sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A PSICOSSOCIOLOGIA DO SUPERFICIAL

 
«Habituámo-nos, muitos de nós, mas mesmo muitos, a avaliar e a interpretar as coisas que observamos, aquilo que os políticos nos dizem e nos propõem falsamente, olhando apenas para a forma, para o superficial, para a beleza das cores do presente que nos é oferecido e descuramos ou não temos capacidade de interpretação do seu conteúdo, não por culpa das pessoas, é bom que se diga, mas por culpa de quem, durante décadas, não cuidou da sua formação e educação.
Confundimos o lobo com o cordeiro, o diabo com o anjo e esta confusão tem saído caro ao país, entregando sistematicamente as chaves do galinheiro à raposa, fêmea do lobo, mais sabida e refinada.»
António Bernardo in blog de 23 de Junho de 2013.
 
 
 Há uma tendência natural de,  grande parte das  pessoas, analisarem os factos que ocorrem na cena política e fazerem um juízo de valor sobre eles, olhando apenas para o superficial, ou seja, para o que acontece no momento presente e sem se cuidar da sua explicação que, quase sempre, radica no passado.
É um facto, estatisticamente comprovado.
 
Como se explica este comportamento, no meu ponto de vista, uma das maiores fragilidades e perversidades de uma democracia?
Fragilidade porque, permitindo que actores políticos, quase sempre os mesmos ou da mesma família ideológica, quantas vezes protagonistas de verdadeiros crimes sociais, fiquem impunes e, passado o temporal, regressem à cena política com o maior despudor e com a maior descontracção deste mundo.
 
Depois do crime e da hecatombe provocados, fogem, escondem-se, desaparecem como ratos.
E, quem cá ficar, que resolva o problema.
Novas eleições, novos protagonistas e, quase sempre, o voto costumeiro dos mesmos de sempre, não recai, maioritariamente sobre a formação partidária responsável pelo crime social que, normalmente, vai exigir sacrifícios pesados à população, a mais vulnerável, a mais frágil e indefesa, onde é possível carregar sem grandes estrilhos.
 
Facto curioso, quando isto acontece e, estatisticamente repetido, na vigência desta República de Abril, parece haver, pelo menos, de uma boa parte dos simpatizantes da linha ideológica da facção partidária responsável, uma tomada de consciência, sem  saber bem porquê e sem  se encontrar uma explicação, dado o efeito de surpresa,  de que algo correu mal e, como tal, é imperativo não repetir o voto nessa facção e chamar a que estiver mais próxima para resolver o problema.
 
Ou seja, a população em geral e uma boa parte dos partidários da facção que provocou a hecatombe, perante a interrupção do mandado dos responsáveis, da fuga precipitada dos mesmos, para se esconderem e a convocação de eleições antecipadas, essas populações que os tinham colocado no poder, para além do efeito surpresa, pois nada de anormal tinham detectado, apercebem-se de que alguma coisa não correu bem mas, não fazem a mínima ideia do que aconteceu.
 
Alguns, tendo essa percepção e, pelo sim pelo não, mudam o sentido de voto para o que estiver mais próximo mas, facto curioso, cerca de metade dos partidários, ignoram totalmente o sucedido e não alteram o sentido de voto, ou seja, confiam cegamente nos seus queridos lideres, mesmo fugitivos.
Em qualquer dos casos, não há julgamento social, mesmo da parte daqueles que continuaram a confiar nos fugitivos.
 
Perante a completa ignorância do que os seus lideres ideológicos provocaram ao país, não compreendem a razão das medidas de austeridade, da razão dos cortes que sentem na pele, e que, os que foram chamados a governar foram obrigados a por em prática, para resolver os problemas deixados.
 
E, analisando os factos atuais, apenas avaliando o que os afecta directamente (cortes, aumentos de impostos, quebra de rendimentos), ou seja, pelo seu lado visível, superficial e que sentem no seu dia a dia, imediatamente apontam o dedo aos culpados, os actuais governantes.
 
Começa a agitação social, convulsões, são pedidas as cabeças dos governantes actuais.
Os verdadeiros responsáveis, escondidos no seus covis, riem-se perdidamente.
Os poucos que tiveram a ousadia de dar a cara ou que regressaram  ao seu país, passados alguns anos de exílio para se protegerem, julgando já haver condições, dão-se ao desplante, apoiados pelos media seus seguidores e delfins, de dirigir fortes críticas aos que, sem culpa formada, estão a tentar resolver os problemas por eles deixados, sacrificando a população, como sempre acontece, como inevitável.
 
Essas duras críticas, verdadeira hipocrisia e um dos aspectos mais sujos e mais repugnantes desta democracia, são secundados em uníssono, por uma maioria da população, que não faz a mínima ideia do que sucedeu ao país.
 
É o que se pode chamar de uma psicose colectiva da superficialidade ou também, efeito de recentividade.
 
Mas, para além da fragilidade e da perversidade da democracia portuguesa, que este fenómeno social, sistematicamente repetido em ciclos mais ou menos uniformes, provoca, como se explica este comportamento de uma maioria de portugueses?
Como se explica este comportamento irracional, com a agravante de ser sistematicamente repetido, agravando irremediavelmente a situação do país?
 
No meu ponto de vista, o problema radica em dois factores distintos.
Por um lado, o défice cultural, formativo e educacional de mais de metade dos portugueses e por outro, a doutrinação ideológica que, forças políticas introduzidas nos sistemas educativo e corporativo, têm sistematicamente intoxicado as pessoas, logo desde os bancos da escola, incapacitando-as de pensar racionalmente.
 
É um facto, que as ideologias veiculadas pelos partidos políticos, estão presentes em todo o lado na sociedade portuguesa. Tudo é política e tudo é interpretado à luz da política.
No Estado incluindo autarquias, nas empresas, nas escolas, na justiça e tribunais, nos sindicatos e corporações em geral, nas redes sociais.
As pessoas agem, decidem e se relacionam com os outros, apenas em função da política e da sua doutrinação ao longo de muitos anos, perdendo uma grande parte da sua capacidade de pensar de forma racional e independente.
 
Esta estratégia, ardilosamente arquitectada pelas forças políticas, teve como objectivo, condicionar a capacidade de decisão dos portugueses, colocando-as ao seu serviço e facilitando, deste modo, a sua implantação no país.
 
Da conjugação dos dois factores, o cultural e o ideológico, encontramos aqui uma boa parte da explicação para os fenómenos sociais da análise superficial e do efeito de recentividade.
Enquanto este dois problemas da sociedade portuguesa não forem resolvidos, o exercício da democracia será sempre prejudicado e fragilizado e irá sempre beneficiar os políticos oportunistas que, conhecendo-os, pervertem completamente o exercício do poder, prejudicando o país e a sociedade portuguesa.
 
As consequências da existência destes factores, que persistem na sociedade portuguesa, sem solução, na vigência desta III República,  provavelmente  obedecendo a estratégias partidárias planeadas, estão a ter graves implicações no desenvolvimento do pais, pelo bloqueio que implicam na renovação da classe política e no surgimento de alternativas que pudessem operar uma mudança.
 
Além de outros, estes factores condicionantes, estão a contribuir para que Portugal seja um dos países menos desenvolvidos no seio da Europa, com mais baixo nível de vida e onde as desigualdades são extremamente acentuadas.
 

E, não é de esperar grandes surpresas na alteração do sistema vigente.
Basta dizer que, as forças que se apoderaram do sistema de ensino e formação, da esquerda radical, designadamente o Partido Comunista Português, quarenta anos depois da revolução, continuam bem presentes nas escolas,  incutindo nas crianças e nos jovens, de forma explícita ou implícita nos manuais de ensino e outros suportes, a sua ideologia.
 Não é por acaso, que o Partido Comunista Português está, há muito tempo, colhendo os dividendos dessa intromissão abusiva no sistema de ensino, com a complacência criminosa dos partidos da governação, sendo já o partido português onde, aos milhares, mais jovens militantes se têm alistado nas suas fileiras.


A falta de soluções e o pouco interesse da classe política, tendem a que o subdesenvolvimento do país permaneça crónico indefinidamente, mas favorecendo minorias sociais que continuam a aproveitar-se de todas estas fragilidades.
 
 
Perante este quadro de hipocrisia, manipulação, oportunismo, tráfico de influências, sistemas mafiosos instalados em todo o lado, desde o Estado às empresas privadas, maçonarias secretas, de exploração desenfreada de milhões de cidadãos indefesos, subvertendo esta já frágil democracia, é bem provável, que esta Terceira República termine bem pior do que as Primeira e a Segunda.
 

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