quinta-feira, 19 de junho de 2014

O PROBLEMA CRÓNICO PORTUGUÊS: O APARELHO ESTATAL

Em quarenta anos de III República, o país nunca, ou muito raramente, conheceu um período de estabilidade.
Quase sempre essa instabilidade política, económica e social, com consequências financeiras, radica num modelo de desenvolvimento baseado num desequilibro muito acentuado, entre um pesado aparelho estatal, incluindo o Estado Central, Autárquico, Empresarial e Orgânico e a estrutura económica e financeira de suporte, cujo principal esforço fiscal e contributivo é exigido ao sector privado da economia e aos cidadãos em geral.
 
Por mais que a Constituição de Abril imponha um dimensionamento  e estrutura do Estado e todo o seu sector público agregado e uma estrutura de rendimentos dos seus agentes,  completamente fora dos limites suportáveis para o país, a verdade é que, a experiência vivida nesta III República de democracia representativa, mostra-nos claramente, desde há muito, o erro em que esse modelo caiu.
 
E a insistência nesse erro ou se quisermos, por imposição constitucional, a obrigatoriedade de o seguir e persistir nele, sem que os agentes políticos, por opção ideológica, irrealismo ou por simples falta de vontade, ajustem a Constituição, flexibilizando as normas e desta forma, permitindo corrigir o erro e seguir outro caminho, tem sido um grande obstáculo ao nosso desenvolvimento.
 
Mas, a instabilidade do regime radica também em normas constitucionais rígidas que, no campo dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e das organizações sindicais, consagra-os como absolutos, ilimitados e inalienáveis, contrariando frontalmente aquilo que, em democracia, devia ser sempre relativizado, isto é, os direitos e liberdades de uns, não podem sobrepor-se totalmente aos direitos e liberdades de outros.
 
Com efeito, este absolutismo constitucional conduziu ao abuso, ao oportunismo, à chantagem e a toda espécie de acções perversas que beneficiaram excessivamente certos sectores da sociedade, especialmente os integrados no Estado e Sector Público,  e causou graves prejuízos a outros.
Esta situação, não apenas agravou substancialmente o equilíbrio das finanças públicas, já de si comprometido pelo efeito dimensão, como criou clivagens, injustiças e desigualdades flagrantes na sociedade portuguesa.
 
Apenas a título de exemplo, hoje, um motorista/maquinista de uma empresa pública de transportes, terrestres ou marítimos, aufere um vencimento mensal, integrado com todos os suplementos, da ordem dos 4.000 euros e um Licenciado, numa empresa privada ganhará, com muita sorte, quatro vezes menos e, na prática não pode fazer greve, pois se o fizer, o seu posto de trabalho, pode estar em causa.
O primeiro pode ter casa própria para habitação, acima da média, e ainda uma segunda habitação para passar férias e deslocar-se em carro de gama alta.
O segundo, qualificado acima da média e tendo gasto muitos anos da sua vida nessa qualificação, não tem acesso a nada disto, vive na casinha dos pais e está impedido de constituir família!
 
Finalmente a outra perversidade do Estado e Sector Público.
O nosso modelo, dito socialista, também apelidado de socialismo de rosto humano, ou moderado, para se diferenciar do socialismo totalitário (o de rosto desumano), assenta no princípio da REDISTRIBUIÇÃO, aparentemente inofensivo e impregnado de áureas de justiça social (tirar aos que têm mais, para dar aos que têm menos) em ordem a atingir o igualitarismo económico, revelou-se de enorme perversidade e injustiça social.
 
Desde logo, trata-se de uma espécie de COMUNISMO INDIRECTO,  aparentemente menos doloroso mas, na prática atingindo os mesmos objectivos, ou quase, do chamado COMUNISMO ESTATAL,  baseado num centralismo total do Estado, na colectivização de todos os meios de produção, numa distribuição directa de rendimento e num igualitarismo económico de baixa amplitude (rendimentos per capita, muito baixos).
 
Depois, o próprio processo de redistribuição, em que o Estado age como intermediário é, em si próprio, perverso, como é regra em todos os processos em que entram intermediários.
Desde logo cego, a montante, pois não atente à qualificação do titular, nem à forma como foi obtido o rendimento, e a jusante, no processo de redistribuição, por um lado descontrolado e por outro cometendo-se muitas injustiças na atribuição, premiando o ócio em detrimento do contributo de pessoas válidas para o trabalho activo.
 
Pelo meio, uma aplicação dos recursos públicos retirados do sistema económico e dos cidadãos, obedecendo a critérios muitas vezes irracionais e motivados pela pressão de lóbis e sem efeito reprodutivo na economia, a estrutura produtora de riqueza.
 
Criou-se, assim, uma sociedade desequilibrada, extremamente desigual, onde milhões de cidadãos contribuem directa ou indirectamente, com uma grande parte dos seus magros rendimentos, para engordar um Estado despesista, coabitando o sobreemprego com baixos níveis de produtividade, como tal sobredimensionado, para privilégios de uns e excessiva concentração de riqueza de outros.
E nestes outros, coabitando a grande concentração económica e os benefícios de muitos que conseguem manter-se na economia paralela, iludindo o Estado e sacrificando a maioria dos cidadãos, sobrecarregados, desta forma, com um excessivo esforço fiscal.
 
Concluindo, por mais que a irrevogável e perpétua Constituição, imponha e aponte este caminho, a verdade é que o caminho seguido sempre nos conduziu à estagnação económica, ao colapso das finanças públicas, agravado por um perturbador factor externo, a integração do país na zona euro e a uma sociedade de minorias privilegiadas, construída na base da completa exploração e exclusão, de milhões de concidadãos.
 
Em suma, a uma sociedade empobrecida, endividada, extremamente desigual, subdesenvolvida e por isso, com perfil terceiro-mundista.
Um vergonhoso paradoxo constitucional e nacional, do qual não se vislumbra saída.
E, na nebulosa do regime, é o salve-se quem puder…

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