terça-feira, 14 de setembro de 2010

CUBA: DOS ÚLTIMOS REDUTOS

O caso de Cuba é verdadeiramente paradigmático e exemplar, em matéria de aplicação da ideologia comunista em algumas regiões do mundo.

As notícias que chegam daquelas paragens da América Central, são verdadeiramente bombásticas e dignas de uma reflexão e ponderação aprofundadas, por quem ainda acredita nas virtudes do comunismo.

Chegou tarde, mas chegou. Levou tempo, muito tempo, para que Fidel Castro, reconhecesse o erro colossal em que incorreu e com ele arrastasse todo um povo!

Com ele, cometeram-se barbaridades, fuzilamentos, perseguições políticas, presos sem conta, por delito de opinião, emigração forçada para os EUA, muitas vezes acabando de forma trágica no mar do estreito da Flórida!


Para quê? Em nome de quê?
São perguntas sem resposta...porque, de facto, não têm resposta!

O que é facto, é que um dos últimos redutos do comunismo mundial, caiu, finalmente.
Mas, o que é surpreendente, inédito mesmo, é o facto de ainda em vida, o grande ideólogo e comandante da revolução cubana, ter reconhecido o erro, quando tudo previa que o regime só cairia, após a sua morte.

Não foi por acaso que o líder, mesmo em recuperação de prolongada doença, mobilizou forças para ir ao Parlamento Cubano, proferir um discurso ao seu estilo, mas muito mais moderado.

Não tardou a boa nova, após este discurso.

O seu irmão, regente do regime, por impedimento do comandante, anuncia reformas no sistema económico, sendo a partir agora permitidos os sectores privado e cooperativo, juntamente com o público, o único permitido até aqui.

Isto significa que, a partir de agora, os cidadãos cubanos e não só, poderão criar empresas privadas, por sua livre iniciativa e também poderão organizar-se em Cooperativas de produção, comerciais ou de serviços, igualmente por sua livre iniciativa.

Este facto, reconhecido agora em Cuba, já o tinha sido na China, pós-Mao Tsé Tung, há mais de três décadas.

E o resultado da mudança na China, está bem à vista de todos.
A China é hoje, nada mais nada menos, do que a segunda economia mais desenvolvida do mundo, apenas superada pela dos Estados Unidos da América e apenas por enquanto.

Se compararmos a China comunista dos tempos da revolução cultural e dos guardas vermelhos de Mao Tsé Tung, podemos avaliar a dimensão do milagre.

Foi a renúncia ao sistema comunista, limitador e castrador da livre iniciativa e criatividade humanas, que permitiu o milagre. E ele aí está para espanto e surpresa de todo o mundo.

Vai acontecer o mesmo com Cuba, tenho a certeza, tal aconteceu com a China e com a antiga União Soviética, agora limitada à Rússia.

Cuba, se souber gerir bem o novo sistema, se aproveitar da melhor forma as suas potencialidades económicas, que são muitas, desde o turismo aos recursos agrícolas e à capacidade criadora do seu povo, daqui a dez anos ninguém a vai conhecer.

Oxalá consiga este desiderato, estou absolutamente certo que sim, e que o povo cubano, que tanto sofreu durante mais de meio século, sob um regime ignóbil, tenha agora a sua oportunidade de prosperar e ser feliz.

Mas há uma lição a tirar. Mais uma lição!

Mais uma vez o erro cometido em Cuba e que em geral é cometido em todas revoluções, quando se substitui um sistema social e económico, considerado ultrapassado, mas localizado num extremo, por outro considerado melhor, há sempre tendência em localizá-lo no extremo oposto.

Aconteceu em Cuba, aconteceu na Rússia dos czares, aconteceu na China, na Coreia, no Vietname, no Laos, no Chile de Pinochet e também ensaiada em Portugal com a revolução de 1974, decorrendo ainda, neste preciso momento, em muitas regiões do mundo, guerrilhas armadas tentando impor pela força, regimes semelhantes aos implantados naqueles países.

Todas estas revoluções que saíram de um extremo e se colocaram no outro extremo, tiveram custos gigantescos em vidas humanas sacrificadas e em sistemas económicos e sociais destruídos.

Só em vidas humanas custaram dezenas de milhões de mortos.

E novamente a pergunta.
Para quê? Em nome de quê?

E a pergunta continua a não ter resposta, a não ser a justificação dos respectivos mentores e ditadores de que estas revoluções foram feitas em nome do povo e para bem do povo. Qual povo pergunta-se?

Valeu a pena o sacrifício de milhões de vidas em nome desta justificação injustificada ou da loucura paranoica destes ditadores?

É óbvio que não!

E o erro cometido é sempre o mesmo: CAIR NO EXTREMO OPOSTO!

Também é óbvio que, se o sistema anterior que a revolução substituiu, por estar ultrapassado e localizado num extremo, era mau, também será mau se o novo sistema se situar no extremo oposto.

E como tal, mais tarde ou mais cedo irá cair, por ser danoso e inconveniente para o povo.

E nova revolução surgirá! Sempre em nome do mesmo povo!

Conclui-se, portanto, que as revoluções, são, pela sua própria natureza, extremistas e que será sempre conveniente, quando um sistema é susbstituido por outro, os protagonistas dessa mudança, não caírem na tentação dos extremismos.

A história que todos devíamos conhecer e em particular os mentores de revoluções, ensinou-nos, de forma dramática que, não compensa cair-se em extremos, não só os custo serão enormes, como o resultado final do processo, será idêntico ao que prevalecia no sistema anterior. O saldo será zero!

Por isso as revoluções do século XXI deveriam ser todas pacíficas, sem derramamento de sangue, sem perseguições políticas, procurando-se substituir o sistema anterior, não de forma radical, mas progressiva, introduzindo melhorias e reformas e nunca, em circunstância alguma, cair-se em extremos.

Em nome e em honra da história, deverá ser assim para o futuro.

Portugal, com a revolução de 1974, também ensaiou uma experiência semelhante, e até aconselhada por Fidel de Castro (estiveram previstos fuzilamentos na Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa, se bem nos recordamos, os que viveram estes acontecimentos) mas, felizmente foi gorada a tempo de se evitar uma catástrofe.

Mas, algo ficou dessa experiência revolucionária e a nossa cultura de esquerda foi adquirida desses tempos e ainda prevalece.

Nota-se uma tendência para os extremos em quase tudo: na educação, na justiça, na economia, no papel do Estado, nos valores sociais, no papel da Família, e noutras áreas.

Por isso, se não invertermos a tempo esta tendência, procurando equilíbrios, corremos o risco da desagregação económica e social, do aparecimento de tensões sociais e com elas a novas revoluções.

É tempo de Portugal aprender com a História!

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