domingo, 27 de dezembro de 2009

DO «DEUS, PÁTRIA E FAMÍLIA» AO «INDIVIDUALISMO»

Eu sou do tempo em que os valores sociais e humanos se baseavam nesta trilogia, fomentada pelo governo de Portugal dos anos 40, 50, 60, do século passado, para além de outros valores que nos foram transmitidos pelos nossos pais.

Fomentava-se o culto de Deus, através da religião católica, a religião oficial do Estado. Havia uma estreita relação entre o poder político e o poder religioso.
Depois da missa aos Domingos, ensinava-se às crianças na catequese, os fundamentos da religião cristã e da moral. Nos liceus ensinava-se a religião e a moral; eram disciplinas obrigatórias.

O culto da Pátria constituía a segunda componente da trilogia dos valores. A Pátria, a mãe-Pátria, a terra que nos viu nascer, constituía algo de sagrado que tinha de ser defendido «até à ultima gota de sangue».
Foi assim que me ensinaram na então «Mocidade Portuguesa», a mim e a muitos jovens da época que faziam jus e tinham orgulho e até vaidade, em fazer parte desta organização.

Foi assim que me ensinaram na Academia Militar, que frequentei nos anos 60, dando concretização a um sonho de infância de querer ser militar. E fui e estive na guerra colonial, a experimentar o cheiro da pólvora, como muitos jovens deste país.
A servir o culto da Pátria!
Regressei mais salvo do que são, mas muitos nem sequer regressaram.

A terceira componente da trilogia dos valores daqueles anos já longínquos do século XX era a Família.
Era uma valor sagrado tal como o da Pátria!
Neste tempo fomentava-se a família, protegia-se a família, um pai, uma mãe e os filhos; nem pensar em famílias com dois pais ou duas mães; isso era um sacrilégio.
Aliás nessa época nem sequer se conhecia o termo «gay», ou «lésbica» e muito menos «lgbt».

Era muito comum a referência a eles, como os «homens que faziam panelas», para usar uma expressão moderada e as mulheres com essas tendências, eram conhecidas como as «fufas».
Bissexual ou transsexual eram termos completamente desconhecidos e muito menos a expressão real dessas variantes da espécie humana.

Para além da trilogia oficial dos valores fundamentais, muitos outros valores nos foram transmitidos directamente pela família, pelos nossos pais.
Os valores da honra, da honestidade, do trabalho, da fé cristã, da moral, da ética, da generosidade, da fidelidade, da virgindade e muitos outros.

Ao assistir há dias à passagem de uma reportagem no canal TVI 24, sobre «A MULHER DO SÉCULO XXI», voltei a confirmar aquilo que é uma realidade dos nossos dias.
Em pouco mais de 50 anos o mundo deu uma volta de 180º, ou seja, passámos de um extremo para o outro oposto. É como se a Terra tivesse mudado a sua posição em relação ao Sol e o equador passasse para os pólos e os pólos para o equador.
Por outras palavras, passámos do «oito» para o «oitenta»...!

Como foi isto possível em tão pouco tempo, que causas ou fundamentos explicam este fenómeno tão rápido, quando a História nos diz que, os costumes e os valores levam por vezes séculos a serem mudados?

Há quem argumente que tudo começou com a revolução francesa do século XVIII: liberdade, igualdade, fraternidade. E também com as revoluções que se lhes seguiram.
Concordo em parte, pelo menos no plano dos princípios.
Mas, como se explica a rapidez da mudança especialmente nos últimos 50 anos? Que factores teriam contribuído para uma mudança tão radical nos valores, em tão pouco tempo?

A resposta, no meu ponto de vista, encontra-se nas consequências da 2ª guerra mundial e nos fundamentos em que se alicerçaram os regimes políticos económicos e sociais saídos do pós-guerra.
Os regimes anteriores, incluindo os da época monárquica, alicerçados em ditaduras, impunham os valores, controlavam as sociedades de acordo com os seus objectivos políticos.
Com a queda das ditaduras umas mais cedo, outras mais tarde e o advento das novas democracias representativas, levou-se ao fundamentalismo as já velhas três palavras mágicas saídas da revolução francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.

Fundamentalismo liberal, fundamentalismo igualitário e não tanto fundamentalista a fraternidade, antes o tivesse sido.

Um conjunto de factores, resultantes das novas tecnologias de comunicação e informação, a nível mundial, nos últimos 15/20 anos, de que se destacam a televisão e a Internet, acelerou o processo.

O acesso à informação passou a ser quase instantâneo, a velocidade com se passou a veicular e a tratar dados, assim como novas ideias, modas, costumes, imagens, vídeos, filmes, em permanente permuta a nível mundial e sem controlo e interferência dos governos, porque anti-constitucional, anti-democrático e anti direitos humanos, passou a ser absolutamente avassaladora, impensável há trinta ou quarenta anos.

A enorme rapidez com que tudo se alterou nas últimas duas décadas, encontra assim, explicação, na retoma fundamentalista das palavras de ordem da revolução francesa e num conjunto de factores resultantes da revolução das comunicações e do processamento da informação a nível mundial.
O indivíduo, o actor social, passou a dispor de uma liberdade quase absoluta na ordem individual e social, apenas limitada na ordem jurídica.

Os tradicionais valores sociais e individuais progressivamente foram caindo, a tradicional família educadora e formadora de valores, demite-se desse papel e os descendentes passaram a ser formados e educados pelo bando de rua, pela Internet, pela televisão, pelo «Magalhães» e por uma escola igualmente demissionária, não dos professores que lutam contra a maré, mas que reflecte as politicas fundamentalistas dos partidos do poder e as corporativistas ditadas pelas respectivas federações profissionais.

Os regimes políticos saídos das democracias representativas, expressão de um voto muitas vezes não representativo e subjectivo, demitem-se do seu papel formador e educador e o indivíduo desde que nasce, fica entregue a si próprio, à mercê de si próprio e à influência dos factores externos do seu micro ambiente, que vai determinar a sua formação e o seu comportamento futuro.

O resultado final deste processo é um indivíduo egocêntrico, individualista, calculista, que tenta viver e sobreviver na selva amorfa desta sociedade vazia, onde cada um segue, sem qualquer orientação, os seus critérios de vida.

Critérios de vida individualista, sem valores colectivos nem sanções sociais. Tudo é permitido ao nível do comportamento individual, desde que não colida com a ordem jurídica estabelecida.

Critérios de vida que cada um segue como quer e entende, pensando apenas em si próprio, sem pensar colectivo, critérios de vida muitas vezes incompatíveis com os do vizindo, do amigo, do colega, do namorado ou namorada, do marido ou esposa, tornando cada vez mais difíceis as relações entre as pessoas.

Por isso não me supreende, a mulher solteira que opta por viver só toda a vida, que sai à noite para «engatar homens» que se serve dos homens apenas para seu bel-prazer, durante um certo período de tempo, que frequenta o ginásio e a sexshop, mas que sai e regressa a casa sozinha, como se viu na reportagem da «mulher do século XXI».

Este comportamento antes tipicamente masculino, do macho que procurava a fêmea pela ordem natural, inverteu-se. Agora parece ser a fêmea que procura o macho. Parece, portanto, que o machismo está a dar lugar ao feminismo, o sexo forte passou a ser fraco e o fraco passou a ser forte.
Não ficarei surpreendido se, dentro de algum tempo, os homens do século XXI passarem a usar saia, na sua indumentaria habitual...

Embora a amostra da reportagem não seja representativa da generalidade das mulheres é, do meu ponto de vista, um sinal preocupante dos tempos do «oitenta», dos extremos. E os extremos tocam-se naquilo que têm de comum, ou seja na sua caraterística extremista de uma «lei cósmica» achatada e enviesada, loucamente deslocada da sua mediana.

Mas o fundamentalismo igualitário aí está também em força.

Somos todos iguais, em tudo, e portanto também na baixa inteligência, no défice de conhecimentos, na falta de formação e de educação.
Propõe-se o negativismo igualitário como formatação básica do individuo, ou seja nivela-se tudo por baixo.
O «Alter» de referência que se propõe seguir como exemplo não é o melhor, mas o medíocre, não é o inteligente mas o menos dotado, não é o trabalhador e aplicado, mas o insolente e desorganizado. Na escola, no emprego, em quase tudo.

Será a sociedade do «oitenta« a ideal? Penso que não.
O enviesamento da curva representativa da lei cósmica, diz-nos que não, seguramente. Porque a lei cósmica, sendo cósmica e universal, aplica-se a tudo e portanto também ao nosso comportamento enquanto pessoas racionais
.

Uma lei cósmica enviesada e deslocada da sua mediana, é uma lei em tensão, forçada e pode partir.
E quantas vezes não se tem partido?
Entre as pessoas e na sociedade no seu conjunto...!

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