quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O CAPITAL E O TRABALHO

São os dois factores básicos da produção.
Antigamente, quando a moeda não existia e portanto não havia acumulação de dinheiro, a produção fazia-se só com trabalho.
No entanto, mesmo assim, alguém mandava e outros obedeciam, por força de circunstâncias próprias do contexto politico e social dessas épocas. O trabalho escravo é apenas um exemplo.

Todavia, a forma mais elementar de produção, feita apenas com a intervenção do factor trabalho, encontramo-la na pré-história, quando o homem primitivo se dedicava a tarefas de sobrevivência, como caçar, colher frutos, arrancar raízes de árvores e arbustos, a procura de água.

Na Idade Média, com o aparecimento da moeda, como instrumento de troca, levou progressivamente à sua acumulação, pelos nobres e alguma classe social de comerciantes e artífices abastados.
O mercantilismo e as primeiras teorias económicas com Saint-Simon, Adam Smith e outros, facilitou a circulação de moeda e a sua acumulação, assim como de produtos transaccionáveis.

As novas descobertas científicas dos séculos XVIII e XIX , fizeram surgir as primeiras indústrias e a revolução industrial e com elas os primeiros passos desta relação difícil entre o capital e o trabalho.

Nesta época e em consequência da acumulação de dinheiro (capital) por famílias oriundas muitas delas dos antigos nobres e negociantes medievais, cujas fortunas eram transmitidas, praticamente incólumes, entre ascendentes e descendentes, o financiamento das indústrias com estes capitais acumulados foi fácil.

E também foi fácil a mobilização de mão-de-obra oriunda dos campos, cujos protagonistas, os servos medievais descendentes dos antigos escravos, ocorreram às cidades industrializadas em busca de uma vida melhor.

O paradigma das primeiras relações entre o capital e o trabalho aparece aqui, assim como a formulação da primeira função de produção, cujas variáveis são exactamente estes dois factores produtivos.

Nesta época, a relação entre o capital e o trabalho era difícil, no sentido em que o detentor do capital, dito capitalista, explorava a seu favor o contributo deste importante factor produtivo chamado trabalho.

A promoção do servo a operário fabril pouco beneficiou a sua condição. A retribuição paga pelo seu trabalho era diminuta e mal dava para sua sobrevivência. A sua condição de servo continuou.

Alguém, já no século XIX, reparou nesta difícil relação, especialmente na enorme desproporção de benefícios entre ambas as partes, em desfavor do recém-promovido operário fabril.

Esse alguém chamava-se MARX, para citar a figura mais relevante, embora nomes como Engels e outros, estejam ligados a esta problemática.
Marx ao estudar a relação entre capital e trabalho, na sua obra «O Capital», constatou aquilo que de facto era a realidade:
- A apropriação, pelo capitalista, da mais-valia do trabalho, ou seja da apropriação quase exclusiva do produto do trabalho.

Estabeleceu uma teoria conhecida como o «marxismo», sobre toda esta problemática.
O sindicalismo e com ele a greve, apareceram neste contexto de exploração desenfreada do trabalho, como mecanismos de defesa.
De qualquer modo o contexto da época era um contexto de extremos, apenas uma parte era beneficiada: o detentor do capital.

Mal haveria de saber Marx que, já depois da sua morte, tal teoria haveria de revolucionar as sociedades, no século seguinte, o século XX e dado origem às mais diversas teorias, sub-teorias, teorias derivadas e outras, de como organizar as relações de produção (entre o capital e o trabalho) e com ela a própria organização das sociedades, nas suas vertentes politica, económica, social e cultural.

A partir daí, e durante todo o século XX, as mais diversas formas de organização económica e social surgiram, desde as colectivistas, em que todos os meios de produção são apropriados pelo Estado, passando o Estado a ser o capitalista (capitalismo de Estado), até às socialistas e sociais-democratas, em todas as suas variantes e no extremo oposto às liberais puras.

Fazendo a retrospectiva do passado, digamos que a humanidade ainda não se conseguir entender quanto à fórmula ideal, apesar de todos os ensaios já realizados, uns melhor sucedidos outros pior, mas nenhum ainda o ideal, que satisfaça plenamente os dois protagonistas deste «puzzle» difícil de encaixar.

E o que está verdadeiramente em causa é que, deste entendimento tudo depende:
- O crescimento económico e o consequente desenvolvimento social, a organização e o progresso das sociedades, a cultura prevalecente, a prosperidade e até, de certo modo, a felicidade do Homem.

Na época de Marx viviam-se tempos de extremos, o capitalista era um senhor e o operário pouco mais do que um escravo.
Hoje, no século XXI, vivem-se igualmente tempos de extremos, o capitalista deixou de ser um senhor e passou a ser pouco mais do que um escravo.

O empresário de hoje, ainda apelidado de capitalista, antigo termo marxista, é um escravo vítima da organização que criou e das condições que do exterior, institucionalmente lhe impuseram, fruto das teorias derivadas directa ou indirectamente do marxismo e da reabilitação fundamentalista das palavras de ordem da revoluções francesa e adoptadas pela revolução portuguesa.

Infelizmente, o operário de hoje, fruto da sua cultura e formação sindicais, nem se apercebe desse facto.
Para ele o «patrão», o «capitalista» continua a ser o seu inimigo, o explorador sem escrúpulos, que ainda se apropria totalmente da mais valia do trabalho.
Mas, a realidade do mundo empresarial é bem diferente!

Quantos empresários não têm horário, não têm fins de semana, não têm férias, não têm ordenado, que pagam muitas vezes do seu bolso, porque a empresa não pode, o ordenado ao trabalhador, para que a este nada falte, quantas úlceras empresariais não são tratadas nos hospitais, quantas noites de insónia, quantos antidepressivos...! Tudo para «segurar a empresa» e evitar o pior!

Já lá vai o tempo em o capitalista se apropriava da mais-valia do trabalho.
Hoje é o trabalhador que, em muitos casos se «apropria» da mais valia do capital.
Dois séculos depois de Marx, estamos novamente nos extremos.

Mais uma vez não conseguimos equilibrar a Lei Cósmica; continuamos com ela enviesada, forçada, perigosamente deslocada da sua mediana, agora para o lado contrário.
O próprio Marx se fosse vivo, ficaria indignado, diria que não desejaria ter ido tão longe...

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