sexta-feira, 16 de novembro de 2012

UMA NOVA ARQUITECTURA DE SOCIEDADE NÃO SOCIALISTA (II)



 

Tal como os conceitos de esquerda e direita, também o de «capitalista» e de «capitalismo» são ambíguos.

De facto, e tendo em conta que o capital económico, isto é, o que resultou do investimento e se encontra aplicado em instrumentos de produção, tem de estar sempre presente na função de produção, tal como o trabalho, este tipo de capitalismo (privado ou público) será sempre necessário.

E, naturalmente alguém (um individuo, vários indivíduos, uma instituição ou o próprio Estado) terão de o disponibilizar, para que a produção de bens e serviços seja possível, porque, como se demonstrou, um só factor produtivo,  só o trabalho ou só o capital, não o permitem.

Se o conceito de «capitalismo», no sentido económico,  resulta da aplicação de capital, servindo-se da exploração injusta e desequilibrada do factor trabalho, com vista a beneficiar, quase exclusivamente o investidor, estamos perante um desequilíbrio na distribuição do output gerado e, neste caso, há que encontrar mecanismos que corrijam  a assimetria.

Se o conceito de «capitalismo» resulta da aplicação de dinheiro em investimentos financeiros meramente especulativos (intervenção em mercados financeiros) com o intuito de multiplicar o investimento efectuado, sem que haja propriamente a produção directa de bens e serviços, estamos igualmente perante um desequilíbrio e uma assimetria que têm de ser corrigidos (regulação dos mercados financeiros e mecanismos fiscais, entre outros).

Por estas razões, é um facto que os termos «capitalista» ou «capitalismo» são ambíguos, tal como seria ambíguo falar de «trabalhista» ou «trabalhismo», pois carecem de precisão e rigor, e resultarão mais de preconceitos ideológicos, eles próprios também ambíguos.

Acresce ainda o facto de, mesmo nos sistemas totalitários haver sempre capitalismo (capitalismo de Estado) e igualmente especulação financeira estatal, para além duma exploração desenfreada do homem, muito mais feroz do que nos regimes de economia social de mercado, com regulação eficaz.

Voltamos assim, à questão de fundo:

O problema da regulação da relação entre capital e trabalho pois, mais do que um problema ideológico e portanto eivado de ambiguidade é, acima de tudo, um problema de regulação e de distribuição justa e equilibrada do rendimento gerado pela intervenção conjunta de dois factores produtivos, sem os quais não é possível a produção de bens e serviços.

Por isso, o problema ideológico, cuja origem remonta desde há séculos a esta parte, mas com acuidade particular nos séculos XVIII e XIX, com o advento das revoluções industriais, já não devia assumir hoje foros de radicalização nas sociedades actuais, dada a enorme evolução dos contextos económico e social.

E, por isso, também e de igual modo, os conceitos de esquerda e direita, que remontam aos tempos da revolução francesa e resultaram apenas do posição em que se sentaram em relação ao trono real, os representantes da revolução e os representantes da nobreza.

Já é tempo de se pensar de outra forma, já é tempo de sermos mais racionais na definição dos conceitos, já é tempo de sermos mais realistas e inventar novos termos e conceitos de acordo com os tempos actuais, já é tempo de deixarmos as ideologias e pensarmos antes em metodologias, formas concretas de resolução dos problemas e questões que importam a toda sociedade e que sirvam toda a sociedade.

Como toda a arquitectura da sociedade se baseia na forma como institucionalizamos a relação entre capital e trabalho e, assumindo como pressuposto, que a organização Estado, tem de ser dimensionada de forma a que cumpra alguns pressupostos fundamentais, designadamente:

Assumir a dimensão mínima necessária para que possa desempenhar as suas funções essenciais e que devem servir a toda colectividade;

● Não exceder um determinado limite, em custo financeiro para o conjunto da sociedade, determinado pela capacidade do sistema económico (dependendo de país para país e do modelo social escolhido)

● Não asfixiar o sistema económico, de forma a que este disponha dos excedentes necessários para crescer e desenvolver-se, criar emprego com remuneração condigna, dispor de reservas de segurança, cumprir algumas funções sociais em parceria com o Estado e contribuir com um mínimo de esforço fiscal, em função do rendimento gerado e da taxa de esforço social desenvolvido.

todo o processo de desenho da nova sociedade começa por aqui:

● Que tipo de relação estabelecer entre capital e trabalho e como distribuir o rendimento gerado;

● Que modelo de desenvolvimento queremos seguir e que seja mais adequado para o país;

● Quais as funções essenciais do Estado e a partir daqui que desenho para a sua estrutura;

Toda a rede de relações, individuais ou colectivas, de instituições (públicas e privadas) e suas funções, todas as projecções futuras dos objectivos a atingir e do que queremos ser no futuro, enquanto cidadãos e entidade política e social colectiva, assenta naqueles alicerces.

Por isso, é importante que, de forma realista e pragmática, sejam definidos e estabelecidos aqueles três pilares, sobre os quais se vai erguer a nova sociedade e a sua teia de relações e que níveis de desenvolvimento e bem estar colectivos, pretendemos atingir, com o espaço geográfico e com os recursos internos e externos de que dispomos.

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