Com toda a franqueza não esperava uma manifestação espontânea (sem ser convocada por partidos ou sindicatos) com a dimensão da que se realizou hoje.
Foram quase trezentas mil pessoas só em Lisboa!
Mas foi extensiva a todo o país!
Foi a prova incontestável de que a insatisfação é geral, mas também a prova de que os portugueses são capazes de se mobilizar, de responder à chamada, de fazer ouvir a sua voz, em suma, de afirmarem a sua indignação pelo que está a acontecer ao seu país.
Não foram apenas os novos, a «geração à rasca», mas foram também idosos e de meia idade, as pessoas que se manifestaram, porque todos estão a sofrer na pele as consequências do imobilismo e da incompetência do poder instituído.
Chamou-me a atenção uma frase, proferida por uma senhora, que expressava grande indignação:
- Isto está a bater no fundo, é preciso parar…!
É verdade, isto está mesmo a bater no fundo e é preciso parar. É preciso mudar!
Mas, já devia ter parado há muito tempo, já devia ter parado o imobilismo, a incompetência e a incapacidade de fazer as reformas estruturais, que tinham impedido que chegássemos a esta situação de verdadeira emergência nacional.
Mas, é bom que se diga, a culpa também foi nossa, mais concretamente do eleitorado que, teimosamente, inconscientemente, durante décadas de regime democrático, colocou no poder os responsáveis pela situação de calamidade nacional em que o país se encontra e a maioria da sua população.
Mas, parte da culpa também tem de ser atribuída ao eleitorado abstencionista que, negando-se sistematicamente a cumprir as suas obrigações cívicas, também contribuiu para colocar no poder os responsáveis por esta situação.
Todos esperamos que os portugueses, de uma vez por todas, compreendam três coisas:
1ª - Que é importante votar. O voto é a grande arma que pode fazer mudar as coisas. A abstenção pode ser muito prejudicial a uma democracia.
2ª - Que é preciso votar em consciência, responsavelmente, e saber distinguir quando um governo governa mal e quando governa bem. E quando governa mal, tem de ser penalizado quanto antes, antes que males piores possam acontecer.
3ª - Que é preciso abandonar o clubismo partidário ( o partido que julgamos defender os nossos interesses de classe) pois, quando governa mal, não está a defender os nossos interesses, mas outros que nos são alheios.
Os partidos não são clubes de futebol. Temos de mudar de clube, quando for necessário, é assim em democracia. Só assim podemos mudar o rumo do país.
Que a dolorosa lição seja, finalmente, aprendida.
Acordámos demasiado tarde. Foi pena não nos termos apercebido do abismo para onde caminhávamos e para onde nos estavam a empurrar.
A recuperação do país vai levar, seguramente, mais de uma década, com muitos sacrifícios e privações para a grande maioria de nós, pois a minoria que beneficiou com a situação, essa vai continuar a «vender lenços para enxugar as lágrimas aqueles que estão a chorar amargamente…»
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