quinta-feira, 30 de março de 2017

À ESQUERDA PORTUGUESA: SE ASSUSTAM A DIREITA, NUNCA HAVERÁ ESQUERDA

 


 
 
Embora pessoalmente não concorde com a dicotomia esquerda e direita e sobretudo com as conotações enviesadas que lhes estão associadas, gostaria de analisar este tema, usando esta equação redutora.
Se a esquerda pretende representar o trabalho e a direita o capital, temos reunidas as duas variáveis básicas daquilo que em Micro Economia se chama uma Função de Produção.
De facto, o trabalho e o capital são os dois ingredientes básicos necessários para se produzir bens e serviços, com valor económico e, recuando um bom bocado no tempo, aos tempos de Marx e Engels, podemos associar esta relação entre o capital e o trabalho àquilo a que aqueles autores chamavam de «Relações de Produção».
Uma relação de produção não é mais do que a junção de capital (dinheiro investido em bens produtivos) e trabalho (mão de obra) e , de uma forma simplista, é desta relação de entendimento entre estes dois domínios, que resultam os bens e serviços com os quais satisfazemos as nossas necessidades.
E, obviamente, se esta relação funcionar mal, temos comprometida a satisfação das nossas necessidades e com ela toda a nossa arquitectura de vida.
Por isso já Marx e Engels, associavam ao sucesso desta relação, a própria arquitectura da sociedade, isto é, à forma como nos associamos, vivemos, planeamos a nossa carreira e até certo ponto a construção da nossa felicidade individual ou colectiva.

O que de facto é fundamental é que, nas sociedades modernas, será sempre necessária a intervenção destes dois elementos e, para que haja progresso, desenvolvimento e prosperidade, esta relação tem de estar muito bem afinada e haver um clima de bom entendimento.
Se houver um desequilíbrio para qualquer dos lados, a relação está comprometida e tudo pode ser posto em causa.
Chegámos assim, ao ponto fulcral:
A esquerda reivindicativa tudo tem feito, através de Sindicatos, Corporações e Partidos, para chamar a si uma boa parte dos rendimentos gerados pelas empresas e, protegidos por uma Constituição desequilibrada apenas em seu favor, têm-no de certo modo conseguido.
E essas conquistas do Abril revolucionário, passaram a se conhecidas nos anais da nossa história como « Direitos Adquiridos» e por isso ainda se proclama o slogan abrilista «25 de Abril Sempre!» pelos grandes beneficiados do Regime.
Por outro lado o próprio Estado, também protegido pela Constituição, igualmente desequilibrada em seu favor, tudo tem feito para, através de impostos e contribuições sociais , também em geral em favor dos trabalhadores (protecção no desemprego, reforma, saúde, etc. ) e para permitir a sua expansão desmesurada, chamar a si, outro bom quinhão dos rendimentos gerados pelas empresas.
Numa economia débil como a nossa, esta pressão permanente da esquerda e do Estado, numa concepção ideológica igualmente de esquerda, sobre a direita, teve como resultado final uma significativa descapitalização das Pequenas e Médias Empresas.
Ou seja, numa economia de mercado, se um das partes ou outras intervenientes na distribuição do rendimento, exercer demasiada pressão a seu favor, em detrimento da outra, o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro, ocasionando uma escassez de rendimento e consequentemente assimetrias e grandes injustiças e por outro lado agravar a escassez de capital para investir ou reinvestir.
E com toda a legitimidade perguntamos: não teria sido preferível a moderação, o equilíbrio e o realismo, tentando perceber o que está em causa numa relação de produção?
Mas há infelizmente mais, muito mais que, se tivesse a veleidade de o descrever aqui, nunca mais acabaria esta reflexão.
O que penso sobre tudo isto é que, este sistema económico e social em que vivemos, que não é capitalismo nem comunismo, que aposta na descapitalização das empresas e servindo-se dos empresários como meros instrumentos e marionetas duma gestão e intervenção públicas, como não há memória, conduziu o país à estagnação e ao subdesenvolvimento.
E, presta-se também ao «salve-se quem puder», isto é, à esperteza daqueles que, por mais apertado e asfixiante que seja o sistema, haverá sempre forma de o contornar e ludibriar.
É preciso, por isso, clarificar o sistema, ajustar e redesenhar o modelo de desenvolvimento, numa perspectiva sólida e equilibrada de produção e distribuição e todos possamos começar a trabalhar conhecendo as regras do jogo e com o que podemos contar.
Com este governo de socialistas radicais e comunistas, tal não será possível, pois o seu referencial ideológico não lhe permite ir além da rigidez dogmática, utópica e ultrapassada.
A esquerda portuguesa tem de perceber, tem de compreender que não é o Estado-tutela nem o dogma ideológico  que produzem e criam riqueza, são as empresas e os agentes económicos em geral.
E só estes poderão contribuir para a melhoria do nível de vida dos trabalhadores, de nós todos.
A tal Relação de Produção, a partir da qual tudo se define e tudo se estrutura, tem de estar equilibrada entre as partes envolvidas (a esquerda e a direita),
Riqueza tem de ser distribuída com justiça, racionalidade e equilíbrio, entenda-se.
Que soluções alternativas propõem? Comunismo? Marxismo-Leninismo? Trotskismo?
Isso, porventura, é solução para o nosso país? Ou para qualquer país do mundo, nos actuais contextos?

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