O regime inaugurado com o golpe
de estado de 1974 e continuado durante algum tempo, com uma revolução
protagonizada por forças antagónicas totalitárias, que se digladiavam pela
conquista do poder, bem se pode dizer que sempre viveu em crise permanente.
Crise de afirmação,
crise económica, crise financeira, crise social, crise de competências e
oportunismo dos governantes, crise do modelo de desenvolvimento, crise de opções
europeístas precipitadas, crise do
modelo de democracia (pseudo representativa), crise da desactualização da Lei Fundamental.
sem reforma à vista por teimosia partidária
Portugal tem vivido, durante os
quarenta anos de regime de Abril numa instabilidade permanente, resultante de
todos estes constrangimentos e restrições.
E de crise
em crise, num sistema bipartidário que se alterna no poder, apoiado apenas por menos de metade da população de eleitores, Portugal definha, a população empobrece, as desigualdades
aumentam na mesma proporção em que a riqueza se concentra nas mãos de uma
minoria astuta e oportunista, que bem soube explorar as crises.
O sistema globalizado das
economias mundiais, criou novos problemas aos países mais débeis como o nosso, colocados perante uma luta desigual,
sujeitando-os às mesmas regras.
Com a adesão à União Económica e
Monetária e com a assinatura dos Tratados de Maastricht, Nice e Lisboa, Portugal
perdeu praticamente todos os instrumentos de soberania de que dispunha, ficando
sujeito, a partir daí, ao cumprimento obrigatório de regras ditadas por centros
de decisão europeus.
De tal forma
que, hoje, Portugal dispõe de menos soberania do que qualquer estado federado
norte-americano.
Tudo foi
consumado e congeminado à revelia do povo português, mas acabou ser este a
grande vítima destas opções europeístas precipitadas.
Não cuidámos
sequer, de manter um mínimo de reserva de soberania, que nos permitisse salvaguardar
a nossa dignidade como Nação, em momentos julgados oportunos.
Ficámos completamente à mercê de
decisões tomadas por instâncias europeias, por iniciativas irracionais de
eurocratas, das regras económicas e financeiras da globalização do mundo e cujos
agentes, instalando-se cá dentro, no nosso território, devoram tudo o que é bom
e tem valor, da voracidade maior ou menos dos mercados financeiros, para nos
financiarmos e no limite deste processo, a meros fornecedores de mão de obra
barata, ao serviço dos novos senhores do mundo.
No meio de tudo isto e cá dentro,
campeia o salve-se quem puder, o oportunismo, a maçonaria do tráfico de
influências e onde se movem os actores do sistema político e os que não
conseguem acompanhar este ritmo, ficam irremediavelmente para trás,
confinando-se à pobreza e à miséria.
Os actores
políticos de sempre digladiam-se pela disputa do poder, exploram a simplicidade
e a incredulidade do povo, tentam assassinar os adversários que ganham alguma
visibilidade, rotulando-os agora com o novo nome do fascismo, o populismo, eles
que sempre foram os mais demagogos e populistas de sempre.
A luta fratricida pelo poder
atinge os próprios actores políticos da mesma cor.
Costa contra Seguro, Seguro
contra Costa.
Na sombra, o grande predador do
sistema e que atirou Portugal para a pior bancarrota de sempre, espreita a sua
nova oportunidade: ser Presidente da República.
Cenário provável, se Costa vencer
a contenda pelo poder.
Seria a
cereja em cima do bolo e o culminar de um regime, maçónico, corrupto e mafioso.
O Portugal de
hoje é tudo isto.
Um país à
deriva sem uma estratégia de futuro, sem soberania, dominado por oportunistas e
resignado aos novos mandarins da Europa e do Mundo.
Que futuro
nos reserva? Ninguém tem resposta para esta pergunta, tal a camisa de onze
varas em que estamos metidos.
Mas, uma coisa é certa, se nada
fizermos nada mudará, ou tenderá a piorar.
Se queremos ainda ter esperança
de um futuro digno, é preciso agir, é preciso pegar o touro pelos cornos,
enfrentá-lo com determinação e começar desde já com a revisão dos anacrónicos Tratados
Europeus e com a renegociação da dívida do país, que nos devolva a tal reserva de soberania que
possa garantir o grau de liberdade necessário e as condições para planearmos livremente
o nosso futuro colectivo.
Mas é preciso também julgar a
história, para que os protagonistas deste enorme desastre nacional, não fiquem
impunes, imputando-lhes apenas responsabilidades políticas que, como estamos a
assistir, nem estas lhes têm sido atribuídas.