Ao iniciarmos mais um ciclo de dez anos, ao entrar na segunda década do século XXI, Portugal vive um das mais graves crises da sua história!
É assim em 2010, foi assim em 1974, foi assim em 1985, por razões diferentes.
De qualquer modo a crise actual que se chama economia e estado social, juntamente com outros ingredientes, resultou da revolução de 1974.
Bem intencionada, é certo, como todas as revoluções, pretendeu-se romper com um sistema político, social, económico e cultural, considerado gasto e ultrapassado, incapaz de resolver os grandes problemas nacionais com que Portugal se defrontava nessa altura.
E os grandes problemas nacionais eram, não tanto a economia e o estado social, mas a guerra colonial sem fim à vista e o sistema político autoritário de partido único.
Em 1974 Salazar já nem existia , os seus continuadores tentaram liberalizar o regime, mas não conseguiram, perante a pressão dos grandes interesses económicos dessa altura.
Uma revolução tinha de romper radicalmente com o sistema vigente e, como todas as revoluções o pretendem, substitui-lo por outro considerado melhor.
O sistema político, económico, social e cultural saído da revolução de 1974, resolveu, numa penada, o grave problema com que Portugal se defrontava nessa altura, a guerra colonial. Mandou parar a guerra e de imediato entregou as antigas colónias, de «mão beijada» aos seus donos: os africanos autóctones daqueles territórios.
A tragédia que se seguiu nessas paragens, durante longos anos, de luta pelo poder, demonstrou em drama e sofrimento para essas populações, a incredulidade e a utopia dos senhores do poder que emergiu da revolução de 1974.
Mas, o sistema instituído em 1974, porque pretendia romper radicalmente com o anterior, apressou-se a colocar-se no extremo oposto, julgando ser esta a melhor solução para o Povo Português.
Se o anterior era bem à direita o novo pretendeu colocar-se bem à esquerda, tendo embora como pano de fundo um sistema democrático multipardidário que, só anos mais tarde foi consentido.
O poder inicial saído da revolução pretendia pura e simplesmente instaurar uma ditadura comunista em Portugal, tendo até iniciado o processo, com a destruição do que restava da economia «capitalista» portuguesa.
O sistema económico, politico, social e cultural acabou por estabilizar, por via de eleições democráticas, numa posição mais central, mas condicionado fortemente pelas centenas de regras socializantes e marxizantes, emergentes da constituição de 1976, cujos redactores, alguns deles militavam no Partido Comunista.
As revisões constitucionais que se seguiram pouco alteraram. A essência socializante/marxizante manteve-se. Os mecanismos criados de bloqueio de revisão de certas regras impediram e impedem que esses aspectos possam ser revistos e evoluam para formas de vivência social menos marxizantes.
O resultado deste processo foi e é, a obrigatoriedade de qualquer governo saído de eleições, seja de esquerda ou de direita, ter de governar segundo o modelo e os parâmetros impostos pela constituição saída da revolução de 1974, ou seja sempre à esquerda.
O MFA, o grande mentor da revolução, ainda presente, agradece, pois o seu sonho e o seu ideal foram realizados.
Agora a grande questão!
Portugal ganhou com isto? Portugal está melhor? Há menos pobreza? A economia e o sistema social funcionam? São as grandes interrogações!
Penso que não! De forma nenhuma!
Portugal não conseguiu libertar-se das teias marxistas saídas da revolução de 1974. Portugal não conseguiu evoluir no sentido de robustecer a sua economia, criar riqueza e com ela proporcionar a manutenção de um bom sistema social, de baixas taxas de desemprego, de um Estado regulador mas de dimensão reduzida à nossa condição.
Paralelamente a este encarceramento em que Portugal se encontra, encerrado numa caixa de pandora, uma multiplicidade de nefastos elementos oportunistas emergiram, ruindo e roendo os alicerces da carcaça que ainda resta, quais abutres esfaimados num festim, devorando os despojos.
O sistema económico português, para além de confuso, porque mistura marxismo com capitalismo, nem é uma coisa nem é outra. É uma espécie de marxismo disfarçado de capitalismo, a que poderíamos chamar de marxicapitalismo.
Por isso, tendo em conta o seu confuso modelo conceptual, tem necessariamente de funcionar mal, defraudando e frustrando os agentes económicos.
Mas, não é apenas o modelo conceptual do nosso sistema económico que faz com ele funcione mal. Há outros factores nefastos que também o condicionam.
Desde logo o próprio Estado que, tendo engordado tanto nas últimas duas décadas, transformou-se num gigante que absorve e consome, só por si, mais de metade do que o pais inteiro produz.
Ao consumir tantos recursos que são retirados da economia real, das empresas, dos cidadãos e do endividamento externo, sob a forma de impostos, contribuições, taxas e outras receitas fiscais e do crédito externo obtido, o Estado colocou um garrote na garganta dos empresários, isto é, está a estrangular a economia e a impedir o seu desenvolvimento e consequentemente a criação da riqueza necessária para a sustentabilidade de um sistema social credível.
Outros factores condicionantes poderia enumerar: as leis fiscais, as leis laborais, o sistema judicial, o sistema educativo, a ausência de política demográfica que fomente a natalidade e com ela a substituição equilibrada das gerações, tendo em conta o envelhecimento da população, o excessivo poder corporativo e sindical, fortemente limitativo da acção de qualquer governo, o poder político carreirista e incompetente, o voto subjectivo ditado pelo interesse individual e clubista, esquecendo o colectivo e a avaliação do desempenho dos governos, o voto da desilusão e abstencionista que caminha para metade do eleitorado, etc, etc,
Todos estes ingredientes estão a colocar Portugal nos últimos lugares do «ranking» europeu e, com o alastrar da pobreza que já atinge a classe média , qualquer coisa como ¼ da população do país, a caminhar para uma espécie de Venezuela da Europa.
Com mais de 20 anos de atraso, só agora os governos começam a dar-se conta do estado calamitoso a que chegámos e não sabem o que fazer!
Reagem remendando o casaco esfarrapado já vestido pelo povo português.
Mas se bem remendam aqui, logo surge outro buraco ali...nada se resolve em definitivo! E a inspiração falta, porque acima de tudo está a carreira, o poder, a manjedoura orçamental.
Como foi isto possível?
A maioria da população, alheada, narcotizada, não entende nem quer entender, pelo menos até que o «subsídio» e a «subvenção» vão caindo na sua conta bancária. Quando deixar que cair aí é que vai ser pior! E, ao ritmo a que vão as coisas, um dia quando menos se espera, vai mesmo deixar de cair.
São quase 6 milhões de pessoas a depender do Estado, numa população de 10 milhões.
As principais causas explícitas ou implícitas estão descritas atrás.
Como dar a volta a isto?
As soluções são conhecidas mas, não só não as podemos implementar, porque estamos encarcerados e limitados pelas quase trezentas regras constitucionais e tudo o que se possa fazer para dar corpo à solução, terá grande probabilidade de ser declarado inconstitucional , como ainda o atraso de 20 anos na implementação da solução, não creio que vá permitir a recuperação do atraso crónico, sistémico e endémico em que estamos mergulhados.
Mas, mais vale tarde do que nunca!
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