreposição ideológica de uns, outros partidos com
referencial ideológico próprio e com grande potencial de competências, ficam
praticamente excluídos da governação, o que na prática representa mais uma
oportunidade perdida para o país.
As tentativas de coligação, umas funcionaram outras não. Em quase
todos os casos, o exercício da governação foi difícil, por um lado, pela
oposição destrutiva da esquerda, como sempre acontece quando partidos da
direita entram em cena, e por outro o falhanço foi o vector dominante, por
incompetência, por oportunismo, por demagogia, pela retórica e pelo amadorismo.
As
tentativas de Acordos de Regime não funcionaram. O radicalismo, o fanatismo
ideológicos, aleados à necessidade de agradar às clientelas partidárias com
receio do preço bem alto a pagar em votos perdidos, impediram tal desiderato.
Mais
um factor de instabilidade e de estagnação do país e de crise da democracia.
O país, está, portanto, cativo do sistema que criou: dos partidos
que não se entendem, que se digladiam em meras lutas pelo poder e de uma
democracia dita representativa, mas que na verdade distorce a
representatividade da população no Parlamento, apenas representa a expressão
partidária de interesses próprios.
O
país está, em suma, cativo, de um sistema que não consegue identificar,
equacionar e deduzir soluções para os grandes desafios nacionais do progresso,
do desenvolvimento e do bem estar social da sua população.
O
país, vive assim, em crise permanente de regime, de sistema, de democracia, das
Instituições.
O
radicalismo ideológico aliado à inoperância e dificuldade do sistema partidário
em formar alianças e acordos de regime e a consequente falta de mobilização
para a causa comum dos superiores interesses do país, em conjugação com uma
substancial parte de população inconsciente, mal informada e sem verdadeiro
conhecimento da situação do país e do que verdadeiramente lhe interessa,
constituem, no seu conjunto, uma das principais fragilidades da democracia
portuguesa.
E
esta fragilidade tem sido, desde sempre, a principal causa limitadora e inviabilizadora
das reformas necessárias para o estabelecimento das bases do relançamento e
progresso do país.
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