Para nos situarmos e reportando-nos aos artigos
anteriores, o que se pretende nesta abordagem é chegar a um modelo de sociedade
que se distinga do anterior, pela evolução, diria mesmo, pela transposição
civilizacional, no sentido de alcançar um patamar mais elevado de
desenvolvimento, entendido este, não apenas no sentido económico, mas em todas
áreas relevantes da vida do Homem em sociedade.
E essa transposição, visa alterar profundamente os modelos do passado
que, baseando-se no papel centralista e intervencionista do Estado, se pautaram
pelo mau desempenho económico, na maioria dos casos, pelo ruir dos sistemas
sociais, pela adopção de padrões sociais de vida que conduziram à decadência e
desagregação das sociedades, ao défice ético, moral e demográfico das nações e à
conduta corrupta dos seus agentes.
A maioria do agregado social, os destinatários
destes sistemas, porque assumindo a qualidade de governados e portanto a parte
mais fraca, ludibriadas, esmagadas no bem estar social e no limite, dependentes
e oprimidas.
O termo «socialista» está, na maior parte dos
casos, associado a estes modelos, na antiga União Soviética, em Cuba, na Coreia
do Norte, na China (com dois sistemas, um
regime), para referir apenas alguns de natureza totalitária, mas associado a estes regimes, também os chamados
democráticos de natureza mista que, evoluindo no sentido negativo, conduziram
na prática a oligarquias ditatoriais, baseadas numa trilogia de poderes
dominantes: estatal, político e económico.
Por isso, procuro evitar o termo «socialista»
nesta abordagem, preferindo o termo SOCIAL, a que podemos chamar uma forma mais
evoluída de gerir as sociedades.
O nosso objectivo é chegar a uma sociedade MENOS SOCIALISTA, no
sentido tradicional, mas MAIS SOCIAL E DESENVOLVIMENTISTA, como forma mais
evoluída, mais equilibrada e mais justa de sociedade.
Como vimos também, no primeiro artigo desta
série, a forma como se vai estruturar a RELAÇÃO CAPITAL – TRABALHO, é
determinante nesta abordagem pois que, dela depende, assim como da
complementaridade do papel do Estado, a optimização do modelo.
Como vimos no número IV desta série, essa forma
passa pela institucionalização desta relação, de forma a optimizar o output
gerado, nas componentes económica, social, fiscal e contributiva e
desenvolvimento organizacional, por um lado e por outro, pela partilha do
capital social, entre capital e trabalho, em proporções adequadas, de forma a
equilibrar a relação, no que respeita à distribuição do rendimento gerado,
pelos dois factores produtivos.
Sem a existência desta relação, a sociedade não
existiria tal como a conhecemos actualmente, seria uma espécie de regresso a formas
primitivas de vida, baseadas na subsistência do bando, do grupo ou da tribo e nas lutas permanentes entre
rivais, pela partilha de recursos.
Mas, mesmo nas formas actuais impõe-se a EVOLUÇÃO, para que as
sociedades não caiam, como acontece actualmente em muitas delas, numa espécie
de primitivismo pós-moderno, baseadas num capitalismo selvagem que tudo impõe e
tudo determina, absorvendo a quase totalidade do rendimento gerado pelos
sistemas económicos.
Vamos iniciar o estudo pela primeira componente
da relação de produção:
○ Maximização
do output económico
Não é meu objectivo nesta série de artigos,
utilizar a matemática para ilustrar e demonstrar os fenómenos económicos.
O meu propósito é fundamentalmente político.
A optimização de funções e de modelos económicos
é objecto da investigação operacional e da econometria. Recorrendo a este ramos
da matemática aplicados à economia, podemos optimizar qualquer tipo de funções
e modelos desenhados.
Embora o meu propósito seja político, para os leitores perceberem do
que estamos a falar, direi que o output económico corresponde à quantidade de
bens e serviços que uma unidade económica (empresa/organização) é capaz de
produzir, no contexto de um determinado ambiente e segundo determinadas regras
de concorrência.
Essa quantidade de bens e serviços pode ser determinada
por uma função (função de produção) que, utilizando uma certa quantidade de
inputs (capital, trabalho, tecnologia, capacidade de gestão), que sofrem um
processo de transformação, originam com uma determinada quantidade produzida de
outputs (bens ou serviços).
Uma das funções mais simples para explicar o processo, é a função de
Cobb-Douglas:
Q = ALαKβ onde:
Q = Quantidade produzida, L = entrada de trabalho, K = entrada de capital, A, α e β são
coeficientes determinadas pelo estado da tecnologia.
Em termos simplificados, por esta relação se
verifica que, a quantidade Q produzida, depende das quantidades de trabalho e
capital utilizadas e de factores determinados pelo estado da tecnologia
utilizada nessa produção.
Em termos gerais, a optimização desta função corresponde à sua
maximização, ou seja, com um mínimo de factores produtivos, produzir-se o máximo
de bens e serviços, em condições competitivas num determinado mercado ou
mercados.
Através deste exemplo simplificado, se pode
inferir que, não basta produzir muito, mas é necessário produzir em condições
de competitividade com os outros concorrentes. E, sempre que possível, com vantagem
competitiva.
Para que esta condição seja satisfeita, têm de ser optimizados todos
os factores que interferem com a competitividade, variável chave de todo o
sucesso empresarial, que o mesmo é dizer, do seu crescimento e desenvolvimento.
E os factores que podem ser geridos de forma a
maximizar a competitividade, são múltiplos e variados, assumindo um peso
relevante, desde logo, a produtividade dos factores produtivos (trabalho e capital),
a utilização de tecnologia adequada, a minimização do esforço fiscal e
contributivo para o Estado (componente importante na estrutura de custos) e um conjunto de outros factores determinados
pela estratégia de desenvolvimento organizacional, variável relevante, para a
optimização da relação de produção.
○ Maximização do output social
Pretende-se que seja uma componente importante neste
Modelo de Economia Social.
A introdução desta variável na relação de
produção visa, numa perspectiva de evolução, fazer incidir uma parte do esforço
de protecção social na própria unidade económica, transferindo o output não para o Estado, mas para um Fundo de Protecção
Social (FPS) destinado a todos os trabalhadores da empresa, incluindo os principais
detentores do capital, desde que desempenhem funções, quaisquer que elas sejam,
isto é, assumam também o seu papel como interventores no factor trabalho.
Esse FPS ficará integrado em Reservas Obrigatórias e deverá ser capitalizado. O valor
obrigatório a transferir, (valor
percentual dos resultados líquidos) e o valor variável, dependerão da dimensão
da empresa e do output gerado, segundo um modelo a definir.
Pretende-se a maximização deste output social (contribuição da empresa
para o FPS) e obviamente, dependerá da maximização do output económico
conseguindo.
A outra componente do esforço de protecção social,
terá natureza pública obrigatória e será transferido da remuneração do
trabalho, segundo uma taxa variável, dependente da opção do trabalhador (mais protecção
pública ou mais protecção privada individual – Plano de Poupança Reforma,
Seguro de Protecção qualquer que seja a sua natureza).
Neste modelo, a taxa social a suportar pela empresa ( a actual TSU) e
destinada ao Estado, é nula.
Uma parte é transferida dos resultados líquidos e fica integrada em
Reservas, no FPS e a outra é transferida para o Estado, da remuneração do
trabalhador, segundo o critério por este escolhido.
A vantagem deste modelo é óbvia:
○ Diminui drasticamente o
esforço contributivo das empresas, ganhando por esta via competitividade e
deixando margem para remunerar melhor o factor trabalho, sem afectar
significativamente a competitividade.
○ A constituição de Reservas
obrigatórias, aumenta a estabilidade e a autonomia financeira das unidades
económicas, pois que o FPS, vai sendo progressivamente aumentado e só será
utilizado em situações de necessidade de apoio social.
○ O Estado passa a gerir apenas
uma parte do sistema de protecção social, que será especificada, quando da
abordagem das suas funções essenciais.
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