domingo, 16 de outubro de 2011

OS GRANDES ERROS DA REVOLUÇÃO DE 1974 - PARTE I

O drama do  Portugal da III República, começa aqui

É bom não perdermos a memória, porque os erros pagam-se caro!



Em 24 de Abril de 1974, véspera da revolução, ainda militar, encontrava-me colocado no antigo Regimento de Caçadores Pára-quedistas em Tancos, hoje Brigada Aerotransportada.

Tinha chegado, há poucos meses, de uma comissão militar na Guiné e já estava nomeado para nova comissão, agora em Moçambique.

Nem se chegava a «a aquecer o lugar»! Era assim, nos tempos da guerra colonial!

Tinha a graduação de capitão. Era, portanto, na altura da revolução um capitão em Abril, mas friso, não de Abril.

 Não participei activamente no golpe de Estado que decorreu na madrugada de 24 para 25 de Abril de 1974, cujas senhas (em linguagem militar senha quer dizer o código secreto porque se inicia uma operação militar), como sabemos, era a Canção «E depois do Adeus» para o arranque dos preparativos e a canção «Grândola Vila Morena» para o início das operações.

Estava, no entanto, ao corrente, das actividades que antecederam o golpe, através de reuniões periodicamente havidas na minha Unidade.

Sei porque falhou o 16 de Março desse ano ( o golpe para derrubar o regime, era para ter ocorrido na noite desse dia).

Assisti ao desespero de camaradas meus, chorando ao balcão do Bar de Oficiais do Regimento, lamentando a falha do golpe.

Mas, o golpe acabaria por ser consumado pouco mais de um mês depois.

As motivações para o golpe, por parte dos militares, eram de ordem profissional (questões de carreiras) e o drama da guerra colonial que, passados treze anos não tinha solução à vista, obrigando militares e famílias a pesados sacrifícios.

Todos reconheciam a falta de visão do poder político da época, paralisado entre a espada e a parede.

Aquilo tinha de ter uma solução política.

E, perante a pressão da sociedade e de pessoas esclarecidas da época que apontavam soluções, sem guerra, designadamente a solução autonómica (semelhante à dos Açores e da Madeira) que os nossos adversários (nunca considerámos os combatentes africanos das antigas colónias como inimigos, é bom frisar isto; éramos adversários por força das circunstâncias) aceitavam, sem excluir a hipótese de uma independência futura, mas que salvaguardaria os principais interesses de Portugal, o poder político, tendo à cabeça Marcelo Caetano (1º Ministro) que sucedeu a Salazar, começava a dar sinais de alguma receptividade a essas soluções.


O primeiro erro da Revolução de 1974, podemos encontrá-lo aqui.


Os mentores do então Movimento das Forças Armadas, principalmente os da sua ala mais radical (conotados com os Partidos Comunista e  Socialista), não se mostraram nada receptivos a negociações com o poder político e, como radicais que eram, optaram por uma solução radical, arrastando consigo toda a facção moderada do MFA,  aberta a negociações, precipitando o golpe.

Pela avaliação que fiz, na altura e porque estava dentro de toda a problemática envolvida, era tudo uma questão de tempo.

O poder político acabaria por ceder, mais cedo ou mais tarde e uma solução para o problema africano, teria sido encontrada e com ela a total abertura para uma democracia plena de que, diga-se na verdade, Marcelo Caetano chegou a ensaiar os primeiros passos.

Foi esta a posição que sempre defendi nas reuniões de Unidade, que antecederam o golpe e que muitos oficiais moderados igualmente defendiam. Destes, alguns defendiam ainda o golpe, mas com a condição de, substituído o poder político, se encontrasse uma solução negociada do problema africano que defendesse dignamente os interesses de  Portugal, designadamente uma solução autonómica de desenho a definir entre todas as partes interessadas.

Estavam entre os que defendiam esta posição, o General António de Spínola, mas só depois de esgotadas todas as tentativas de negociação com o poder político da época.

O que se seguiu ao golpe de 25 de Abril, liderado por militares radicais de esquerda, foi uma desastrosa revolução.

 A revolução de 25 de Abril de 1974, começa portanto aqui, com um enorme desastre para o país e para os povos africanos das antigas colónias.

As consequências imediatas, foram dramáticas:

- Entrega das colónias sem condições e sem negociações que salvaguardassem minimamente os interesses de Portugal e dos diferentes Movimentos de Libertação;

- Um drama para as populações europeias (portugueses na sua maioria) radicadas em África que, sendo obrigadas a regressar de urgência a Portugal, porque abandonadas à sua sorte, deixaram tudo o que tinham fruto de uma vida inteira de labuta e trabalho, muitas delas tendo ficado na mais completa miséria.

- Décadas de guerras civis em Angola, Moçambique e Guiné, que custaram milhões de mortos às martirizadas populações africanas;

O que se seguiu aqui em Portugal, passado pouco tempo, foi a tentativa, de início bem sucedida, de implementar um regime comunista em Portugal, pela mão dos militares radicais de esquerda que precipitaram o golpe.

É o segundo grande  erro da revolução que, já nessa altura custou muito caro ao país,  aos portugueses e aos povos africanos das antigas colónias.

A reacção a esta tentativa pelos militares moderados pela operação do 11 de Março de 1975, liderada por António de Spínola,  foi rechaçada pelos comunistas e o processo de comunização do país continuou, agora livre dos moderados e de forma extremamente violenta.

É a época conhecida como do «Gonçalvismo», da «Batalha da Produção», do «Discurso de Almada», do «PREC (Processo Revolucionário em Curso) e da  «Democracia Carnavalesca», como lá fora era conhecida.

Era também a época das «Campanhas de Dinamização Cultural» levadas a cabo por militares radicais maoístas, trotskistas e marxistas-leninistas  e que visavam educar as populações portugueses do interior, com as lavagens ao cérebro destas ideologias e consideradas menos esclarecidas com os dogmas sagrados da revolução.

As consequências imediatas foram:

- Perseguição e saneamento dos militares moderados ou considerados pelos comunistas, conotados com o antigo regime;

- Prisões arbitrárias pelo COPCON ( o instrumento de repressão do regime) e ameaça de fuzilamento na Praça de Touros do Campo Pequeno, pelo utópico ideólogo de extrema-esquerda, Ten. Coronel Otelo Saraiva de Carvalho (o operacional do golpe) conhecida como a «Matança da Páscoa» e aconselhada por Fidel de Castro a quem Otelo pediu conselho, numa visita a Cuba.

- Governação do país por um Conselho da Revolução e por  um Triunvirato de Generais Comunistas de diferentes tendências.

- Nomeação de um Governo Provisórios chefiado por um General Comunista chamado Vasco Gonçalves, conhecido na gíria popular por «Vasco o Louco» ou «Camarada Vasco».

- Nacionalização de grande parte da economia, com destruição do aparelho produtivo e fuga dos empresários para o Brasil e outros países

- Esbanjamento e venda do ouro armazenado por Salazar durante meio século, para podermos sobreviver, perante a paralisação da economia  (Entre 1977 e 1978, venderam-se mais de 172 toneladas de ouro e o défice das empresas públicas era de 8,1% enquanto o  défice público global era de 13% em 1976, o maior desde 1920).

- Ataques terroristas pelas «Forças Populares 25 de Abril» com assassínio de empresários e apelo à sublevação armada do povo, com distribuição de armas à população;

- Instalação dos «Sovietes»  nas empresas nacionalizadas à boa maneira da revolução russa de 1917.

- Ameaça de invasão do país pelos EUA e pela França, perante a testa de ponte comunista que se estava a instalar nesta região mais ocidental  da Europa.

- O General Spínola (um dos moderados) foge do país de helicóptero e forma, no exílio, juntamente com o seu operacional, Comandante Alpoim Calvão, da Marinha, o MDLP (Movimento Democrático para a Libertação de Portugal), prometendo vir comer as «rabanadas» a Portugal, já no Natal desse ano.

Esta completa loucura, ficou conhecida como « Verão Quente de 1975» e destruiu uma grande parte da capacidade económica do país e a uma redução drástica das reservas de ouro, deixando-nos numa grande dependência do exterior e ameaça de invasão.

Tudo isto no espaço de pouco mais de um ano.

Este foi o terceiro grande  erro da revolução de 1974.

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