segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

PORTUGAL PRISIONEIRO

Curiosamente, em meados do ano findo de 2009, foi publicado um livro da autoria do Prof. Medina Carreira e do Dr. Eduardo Dâmaso, Director do Correio da Manhã, com o título «Portugal que Futuro?», muito semelhante ao que em 1973 foi escrito pelo então General António de Spínola e que lhe deu o título de «Portugal e o Futuro».

Curiosa coincidência esta, passados 37 anos!

Em 1973 Portugal vivia uma das crises mais graves da sua história.
Em 2010, Portugal vive uma das mais graves crises da sua história!

Se recuarmos no tempo, também em 1820, em 1910 e em 1926, Portugal vivia uma das mais graves crises da sua história.
Aliás, toda a história de Portugal é uma história de crises, desde D. Afonso Henriques, o fundador da nossa nacionalidade.

Parece que em Portugal as crises são cíclicas, persistentes e fatalistas. Vivemos permanentemente em crise!

A grande esperança com a revolução socialista de 1974, a revolução dos cravos, o cravo, a flor da liberdade e da esperança, da Vila Morena, da igualdade e da fraternidade, está-se a transformar, não na mais grave crise da história de Portugal, mas no maior pesadelo da história recente ou remota de Portugal.

Spinola tinha razão no contexto de 1973.
Medina tem razão no contexto de 2010.
Razões diferentes por certo; no primeiro caso a guerra colonial e no segundo a economia e a incompetência dos políticos.

Só que em 1973, havia várias saídas para crise, entre elas a que acabou por prevalecer: uma revolução e a consequente destituição, pela força, do poder instituído.
Em 2010, não se vislumbra saída! Ou se houver só um milagre, ou o «Big-Bang».

Portugal encontra-se prisioneiro do sistema que criou e que, não só não o soube gerir, como tem muita dificuldade em lidar com ele.
Portugal está refém de si próprio, encarcerado dentro das quatro paredes, sem porta de saída, que construiu.

A teoria, o idealismo, a utopia fundamentalista, nada têm a ver com a realidade.

De facto, em trinta e seis anos de revolução socialista e democrática representativa, expressão muitas vezes de um voto não representativo e subjectivo e em que quase metade da população se demite sistematicamente de votar, Portugal tem vivido em crise permanente.

Ninguém se consegue entender com ninguém.

O poder executivo não se entende com o corporativo, o legislativo não se entende com o excecutivo e o corporativo, o judicial embora se entenda bem com o executivo e os nobres da democracia, não se entende com o povo. O executivo não se entende com presidencial. O empregado não se entende com o empregador.
O Clero é perseguido e o seu papel desvalorizado.

É esta a democracia que temos...

O país afunda-se ou caminha para o abismo, como lhe queiramos chamar, mergulhado nas contradições da utopia, do idealismo, do fundamentalismo e sob a influência das mãos invisíveis dos donos da revolução, cujos dedos indicadores apontam o caminho: o abismo.

Abismal é ainda o comportamento deste povo que, condenado ao mesmo fado fatalista de sempre, lamenta-se em surdina, porque é perigoso falar alto, mas nada faz para se indignar, para exigir que o respeitem.

Medina tem razão e o tempo, para mal de todos nós, vai dar-lhe razão!

Sem comentários:

Enviar um comentário