«Habituámo-nos, muitos de nós,
mas mesmo muitos, a avaliar e a interpretar as coisas que observamos, aquilo
que os políticos nos dizem e nos propõem falsamente, olhando apenas para a
forma, para o superficial, para a beleza das cores do presente que nos é oferecido
e descuramos ou não temos capacidade de interpretação do seu conteúdo, não por
culpa das pessoas, é bom que se diga, mas por culpa de quem, durante décadas,
não cuidou da sua formação e educação.
Confundimos o lobo com o
cordeiro, o diabo com o anjo e esta confusão tem saído caro ao país, entregando
sistematicamente as chaves do galinheiro à raposa, fêmea do lobo, mais sabida e
refinada.»
António
Bernardo in blog de 23 de Junho de 2013.
Há uma
tendência natural de, grande parte
das pessoas, analisarem os factos que
ocorrem na cena política e fazerem um juízo de valor sobre eles, olhando apenas
para o superficial, ou seja, para o que acontece no momento presente e sem se
cuidar da sua explicação que, quase sempre, radica no passado.
É um facto,
estatisticamente comprovado.
Como se
explica este comportamento, no meu ponto de vista, uma das maiores fragilidades
e perversidades de uma democracia?
Fragilidade
porque, permitindo que actores políticos, quase sempre os mesmos ou da mesma
família ideológica, quantas vezes protagonistas de verdadeiros crimes sociais,
fiquem impunes e, passado o temporal, regressem à cena política com o maior
despudor e com a maior descontracção deste mundo.
Depois do
crime e da hecatombe provocados, fogem, escondem-se, desaparecem como ratos.
E, quem cá
ficar, que resolva o problema.
Novas
eleições, novos protagonistas e, quase sempre, o voto costumeiro dos mesmos de
sempre, não recai, maioritariamente sobre a formação partidária responsável
pelo crime social que, normalmente, vai exigir sacrifícios pesados à população,
a mais vulnerável, a mais frágil e indefesa, onde é possível carregar sem
grandes estrilhos.
Facto
curioso, quando isto acontece e, estatisticamente repetido, na vigência desta
República de Abril, parece haver, pelo menos, de uma boa parte dos
simpatizantes da linha ideológica da facção partidária responsável, uma tomada
de consciência, sem saber bem porquê e
sem se encontrar uma explicação, dado o
efeito de surpresa, de que algo correu
mal e, como tal, é imperativo não repetir o voto nessa facção e chamar a que
estiver mais próxima para resolver o problema.
Ou seja, a
população em geral e uma boa parte dos partidários da facção que provocou a
hecatombe, perante a interrupção do mandado dos responsáveis, da fuga
precipitada dos mesmos, para se esconderem e a convocação de eleições
antecipadas, essas populações que os tinham colocado no poder, para além do
efeito surpresa, pois nada de anormal tinham detectado, apercebem-se de que
alguma coisa não correu bem mas, não fazem a mínima ideia do que aconteceu.
Alguns,
tendo essa percepção e, pelo sim pelo não, mudam o sentido de voto para o que
estiver mais próximo mas, facto curioso, cerca de metade dos partidários,
ignoram totalmente o sucedido e não alteram o sentido de voto, ou seja, confiam
cegamente nos seus queridos lideres, mesmo fugitivos.
Em qualquer
dos casos, não há julgamento social, mesmo da parte daqueles que continuaram a
confiar nos fugitivos.
Perante a
completa ignorância do que os seus lideres ideológicos provocaram ao país, não
compreendem a razão das medidas de austeridade, da razão dos cortes que sentem
na pele, e que, os que foram chamados a governar foram obrigados a por em
prática, para resolver os problemas deixados.
E,
analisando os factos atuais, apenas avaliando o que os afecta directamente
(cortes, aumentos de impostos, quebra de rendimentos), ou seja, pelo seu lado
visível, superficial e que sentem no seu dia a dia, imediatamente apontam o
dedo aos culpados, os actuais governantes.
Começa a agitação
social, convulsões, são pedidas as cabeças dos governantes actuais.
Os
verdadeiros responsáveis, escondidos no seus covis, riem-se perdidamente.
Os poucos
que tiveram a ousadia de dar a cara ou que regressaram ao seu país, passados alguns anos de exílio
para se protegerem, julgando já haver condições, dão-se ao desplante, apoiados
pelos media seus seguidores e delfins, de dirigir fortes críticas aos que, sem
culpa formada, estão a tentar resolver os problemas por eles deixados,
sacrificando a população, como sempre acontece, como inevitável.
Essas duras
críticas, verdadeira hipocrisia e um dos aspectos mais sujos e mais repugnantes
desta democracia, são secundados em uníssono, por uma maioria da população, que
não faz a mínima ideia do que sucedeu ao país.
É o que se
pode chamar de uma psicose colectiva da superficialidade ou também, efeito de
recentividade.
Mas, para
além da fragilidade e da perversidade da democracia portuguesa, que este
fenómeno social, sistematicamente repetido em ciclos mais ou menos uniformes,
provoca, como se explica este comportamento de uma maioria de portugueses?
Como se
explica este comportamento irracional, com a agravante de ser sistematicamente
repetido, agravando irremediavelmente a situação do país?
No meu ponto
de vista, o problema radica em dois factores distintos.
Por um lado,
o défice cultural, formativo e educacional de mais de metade dos portugueses e
por outro, a doutrinação ideológica que, forças políticas introduzidas nos
sistemas educativo e corporativo, têm sistematicamente intoxicado as pessoas,
logo desde os bancos da escola, incapacitando-as de pensar racionalmente.
É um facto,
que as ideologias veiculadas pelos partidos políticos, estão presentes em todo
o lado na sociedade portuguesa. Tudo é política e tudo é interpretado à luz da
política.
No Estado
incluindo autarquias, nas empresas, nas escolas, na justiça e tribunais, nos
sindicatos e corporações em geral, nas redes sociais.
As pessoas
agem, decidem e se relacionam com os outros, apenas em função da política e da
sua doutrinação ao longo de muitos anos, perdendo uma grande parte da sua
capacidade de pensar de forma racional e independente.
Esta
estratégia, ardilosamente arquitectada pelas forças políticas, teve como
objectivo, condicionar a capacidade de decisão dos portugueses, colocando-as ao
seu serviço e facilitando, deste modo, a sua implantação no país.
Da
conjugação dos dois factores, o cultural e o ideológico, encontramos aqui uma
boa parte da explicação para os fenómenos sociais da análise superficial e do
efeito de recentividade.
Enquanto
este dois problemas da sociedade portuguesa não forem resolvidos, o exercício
da democracia será sempre prejudicado e fragilizado e irá sempre beneficiar os
políticos oportunistas que, conhecendo-os, pervertem completamente o exercício
do poder, prejudicando o país e a sociedade portuguesa.
As
consequências da existência destes factores, que persistem na sociedade
portuguesa, sem solução, na vigência desta III República, provavelmente
obedecendo a estratégias partidárias planeadas, estão a ter graves
implicações no desenvolvimento do pais, pelo bloqueio que implicam na renovação
da classe política e no surgimento de alternativas que pudessem operar uma
mudança.
Além de
outros, estes factores condicionantes, estão a contribuir para que Portugal
seja um dos países menos desenvolvidos no seio da Europa, com mais baixo nível
de vida e onde as desigualdades são extremamente acentuadas.
E, não é
de esperar grandes surpresas na alteração do sistema vigente.
Basta dizer
que, as forças que se apoderaram do sistema de ensino e formação, da esquerda
radical, designadamente o Partido Comunista Português, quarenta anos depois da
revolução, continuam bem presentes nas escolas, incutindo nas crianças e nos jovens, de forma
explícita ou implícita nos manuais de ensino e outros suportes, a sua
ideologia.
A falta de
soluções e o pouco interesse da classe política, tendem a que o
subdesenvolvimento do país permaneça crónico indefinidamente, mas favorecendo
minorias sociais que continuam a aproveitar-se de todas estas fragilidades.
Perante este
quadro de hipocrisia, manipulação, oportunismo, tráfico de influências, sistemas
mafiosos instalados em todo o lado, desde o Estado às empresas privadas, maçonarias
secretas, de exploração desenfreada de milhões de cidadãos indefesos, subvertendo
esta já frágil democracia, é bem provável, que esta Terceira República termine
bem pior do que as Primeira e a Segunda.
Sem comentários:
Enviar um comentário