Ontem
fomos surpreendidos com a inédita iniciativa de Cavaco Silva, ao sugerir um
governo de coligação alargada ao Partido Socialista, em nome da estabilidade governativa
e da salvação do país. Iniciativa essa que contrasta, pela positiva, com a perigosa
inércia a que estávamos habituados e nem era já tolerada pela maioria dos
portugueses.
Em
nome da estabilidade porque, finalmente, reconheceu que o governo em funções
não está a dar, nem nunca deu, garantias de estabilidade e muito menos de
idoneidade e competência.
A fórmula encontrada por Pedro Coelho,
não satisfez o Presidente da República e não dá nenhumas garantidas de
estabilidade. É uma fórmula temporária, para além de carregada de riscos.
Demitido o grande cérebro, a exímia
competência técnica que iria salvar o país da hecatombe final, o saldo da sua
passagem pelo governo pautou-se pelo substancial agravamento da herança, já
dramática, do período socratista.
Demitiu-se, porque reconheceu o
falhanço da sua obstinação, do acreditar nas suas crenças, nas verdades
absolutas que julgava deter.
Este
governo, ainda em funções, resultou de eleições em 2011 e, pretensamente
legitimado pelo voto popular, acreditámos que estaria à altura de resolver a
gravíssima situação que nos foi deixada por José Sócrates de Sousa, que agora,
com o maior despudor e conivência da direcção da televisão pública, paga por
todos nós, que estamos a sofrer as consequências da sua irresponsável
governação, diz ter também a fórmula da
salvação, que ele próprio não foi capaz de aplicar ao país.
Os salvadores da Pátria e alguns até
do mundo, com as suas fórmulas mágicas, pululam
por todos os lados, vendendo os seu produtos, livros principalmente, a um povo
ainda muito incrédulo, ávido de quem o venha salvar, perante a evidência de que
D. Sebastião não à meio de aparecer na tal mítica manhã de nevoeiro.
Os
salvadores da Pátria aparecem sempre nestas alturas e, alguns, dizendo-se
portadores da verdade, da luz e da vida, imitando os textos bíblicos, passando-se
por profetas ou messias, a quem uma
entidade divina, lhes revelou, em sonhos, a Nova Boa Nova, afirmam ter a
solução milagrosa para os problemas de Portugal e de todo o mundo.
A
reacção do Partido Socialista não augura nada de bom.
Eleições
antecipadas são pura demagogia e ânsia de chegar rapidamente ao poder!
A
gravíssima situação de emergência nacional em que estamos mergulhados e
portanto incompatível com eleições, os riscos que o país irá correr são enormes
e pode atirá-lo definitivamente para o abismo.
Sem qualquer capacidade de
financiamento do Estado, do sistema bancário e do sistema económico em geral e
com o fecho da torneira do parco dinheiro que ainda vai pingando duma odiada
troika, mas que nos tem permitido sobreviver e que o pão ainda chegue à nossa
mesa, de uma forma ou de outra, o que iria ser de nós se, por obstinação e
ambição partidárias, do principal partido que, pelo seu cadastro, já nos brindou
com três bancarrotas, insistir, neste momento em eleições?
O
que iriam fazer os novos protagonistas? Nada que se conheça de concreto.
E
quem destruiu o país e nunca foi capaz de o colocar no rumo certo, que
autoridade e competência terá para, finalmente o colocar na rota da salvação? Quem
acredita nisso?
E
ainda por cima liderado por um indivíduo que veio da «jota» cor de rosa, que já
aprendeu a cartilha do discurso bem e estrategicamente conveniente e que, com
ele, pretende enganar os incautos,
inconscientes, binários e clubistas e nada se conhece desse personagem, quanto
a provas dadas o terreno.
E, como é mais que provável, os
parâmetros da dívida, dos juros a pagar pelo recurso ao financiamento externo
em curso, dispararem para valores nunca vistos e de ocorrer um «crash» na bolsa, com forte
desvalorização dos activos financeiros dos bancos, dos fundos investimento onde
investimos as nossas poupanças, das companhias de seguros e das grandes e
médias empresas?
Já se imaginou este cenário dantesco?
O Partido Socialista do inseguro Seguro, já pensou nisto? É melhor pensar antes
de precipitar o país numa calamidade sem precedentes e provavelmente sem retorno.
A
solução presidencial é um mal menor. Avaliando os custos e os benefícios,
facilmente se conclui que, de facto, é um mal menor. Mas será necessário
grandes cedências de parte a parte.
Mas essas cedências teriam de passar
necessariamente, no meu ponto de vista, para garantir a tão desejada
estabilidade, pelo afastamento de Coelho, a grande causa de todos os males.
Alguém, com perfil adequado, mais experientes e com provas dadas nas lides
políticas, vindo da área do PSD, substituiria Coelho. Uma boa solução seria Rui
Rio, que tem sido incansável em denunciar o sistema e até o regime.
A
solução alternativa, sem eleições, um governo de independentes de competência
técnica e simultaneamente política (condição necessária) , neste momento seria
o ideal, porque já ninguém acredita nestes partidos políticos, perante a sua
histórica e inegável incapacidade de governar o país.
Mas
esta solução não era isenta de riscos, pois que, mesmo havendo um acordo tácito
do sistema partidário e garantir apoio parlamentar, os partidos, considerando-se donos exclusivos
do sistema, nunca encarariam, com bons olhos, o reconhecimento da sua crónica
incapacidade. Seria um governo para três meses.
Eleições antecipadas trariam ainda um
outro elemento perturbador: a abstenção generalizada, de que, à boca cheia,
muitas camadas da população ameaçam recorrer, porque já perderam a esperança e
já não acreditam em nada.
E, quem ganharia com isso?
Não é difícil profetizar. Seriam as
esquerdas radicais, totalitárias, que tudo têm feito para destruir o que resta da
carcaça já esquelética deste velho país com quase mil anos de história, porque
sabem que só pelos escombros poderão impor a solução final. Se estas forças tiverem
protagonismo na governação, nem imaginamos o que virá a seguir.
Pior do que PREC de 1974.
Em nome da salvação, tenhamos cuidado,
que os tempos não são para erros e precipitações. Se não tivermos muito
cuidado, nas decisões que tomarmos, daqui para a frente, podemos ter à nossa espera,
um verdadeiro barril de pólvora cujo rastilho poderá já ter sido ateado.
É melhor não deixarmos a chama chegar ao barril…!
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