sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O1640 DE 2014

Paulo Portas, sempre com o seu enigmático sorriso afivelado, vice-primeiro ministro irrevogável de um país imprevisível, uns meses antes da saída da troika, não se cansava de anunciar à Nação, que o 17 de Maio deste ano (data da saída da troika), seria um segundo 1640, dia da libertação de Portugal da ocupação do opressor estrangeiro.
 
Tudo tinha corrido pelo melhor, o país estava, finalmente, no bom caminho, a economia crescia, as contas públicas equilibradas, a dívida reduzida e o sistema financeiro estabilizado, com todos os testes de stress superados.
Era o paraíso que se anunciava,  champanhe do melhor, já tinha sido encomendado, para regar a já esperada grande «bouffe».
 
E, para espanto dos credores internacionais e de nós também, até se prescindiu da última tranche da ajuda internacional, tal a ânsia de libertação dos opressores que, se a tivéssemos aceitado, nos obrigariam a novas medidas de austeridade, face ao descambar da situação, bem patente no relatório da penúltima avaliação.
Tudo bem disfarçado e ocultado da opinião pública.
 
Mas, mais uma vez, nos iludimos.
Um governo de mágicos, especialista em truques, conseguiu ludibriar, em muitas avaliações, a situação real do país.
As grandes reformas de fundo não foram feitas e, se o tivessem sido, num período de três anos, não só teria minimizado a austeridade exigida essencialmente aos cidadãos mais vulneráveis, como teria contribuído para a criação das bases de partida para colocar o país numa trajectória de sustentabilidade e até lograr algum desenvolvimento.
 
Para o governo, o que era preciso era libertar-nos daquela gente mal encarada que não nos deixava por o pé em ramo verde.
Ansiava-se pela rédea solta, para fazermos o que nos aprouvesse e apetecesse.
 
Sempre estive convicto de que, depois da saída da troika, que nos obrigou, por nossa exclusiva culpa, porque não nos sabermos governar e nem nos deixarmos governar, mas apenas eles se governam, a convulsão, a agitação social, o oportunismo político e a tentativa de derrubar o governo,  dito reaccionário da direita, voltariam em força, repetindo-se o histórico ciclo de Abril.
 
O partido do regime prepara-se para assumir o poder, com dois gladiadores em campo, vibrando ruidosamente os seus gládios.
As massas assistem à contenda e agitam-se de um lado e do outro, vibrando e gritando ao ritmo de cada golpe audacioso dos gládios.
Julgam que o principal do trabalho sujo, que tinha de ser feito, como sempre aconteceu no ciclo de Abril e pedido às  forças, ditas da direita reacionária (no léxico de Abril), chamadas de emergência,  fruto do descalabro passado do partido do regime, já está praticamente concluído.
 
Os gladiadores enganam-se e nem sabem o que os espera.
As mordomias, a rédea solta, os Mercedes de portas abertas pelos Ambrósios do regime, algo apetecível por estes barões da ditadura democrática, não compensará desta vez, não vingará, contrariando a sinistra estatística de Abril.
 
O 1640 anunciado por Portas, revela agora a sua verdadeira fragilidade e a sua verdadeira dimensão:
- O défice incontrolável, a dívida a subir para níveis surrealistas, inimagináveis, a economia estagnada, ainda no fundo do  fosso em que já tinha caído de 7% (é bom não nos esquecermos deste pequeno/grande pormenor), um sistema financeiro no «fio da navalha» de que o BES e o seu Grupo, são apenas a ponta do iceberg, a pobreza a alastrar, a natalidade a cair cada vez mais, ameaçando a renovação equilibrada da população, a emigração a disparar, os sistemas de segurança social cada vez mais deficitários, a ilusão falsa da queda do desemprego, a retoma das empresas a falir, a falência das autarquias, das empresas municipais, das empresas públicas, o degradar dos sistemas de saúde e educação, em suma, um país a caminhar definitivamente para o abismo.
 
É este o paraíso anunciado pelo 1640. É este o paraíso anunciado pelos novos Joãos Coitos do regime de Abril, comentadores oficiais das televisões de serviço, verdadeiros Ambrósios do «apetece-me algo»…
 
E assim vai Portugal, um país descredibilizado internacionalmente, onde se sucedem escândalos atrás de  escândalos, onde a percepção do risco é cada vez maior, seja para o que for e por isso, com as cotações de rating situadas ao nível de lixo.
Uma vergonha para todos nós.
Um país, onde as grandes reformas de fundo são uma impossibilidade.
 
Um país à deriva, sem eira nem beira, onde a par da incompetência e do oportunismo  dos falsos políticos e da demagogia dos Ambrósios, meros servidores do regime, campeia a máfia, o banditismo e o salve-se quem puder, pondo em causa a sobrevivência deste país quase milenar.

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