A República comemora os seus 104
anos.
O que era antes motivação e
envolvimento populares, transformou-se hoje, na maior indiferença e divórcio.
A reflexão a que me propus hoje,
aborda aquilo que Cavaco Silva não disse, mas pensa, no seu discurso, neste dia
da República.
A
democracia, restaurada em 1974, dando início à III República, atravessa uma das
suas maiores crises.
Para além
das muitas vicissitudes e fragilidades, a democracia portuguesa, transformou-se
numa verdadeira farsa, para as massas umas, aplaudirem, outras criticarem,
militantes partidários explorarem e deputados teatralizarem, a hipocrisia das
oposições e a indignidade dos governantes, complementam a farsa.
A democracia portuguesa
transformou-se, assim, numa palhaçada carnavalesca, que só nos descredibiliza
internacionalmente e enfraquece cada vez mais, internamente.
No meio disto tudo, do salve-se
quem puder, alguém colhe dividendos e outros pagam, uns mais outros menos. Uns perdem tudo, outros
ganham tudo!
A hipocrisia
da família socialista, sempre foi, no regular ciclo da alternância da
governação do país, a mais prolongada no poder e a de menor permanência na
oposição.
A família
social-democrata sempre governou menos tempo e mais tempo esteve na oposição;
quer num caso quer noutro, sempre se comportou de forma indigna.
Ou seja,
para que nos entendamos:
De um lado
dos alternantes, os socialistas da esquerda moderada, mais tempo no poder,
enganam hipocritamente o eleitorado com promessas que não cumprem e outras que
cumprem, mas não podiam nem deviam prometer, perdem a cabeça numa furiosa
espiral despesista, sem recursos, grande parte completamente inútil, sem
qualquer impacto económico reprodutivo, mas com desastroso impacto nas finanças
públicas.
Perante a
iminência do desastre, uns, fogem por prevenção, outros arrastam o problema até
à bancarrota. Quer num caso quer noutro a hipocrisia é total, não assumem as
responsabilidades e procuram sempre arranjar alibis e bodes expiatórios.
Do outro lado dos alternantes, os
sociais-democratas do centro-direita que, perante o desaire socialista, são
chamados ao poder com a missão de salvar o país.
Desgraçadamente, bem ou mal, são
obrigados a por em prática um severo programa de austeridade.
A ira e a fúria do povo viram-se
contra eles. São pedidas as suas cabeças.
Os socialistas, agora na
oposição, da forma mais hipócrita e ignóbil, alimentam e incentivam a fúria
popular e acusam os sociais-democratas, como os grandes responsáveis pelo que
aconteceu ao país. São secundados por toda a esquerda e aclamados em uníssono
pelo povo.
Colhem dividendos eleitorais, têm
garantido o poder em próximas eleições.
Perante este
vergonhoso cenário de hipocrisia, por parte dos verdadeiros responsáveis, os
sociais-democratas, também eles ávidos de poder, em vez de, de forma digna, se
demitirem, já que o povo exige as suas cabeças,
aguentam, pouco ou nada acusam os seus detractores, douram a pílula como
podem e deste modo, calando-se, assumem a culpa. Quem cala consente.
Não foram, mas passam a ser, os
verdadeiros responsáveis por todas as desgraças.
Mas, ainda assim, aceitam
humilhante e vergonhosamente, a continuação no poder.
Comportam-se com total indignidade.
Porquê? É simples:
- O poder é demasiado doce para
ser desperdiçado. A humilhação nunca superará a doçura do poder e os frutos que
daí se podem colher, mesmo por pouco tempo, apenas aquele que for decretado
pelo partido do regime, o partido socialista, como suficiente para os «almeidas»
da política suja, limparem e varrerem a casa, compensarão sempre.
Este dramático ciclo repete-se,
sistematicamente, nesta República abrilista, praticamente desde há três décadas.
De ciclo em ciclo, o país
definha, empobrece, estagna subdesenvolvido.
A população desce, de degrau em
degrau, a escala do nível de vida. A pobreza explícita ou implícita alastra.
Hoje, já somos aproximadamente três milhões, um terço da população do país.
Uma verdadeira calamidade
nacional.
Apenas dois
exemplos, para reavivar a memória dos mais esquecidos.
O pântano de Guterres e a
demagogia e populismo de Sócrates.
Guterres,
antes da fuga precipitada para o exílio dourado na ONU, teve o cuidado de
anunciar o pântano que aí vinha e o seu sucessor Barroso, social-democrata,
chamado pelo povo, para resolver o já grave problema herdado de Guterres.
Por ter anunciado que o país deixado
por aquele, estava de tanga, foi
crucificação no altar da politica e teve de abandonar o país, na primeira
oportunidade.
Sócrates e a
sua estratégia de ocultação e arrastamento da gravíssima situação do país que,
de PEC em PEC e da espiral despesista em que entrou, num país já herdado de
tanga, nos conduziu à bancarrota.
Coelho é
chamado a governar, num contexto dos mais graves de toda a História portuguesa,
dos últimos dois séculos.
Como sempre,
no sinistro ciclo, a doçura do poder atrai Coelho. A humilhação a que tem
estado sujeito é incomparável à de qualquer outro, dos ciclos de Abril.
Mas aguenta, de forma vergonhosa
e indigna, porque sabe que, enquanto estiver no poder, os frutos que colhe,
superam, de longe a humilhação.
Os mesmos
hipócritas, a dupla Costa-Ferro que, ruidosamente no Parlamento e como cães
raivosos, iam trucidando Barroso que, já nem sabia onde se havia de meter para
salvar a pele, prepara-se agora, para trucidar Coelho.
Pois, já
expirou o prazo decretado pelo partido do regime, para os varredores de serviço,
da República, limparem a casa.
Por isso, se o PSD fosse um
partido digno e estivesse na politica para a honrar, Coelho devia ter tido a
dignidade e a honradez, de se demitir, saindo pela porta grande, logo a seguir à saída da troika e, deste
modo, abrindo caminho à desejada subida
ao poder, dos seus hipócritas opositores e deste modo, confrontá-los com as suas responsabilidades.
Coelho não o fez e fez mal.
Vai ter de sair, com o rabo entre
as pernas e pela porta do cavalo. O momento aproxima-se.
Mas,
contrariamente ao que a nobreza da República pensa, a casa está longe de estar
limpa e arrumada. E aí, vão saber o que é ter o povo à perna, experimentar o
sabor amargo da ira popular e terem a cabeça a prémio, sensação que nunca, ou
raras vezes, experimentaram, no seu regime de Abril.
Entre a hipocrisia de uns e a
indignidade de outros, Portugal, a República e a sua população, agonizam.
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