segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

OS COMPLEXOS DA DIREITA E DA ESQUERDA

Se há termos que me incomodam sobremaneira, são os de «esquerda» e «direita»! Faz-me lembrar os tempos da «tropa»....
Incomoda-me o cansaço e a leviandade com que são utilizados no dia a dia.
Incomoda-me, acima de tudo, as deturpadas conotações que lhes são atribuídas.

Para além de ultrapassados no tempo, encerram em si mesmos uma grande confusão, tal a variedade de ideários e conotações políticas que envolvem.

Além do mais, foram acrescentados, especialmente nos tempos do PREC (Processo Revolucionário em Curso), da revolução portuguesa de 1974, as mais diversas e disparatadas conotações.

Por exemplo que a «direita» era a reacção, o fascismo e a contra-revolução, que era a facção dos patrões e capitalistas, enquanto a esquerda era a «revolução», o socialismo e a facção dos operários e trabalhadores, em suma a direita o diabo e o inferno e a esquerda o paraíso.

Historicamente os termos direita e esquerda remontam a 1789 ou mesmo antes nos regimes monárquicos absolutistas, quando nos Estados Gerais da Revolução Francesa, os monárquicos se sentavam à direita do Rei e o grupo que apoiava as mudanças radicais da revolução, inclusive a instauração da República, se sentava à esquerda.

Parece assim que, historicamente, o termo esquerda, no contexto em que apareceu no século XVIII, estava associado a mudança (revolução) e a direita ao conservadorismo (à época, a manutenção do regime monárquico).

Esta conotação da esquerda com revolução e a direita com conservadorismo, caracterizou um período histórico bem definido e apenas tinha a ver com a posição espacial, ocupado por representantes de determinadas facções ou representantes da sociedade francesa, em relação à tribuna real.

Esta associação e conotação de esquerda com revolução e direita com conservadorismo, manteve-se, na minha perspectiva erradamente, ao longo dos tempos e ainda hoje perdura, agravada com o peso de todas as outras conotações que, no processo histórico das sociedades, lhes foram atribuídas.

De tal forma assim foi que hoje, muita gente associa a direita ao fascismo, ao diabo e ao inferno e a esquerda ao céu e ao paraíso!

Extrapolando para o mundo do capital e do trabalho, ou de outra forma ao mundo das empresas (empregadores) e ao mundo do trabalho (empregados) hoje, a esquerda está associada aos empregados e a direita aos empregadores (patronato), em suma, a esquerda ao céu e a direita ao inferno.

Colossal equívoco como se pode constatar por esta pequena síntese histórica!

E o equívoco e a confusão continuam, a ponto de se extremarem posições, de se criarem ambiguidades, de se afastarem pessoas umas das outras, de se criarem inimizades entre as pessoas, de se criarem tensões exacerbadas no mundo laboral entre empregadores e empregados e até de influenciar os legisladores penalizando a direita e beneficiando a esquerda e no mundo do crime, criminalizando a vítima e descriminalizando o criminoso!

Tudo isto porque hoje, a esquerda é o céu e a direita o inferno!

Os representantes da sociedade francesa que se sentaram ou ocuparam o espaço à esquerda do rei e os que ocuparam o espaço à direita do mesmo, se lhes fosse dado o privilégio de voltarem à vida e observarem hoje, no que resultou a sua opção de se agruparem de um lado ou do outro da tribuna real, divertir-se-iam à gargalhada e diriam, ou que estamos todos loucos ou as pessoas de hoje possuem uma capacidade extraordinária de imaginação.

Como não é certo que estejamos todos loucos, com muita probabilidade o que prevaleceu ao longo de duzentos anos foi uma extraordinária capacidade de imaginação da espécie humana e, como conveio em determinadas circunstâncias e em determinados contextos históricos e sociais, uma certa dose de intoxicação política formatada à medida.

De facto, pensando bem, não faz sentido falar de esquerda nem de direita, não só porque os termos estão ultrapassados no tempo, como e acima de tudo, carregam um peso de ambiguidades, conceitos e preconceitos perigosos, geradores das maiores tensões sociais.

Por isso, se não somos conservadores, e gostamos do progresso, temos de deixar a dicotomia do céu e do inferno, de Deus e do diabo, da esquerda e da direita, do trabalhador e do patrão.

Afinal qual é o objectivo ultimo de qualquer sociedade?

Viver em harmonia social, com prosperidade colectiva e individual, em suma construir um espaço de igualdade de oportunidades, dentro da diversidade, não da igualdade fundamentalista, mas onde todos, com o seu trabalho e as suas capacidade se possam realizar e ser felizes.

Faz então sentido falar de esquerda ou de direita?

Penso que não!
O que importa é evitar os extremos e os extremismos, porque se os conseguirmos evitar, a solução estará no equilíbrio, no meio, na zona onde a Curva de Gauss concentra a maior parte dos seus valores, e por isso em vez de falar de esquerda e de direita eu preferiria falar antes, de «democracia social flexível»

Para isso, temos de dar as mãos, acabar de vez com esta dicotomia radical e radicalizada e a partir do equilíbrio da relação básica, entre o capital e o trabalho, entre o empregador e o empregado, tidos como amigos e colaboradores e não como inimigos, lançar as sementes para uma nova sociedade.
A solução está aqui.

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