terça-feira, 8 de julho de 2014

A ENTRADA NO EURO E A ARMADILHA DA DÍVIDA

 
Quando em 1999, Portugal declarou que estava preparado para entrar na zona euro, na verdade, não estava.
Os critérios de convergência exigidos pelos centros de decisão da União Europeia foram, nos anos anteriores, premeditadamente forjados: o défice público, a inflação e desemprego e as dívidas pública e privada.
 
Governava o socialista António Guterres.
Este, apregoava aos sete ventos, que queria Portugal no «pelotão da frente» do euro, como uma grande conquista e uma grande vitória para o povo português!
E assim foi.
O Tratado foi assinado, nas costas dos portugueses. Ninguém foi ouvido nem achado. Uma precipitação que nos custou muito caro, nos anos que se seguiram a esta decisão trágica.
 A irresponsabilidade e inconsciência dos políticos, acreditava que seria o paraíso que aí vinha. Todos viveríamos melhor e ficaríamos mais ricos. Era o mito da moeda forte. A riqueza viria milagrosamente daí.
E não era preciso esforçarmo-nos muito. Podíamos até abdicar da agricultura, das pescas e da indústria. Tudo chegaria cá em catadupas, do bom e do melhor, vindo da EU. Era só consumir o único esforço que se exigia.  A árvore das patacas, faria o resto, bastaria abaná-la.
 
Mas, saiu-nos o inferno!
 
Sem autonomia monetária, sem autonomia cambial e sem autonomia orçamental, Portugal ficou privado, dos principais instrumentos de gestão das suas políticas económicas e financeiras autónomas.
Sem suficiente solidez de um sistema económico já pouco competitivo nessa altura, com uma economia tendencialmente em queda e com a despesa pública em ascensão acentuada, um estranho paradoxo, quando não de dispõe de uma economia que a sustente.
Era o mito do Estado Social que, como se viu e vê, assentava em pés de barro.
Portugal, inevitavelmente,  entraria em queda livre.
 
Do pântano de Guterres e da tanga de Barroso, até à demagogia eleitoralista e despesista de Sócrates e à corrida vertiginosa para o abismo, foi um passo.
 
Sem instrumentos monetários, ficámos reféns dos mercados financeiros internacionais, como a única fonte de financiamento: dinheiro alugado e custo do aluguer dependente da especulação.
Sem instrumentos cambiais, o mercado exportador soçobrou e virou-se para o mercado de bens não transaccionáveis. Sem oferta interna de bens e serviços, que produzisse o necessário para vivermos, o país ficou  na dependência de importações, agravando consideravelmente o défice das Balanças com o exterior.
 
Inevitavelmente a queda da economia acentuou-se ainda mais. Por falta de recursos internos a dívida pública e privada, dispararam para níveis históricos.
O resgate financeiro para cobrir a bancarrota era inevitável.
Daí resultou mais dívida, mais custos para o país e mais consumo de recursos, suor dos portugueses, mais queda de rendimentos, já de si, baixos, menos qualidade de vida, no fundo mais empobrecimento, para satisfazer regras e exigências implacáveis de credores internacionais.
Resultado da irresponsabilidade de quem nos governou.
 
A este flash, circunscrito apenas ao domínio particular do euro e da dívida, há que juntar todos os outros, desde logo, um errado modelo de desenvolvimento que não nos deixou voar e que, já feito em farrapos, o partido do regime teima, lunaticamente,  em remendar e manter, todo o completo descontrolo, verdadeira incúria e desleixo dos governantes, das principais variáveis críticas de sustentabilidade de uma sociedade.
 
Responsabilidades e responsáveis?  Não há. Nunca houve.
A blindagem do regime e a estratégia de branqueamento funcionaram em pleno e sempre funcionam da mesma maneira, aproveitando a santa inconsciência do Povão e a análise superficial dos factos, apenas os observáveis no momento presente.
Causas para erradicar a doença do doente português? Não há, apenas os efeitos são analisados, uma espécie de saga alopática popular.
 
O diagnóstico do médico-político está sempre sistematicamente errado e o doente nunca mais se cura!
Em última análise, a culpa é de todos nós, que consentimos isto e temos muita dificuldade em ter uma visão colectiva das coisas e sentir o instinto de sobrevivência, apenas pensamos no individual.
 

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