terça-feira, 27 de abril de 2010

DA PALMATÓRIA E DAS ORELHAS DE BURRO, AO DIREITO AO SUCESSO

Eu sou do tempo da palmatória, usada nas escolas primárias dos anos 50 do século passado.

Estava sempre colocada em cima da secretária da professora ou do professor. Para que todos os alunos a vissem e se intimidassem. Todos sabiam para que servia.

Este bocado de madeira rectangular com uns bons 35 cm de comprimento e uns 6 cm de largura, não só intimidava, como era usado ao mais pequeno pretexto, ao mais pequeno acto de indisciplina dentro da sala de aula e nem pensar o que aconteceria a um aluno que ousasse sequer manifestar um esboço de falta de respeito ao professor.

Havia professores que, além da palmatória usavam outros instrumentos de intimidação e de castigo, como varas e ponteiros de bambu, daqueles que têm nós e aleijavam ainda mais.

O número de réguadas (aplicação da régua com força na palma da mão) e a aplicação do castigo numa só mão ou em ambas, dependia da gravidade da falta cometida.
O ponteiro e a vara serviam para aplicar ponteiradas na cabeça e a vara para aplicar varadas na parte superior das mãos!.

A minha professora da quarta classe, da escola primária de Loulé, terra onde nasci, senhora dos seus 60 anos, cabelo já grisalho, era conhecida pela D. Quita.. Nunca soube o seu verdadeiro nome, nem nunca me interessou saber.

O que sabia é que esta senhora, apesar da sua aparente fragilidade física e da idade, era um verdadeiro carrasco dentro da escola e da sala de aula. Ao mais pequeno pretexto não hesitava em aplicar réguadas, ponteiradas e varadas a ponto de, alguns alunos irem para casa com as mãos a arder e com a cabeça cheia de «galos».

Quando chegávamos a casa, de nada servia queixar-mo-nos aos nossos pais. A resposta era sempre a mesma:
- É muito bem feita, para não te portares mal na escola! Ainda devias ter apanhado mais.

Alguns pais, ao terem conhecimento da situação, ainda aplicavam castigos suplementares, para que nos ficasse de emenda e porque se sentiam envergonhados perante o comportamento dos seus filhos na escola!

Era o caso do meu que, perante o que tinha acontecido (falta à escola para ir jogar futebol para o chamado campo da bola local), de que lhe foi dado conhecimento na hora por uma aluno da turma a mando da professora, ia-me buscar ao local, puxava-me as orelhas (era usual na época os pais aplicarem puxões de orelhas aos filhos que se portassem mal) levava-me a casa sempre puxado pela orelha e, depois de chegar-mos, tirava o cinto e aplicava-me um castigo exemplar.

Deus lhe perdoe, mas era assim!

Quando um aluno tinha pouco aproveitamento na escola e não conseguia aprender ou era pouco aplicado, como castigo, eram-lhe colocadas umas orelhas de burro na cabeça e colocado á janela da sala de aula, para gozo e sarcasmo de todos e publicamente ser vexado.

Era uma barbaridade! Mas era a cultura da época e do sistema educativo nacional.

Esta geração que passou por isto, foi essa que construiu Portugal, que fez em grande parte o que é hoje o nosso país. Melhor ou pior, mas fez!

Não tinha computadores, nem máquinas de calcular, nem Internet, nem telemóvel e nem sabia o que era um hambuguer do Mac’Donalds. Contentava-se com um «pirolito» ou uma «larangina C», quando o rei fazia anos!

E sobreviveu! E aprendeu uma grande lição:

- É que nada de construtivo se pode fazer, sem disciplina, sem ordem, sem formação, sem instrução e sem esforço.
- E também que, se fomos avaliados e observado o nosso comportamento, os nossos interesse e performance melhoram.
- E que o sucesso pressupõe esforço, trabalho, dedicação, o sucesso conquista-se!

Por isso, uns são melhor sucedidos do que outros e é esta hierarquia de competências, de capacidades e de aptidões que torna as sociedades dinâmicas e gera a mobilidade social..

Hoje, meio século depois, não é assim! E ainda bem que não é!

Só que caímos no extremo oposto. Como sempre e em tudo, após as revoluções, há sempre a tendência, no processo de substituição de um estado social considerado ultrapassado, para outro, não encontrarmos um ponto de equilíbrio e, por ilícito aproveitamento de forças anarco-populistas, acabamos por cair mais tarde ou mais cedo, no extremo oposto.

Foi o que aconteceu em Portugal e nalguns países europeus e da chamada civilização ocidental.

O anarquismo é em si mesmo a utopia do irreal, o completo desfasamento da realidade e da ordem natural.. É a filosofia do aberrante, das experiências utópicas de uma sociedade que só existe no imaginário.

O resultado final deste processo é a destruição completa das sociedades e dos seus alicerces naturais. É exactamente o final desejado pelo anarquismo. Das cinzas resultantes, pensam eles, ressurgirá a nova sociedade, limpa de valores, de princípios, de regras sociais, vazia de tudo, onde cada um faz o que quer num teórico e imaginário universo de liberdade absoluta.

O anarquismos é em si mesmo, a completa negação da Lei Cósmica, da Lei Normal, dos Equilíbrios Naturais e da Ordem Universal Criada.

O anarquismo, no seu processo destruidor das sociedades, tem prioridades, começa pelo essencial.

E o essencial é o aparelho educativo das gerações vindouras. Por isso se instalou em força no Ministério da Educação.

Os seus diabólicos tentáculos, autênticas metástases cancerosas, têm um nome e chamam-se Comissários Políticos que, amordaçando e manietando completamente os professores, exigem a aplicação na prática da utopia.

Os alunos agradecem, a escola transformou-se num local de diversão para estes e de verdadeira agonia para aqueles que, para sobreviverem e garantirem o ordenado ao fim do mês, têm de passar diariamente por toda a espécies de provações e de vexames

A docência primária, secundária e até universitária passou a ser uma profissão de alto risco e terá tendência a ser cada vez menos procurada.

É esta a realidade 50 anos depois da palmatória e das orelhas de burro!

A nova utopia, só própria de internados em manicómio, chama-se Direito ao Sucesso, dos alunos claro!

Baseia-se esta teoria num conceito Anárquico de «Educação Avançada» sem acção coerciva, sem disciplina e constituindo os alicerces de uma utópica Coexistência Harmoniosa das Sociedades.
Estes princípios Anárquicos estão a ser hoje ensinados aos nossos filhos nas escolas por imposição dos ditos Comissários Políticos.

Esta anárquica metodologia de ensino baseia-se no princípio da concertação e negociação entre o professor e o aluno de tudo o que diga respeito à actividade escolar, eliminando portanto, qualquer hipótese de autoridade do professor sobre o aluno:

- Disciplina na sala de aula
- Avaliação
- Faltas
- Métodos de ensino e de aprendizagem

e, garantindo sempre o direito ao sucesso do aluno, tenha ou não aproveitamento, tenha ou não faltado às aulas, tenha ou não sido indisciplinado.

Ou seja, o sucesso escolar do aluno fica, à partida, garantido, não sendo necessário qualquer esforço, aplicação ou empenho da parte daquele para o conseguir!!!

Na prática acaba por ser realmente isto pois, mesmo nos poucos anos em que há provas de avaliação, estas são elaboradas e entregues aos alunos, igualmente segundo o princípio anarquista da «prova de contexto», que não avalia rigorosamente coisa nenhuma.

É legítimo perguntar qual vai ser o produto final deste processo educativo.

A resposta é óbvia: este produto vale zero!

Ou seja, quando acaba a escolaridade obrigatória (leia-se estar inscrito na escola durante um certo número de anos) este aluno finalista de estudos secundários é um completo ignorante que não sabe sequer metade da matéria que era dada antigamente na instrução primária, que pede a máquina de calcular para determinar o valor de 5:1, por exemplo, como se tem constatado em experiências realizadas nas escolas por órgãos independentes.

Mas, para além de não ter as faculdades mentais estimuladas (memória e inteligência principalmente) esta estranha criatura saída directamente das fábricas do anarquismo, está desprovida quase de vontade própria e de motivação, pois não foi ensinada:

- A assumir responsabilidades
- A fazer esforço seja para o que for
- A manter a auto disciplina
- A aprender regras sociais
- A estar integrada em organizações viáveis ( com entropia positiva )

A única coisa que saberá fazer é brincar, divertir-se, viciar-se em drogas, dedicar-se ao prazer das práticas modernas de sexo, à homossexualidade para variar e ingerir álcool em abundância.
De resto não saberá fazer mais nada!


É este ser estranho, mero número social a que foi reduzido, que nos irá substituir num futuro não muito distante e tomar conta de Portugal, mas ao mesmo tempo enfrentar grandes dificuldades de adaptação à realidade das organizações onde irá trabalhar, mundo completamente diferente daquele a que esteve habituado durante a adolescência e parte da juventude e para o qual não foi preparado, nem mental, nem habilitacional, nem culturalmente.

De forma nenhuma proponho o regresso à palmatória e às orelhas de burro, mas advogo o equilíbrio e a recusa absoluta dos extremos, porque como dizia Spínola, uma das poucas pessoas com bom senso da revolução de 1974, os extremismos só a extremos pode conduzir!

O que é censurável é a irresponsabilidade dos políticos que nos governam, que assobiando para o lado, deixam que isto esteja a acontecer, mas também do seu eleitorado que, completamente alheio e sem a mínima percepção desta realidade, deseja apenas que o seu subsídio não falte e que só o partido do poder pode assegurar.

E o voto aí está, sempre inexoravelmente nos mesmos pois, o que importa é garantir o subsídio e a vida regalada do encosto à bananeira.

O resto, que vá para o diabo...!

1 comentário:

  1. A indisciplina que se vive nos dias de hoje resolvia-se com regresso da réguada. Violência como eu sei que antigamente existia definitivamente, não. Por estamos tão traumatizados com essa realidade arrepiamos só de pensar na palmatória e não admitimos que uma réguada seja menos traumática do que a berraria e a confusão das salas de aula actuais. Nem 8 nem 80...

    ResponderEliminar