domingo, 5 de janeiro de 2014

O BURRO DE MIRANDA

 
 


 
Uma vez mais, Portugal foi alvo de sátira internacional.
 
Desta vez do New York Times, que comparou o nosso país ao burro de Miranda, porque, tal como este, ameaçado de extinção, tem de viver sempre de apoios e de subsídios que, de fora, lhe têm sido concedidos.
Mais uma vez são os outros, os de fora, a criticar o resultado da irresponsabilidade que tem reinado impune no nosso país.
 
Uma vez mais, como em muitas ocasiões no passado, são os de fora a chamar-nos a atenção para a letargia e inépcia em que temos estado mergulhados.
Parece que em Portugal, cada um trata de si, cada um desenrasca-se como pode, cada um só vê pelo ângulo estreito do seu mundo particular, cada um de nós perdeu a noção do geral, do conjunto, da comunidade a que pertence e do estado em que ela se encontra.
 
Mas, o que é mais grave não é a perda da visão de conjunto de cada um de nós, enquanto cidadãos, o que tem sido extremamente grave é essa perda de visão colectiva que os nossos governantes sempre evidenciaram, ao longo de décadas, também só olhando para si próprios, para o seu mundo particular.
Esses sim foram os verdadeiros responsáveis. E, como sempre, responsabilidades não há, nem nunca houve.  Em Portugal a culpa sempre morreu solteira.
Sempre as mãos de Pilatos foram lavadas nas mesmas águas. A culpa é sempre dos outros, ou não é de ninguém.
Uma vergonha!
 
E assim continuamos à deriva, sem rumo, sem norte, sem liderança que esteja à altura de, uma vez por todas, acabar com estes ciclos de permanente dependência do exterior.
Que nos enterram cada vez mais e que, no limite, nos podem conduzir a formas de dependência e opressão irreversíveis.
Falamos muito, temos soluções miraculosas para tudo, mas só na ponta da língua.
De resto, deixamos andar, esperando pacientemente que o burro seja alimentado com a palha dos  subsídios e se vá aguentando sem que o dono se preocupe muito com ele.
O que é preciso é ir andando e que a «massa» vá chegando…
 
O que é preocupante é que, no geral, o comportamento do país e dos governantes, desde há séculos, tem sido sempre assim.
Desde as coloniais especiarias da Índia e do ouro do Brasil, até às remessas dos emigrantes e aos fundos comunitários, foi sempre assim.
Tudo desapareceu como fumo!
Qual tacho de mel que, de tanto lamber, sempre se rompeu o fundo!
 
Mas, o que é que se passa connosco? Algum gene defeituoso que nos impede de sair deste sinistro ciclo?
É preciso investigar a causa do mal português, porque assim não podemos continuar. E, se necessário, efectuar a imperiosa mutação genético/cultural, que corrija esta anomalia secular.


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