domingo, 5 de outubro de 2014

A HIPOCRISIA E INDIGNIDADE DO SISTEMA POLÍTICO

 
 
 
 
 
05 de Outubro de 2014.
A República comemora os seus 104 anos.
O que era antes motivação e envolvimento populares, transformou-se hoje, na maior indiferença e divórcio.
A reflexão a que me propus hoje, aborda aquilo que Cavaco Silva não disse, mas pensa, no seu discurso, neste dia da República.
 
A democracia, restaurada em 1974, dando início à III República, atravessa uma das suas maiores crises.
Para além das muitas vicissitudes e fragilidades, a democracia portuguesa, transformou-se numa verdadeira farsa, para as massas umas, aplaudirem, outras criticarem, militantes partidários explorarem e deputados teatralizarem, a hipocrisia das oposições e a indignidade dos governantes, complementam a farsa.
 
A democracia portuguesa transformou-se, assim, numa palhaçada carnavalesca, que só nos descredibiliza internacionalmente e enfraquece cada vez mais, internamente.
No meio disto tudo, do salve-se quem puder, alguém colhe dividendos e outros pagam,  uns mais outros menos. Uns perdem tudo, outros ganham tudo!
 
A hipocrisia da família socialista, sempre foi, no regular ciclo da alternância da governação do país, a mais prolongada no poder e a de menor permanência na oposição.
A família social-democrata sempre governou menos tempo e mais tempo esteve na oposição; quer num caso quer noutro, sempre se comportou de forma indigna.
 
Ou seja, para que nos entendamos:
 
De um lado dos alternantes, os socialistas da esquerda moderada, mais tempo no poder, enganam hipocritamente o eleitorado com promessas que não cumprem e outras que cumprem, mas não podiam nem deviam prometer, perdem a cabeça numa furiosa espiral despesista, sem recursos, grande parte completamente inútil, sem qualquer impacto económico reprodutivo, mas com desastroso impacto nas finanças públicas.
Perante a iminência do desastre, uns, fogem por prevenção, outros arrastam o problema até à bancarrota. Quer num caso quer noutro a hipocrisia é total, não assumem as responsabilidades e procuram sempre arranjar alibis e bodes expiatórios.
 
Do outro lado dos alternantes, os sociais-democratas do centro-direita que, perante o desaire socialista, são chamados ao poder com a missão de salvar o país.
Desgraçadamente, bem ou mal, são obrigados a por em prática um severo programa de austeridade.
A ira e a fúria do povo viram-se contra eles. São pedidas as suas cabeças.
Os socialistas, agora na oposição, da forma mais hipócrita e ignóbil, alimentam e incentivam a fúria popular e acusam os sociais-democratas, como os grandes responsáveis pelo que aconteceu ao país. São secundados por toda a esquerda e aclamados em uníssono pelo povo.
Colhem dividendos eleitorais, têm garantido o poder em próximas eleições.
 
Perante este vergonhoso cenário de hipocrisia, por parte dos verdadeiros responsáveis, os sociais-democratas, também eles ávidos de poder, em vez de, de forma digna, se demitirem, já que o povo exige as suas cabeças,  aguentam, pouco ou nada acusam os seus detractores, douram a pílula como podem e deste modo, calando-se, assumem a culpa. Quem cala consente.
Não foram, mas passam a ser, os verdadeiros responsáveis por todas as desgraças.
Mas, ainda assim, aceitam humilhante e vergonhosamente, a continuação no poder.
Comportam-se  com total indignidade.
Porquê? É simples:
- O poder é demasiado doce para ser desperdiçado. A humilhação nunca superará a doçura do poder e os frutos que daí se podem colher, mesmo por pouco tempo, apenas aquele que for decretado pelo partido do regime, o partido socialista, como suficiente para os «almeidas» da política suja, limparem e varrerem a casa, compensarão sempre.
 
Este dramático ciclo repete-se, sistematicamente, nesta República abrilista, praticamente desde há três décadas.
De ciclo em ciclo, o país definha, empobrece, estagna subdesenvolvido.
A população desce, de degrau em degrau, a escala do nível de vida. A pobreza explícita ou implícita alastra. Hoje, já somos aproximadamente três milhões, um terço da população do país.
Uma verdadeira calamidade nacional.
 
Apenas dois exemplos, para reavivar a memória dos mais esquecidos.
 
O pântano de Guterres e a demagogia e populismo de Sócrates.
 
Guterres, antes da fuga precipitada para o exílio dourado na ONU, teve o cuidado de anunciar o pântano que aí vinha e o seu sucessor Barroso, social-democrata, chamado pelo povo, para resolver o já grave problema herdado de Guterres.
Por ter anunciado que o país deixado por aquele,  estava de tanga, foi crucificação no altar da politica e teve de abandonar o país, na primeira oportunidade.
 
Sócrates e a sua estratégia de ocultação e arrastamento da gravíssima situação do país que, de PEC em PEC e da espiral despesista em que entrou, num país já herdado de tanga, nos conduziu à bancarrota.
 
Coelho é chamado a governar, num contexto dos mais graves de toda a História portuguesa, dos últimos dois séculos.
 
Como sempre, no sinistro ciclo, a doçura do poder atrai Coelho. A humilhação a que tem estado sujeito é incomparável à de qualquer outro, dos ciclos de Abril.
Mas aguenta, de forma vergonhosa e indigna, porque sabe que, enquanto estiver no poder, os frutos que colhe, superam, de longe a humilhação.
 
Os mesmos hipócritas, a dupla Costa-Ferro que, ruidosamente no Parlamento e como cães raivosos, iam trucidando Barroso que, já nem sabia onde se havia de meter para salvar a pele, prepara-se agora, para trucidar Coelho.
Pois, já expirou o prazo decretado pelo partido do regime, para os varredores de serviço, da República, limparem a casa. 
 
Por isso, se o PSD fosse um partido digno e estivesse na politica para a honrar, Coelho devia ter tido a dignidade e a honradez, de se demitir, saindo pela porta grande,  logo a seguir à saída da troika e, deste modo, abrindo caminho à  desejada subida ao poder, dos seus hipócritas opositores e deste modo, confrontá-los com  as suas responsabilidades.
Coelho não o fez e fez mal.
Vai ter de sair, com o rabo entre as pernas e pela porta do cavalo. O momento aproxima-se.
 
Mas, contrariamente ao que a nobreza da República pensa, a casa está longe de estar limpa e arrumada. E aí, vão saber o que é ter o povo à perna, experimentar o sabor amargo da ira popular e terem a cabeça a prémio, sensação que nunca, ou raras vezes, experimentaram, no seu regime de Abril.
 
Entre a hipocrisia de uns e a indignidade de outros, Portugal, a República e a sua população, agonizam.

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