Cada vez mais se avolumam os
factos que comprovam que a entrada de Portugal na União Europeia, foi um erro e
um embuste.
Desde o
ilusório crescimento da primeira década após a entrada na então CEE em 1986,
impulsionado por factores diversos, alguns durante o período do chamado
cavaquismo (1986-1995) e outros por impulso na própria União Europeia, em
particular do eixo franco-alemão, até à entrada na moeda única em 2001,
Portugal só perdeu com a entrada na UE.
De facto,
neste período que se seguiu à segunda bancarrota, em 1983 – 1985, pela mão de
Mário Soares, então primeiro-ministro, a que se seguiu o cavaquismo, a ilusória
aparência de prosperidade, foi devida essencialmente a uma conjuntura mundial
favorável, que alterou as relações de troca a favor de Portugal (grande
diminuição dos preços do petróleo e a desvalorização do dólar) e factores
internos igualmente favoráveis, designadamente o avultado investimento
estrangeiro, a chegada das primeiras tranches dos fundos comunitários e a
desvalorização deslizante do escudo, realizada por Cavaco Silva, então primeiro-ministro.
Nesta altura
ainda tínhamos soberania monetária e o país podia jogar com a desvalorização
cambial, como forma de tornar a economia mais competitiva.
Mas, foi
ainda durante este período e em parte durante o consulado de Guterres, que o
pior aconteceu.
Esta
aparente prosperidade que nos fascinou, deixou-nos suficientemente embriagados
para não termos dado conta da sinistra ofensiva da Europa Central, via Comissão
Europeia, que a patrocinou e que
consistiu em obrigar Portugal e desmantelar e destruir os principais recursos
económicos que eram o sustentáculo da sua riqueza: a agricultura, a pesca e a
indústria.
A troco de
subsídios efémeros, isto é, que pouco perduram no tempo, como contrapartida.
Foi o
primeiro embuste.
A estratégia
era óbvia: criar no sul da Europa mercados de exportação para os países do
centro, por via do desmantelamento dos principais recursos daqueles e da sua consequente
dependência de importações.
A curva de rendimentos daqueles
países começa a subir, impulsionada por esta estratégia, enquanto a dos países do
sul, desce cada vez mais, tornando-os deficitários e cada vez mais endividados.
O aparente sucesso de Portugal
por via dos factores externos apontados e alguns internos favoráveis, porque
ainda tinha autonomia monetária, foi totalmente anulado pela astuciosa
estratégia europeia.
Para a UE foi uma sucesso, para
Portugal foi o princípio do fim.
Mas, o
aprisionamento total do país, viria a seguir, com a entrada na moeda única, o
euro, em 2001 e com a vinculação do país ao tratado orçamental.
Não só perdemos
a soberania monetária, mas também a orçamental. Portugal deixa de ter moeda
competitiva nas trocas comerciais e passa a utilizar uma moeda cuja cotação foi
fixada igual à do marco alemão, ou seja, uma moeda que vale duzentas vezes mais
que o escudo.
Portugal
passa a utilizar uma moeda demasiado forte nas trocas comerciais, tornando as
importações mais baratas, mas tornando as exportações muito mais caras, ou
seja, criou-se, apenas por este mecanismo, uma situação extremamente
desfavorável para o país, dificultando extremamente as exportações, dada a
nossa fraca capacidade económica e tecnológica e por via do baixo custo das
importações, tornando o país extremamente dependente de produtos importados.
O resultado
prático desta política europeia, foi o agravar do défice comercial, fazendo
diminuir o Produto Interno Bruto do país e gerando um progressivo
endividamento, financiado em boa parte pelos países que congeminaram a
estratégia e em que Portugal caiu.
Para além da incompetência e
servilismo dos nossos governantes que, completamente acocorados, aceitaram tudo
isto, extremamente mal negociado e caíram na tentação fácil dos fundos
comunitários, muito mal aproveitados, como forma de gerar rendimento interno
que, de outra forma não era possível gerar, entraram na loucura do betão, dos
investimentos em obras públicas não reprodutivos e sem efeito multiplicador na
economia e pior do que tudo, perante a insuficiência de meios financeiros, a
negociação de ruinosas parcerias público-privadas, criando novas dependências e
sobrecarregando um erário público já deficitário.
Era óbvio
que Portugal bateria no fundo.
A entrada em
insolvência era inevitável, perante o enorme endividamento, a fraca capacidade
económica, cada vez mais débil, perante um quadro extremamente desfavorável em
todos os sentidos, contrastando, paradoxalmente, com uma histeria despesista
pública nunca vista, ignorando tudo e todos.
Surge então
a ameaça final: a austeridade sem fim, para durar décadas. Cega, não negociada,
servil e acocorada. Bons alunos para desgraça alheia.
É esta
austeridade forçada, a que este povo e
outros povos da Europa, estão a ser condenados, que nos faz temer o pior.
Primeiro a Grécia, depois Portugal, depois Chipre, Malta, Espanha Itália…
A estratégia
europeia de dominação dos povos do sul, começa a tomar forma e novos guettos
começam a desenhar-se no horizonte. Zonas do sul descriminadas, marginalizadas,
empobrecidas, dominadas.
É esta a
União Europeia que queremos construir? Categoricamente não!
Quase todos
os dias, novas normas, novas imposições, novas restrições, asfixiam e tornam a
vida impossível aos povos europeus do sul, em que muita da sua população já
luta por sobreviver.
A uma
estratégia concertada de dependência comercial e de destruição das nossas infra-estruturas
económicas, em simultâneo com a transferência de fundos para o país,
pretensamente para nos aproximarmos dos países mais desenvolvidos, seguiu-se um
endividamento galopante, em boa parte tendo como credores os próprios mentores
dessa estratégia.
Portugal está
amarrado e cercado por todos os lados. Encontra-se completamente dependente.
O culminar
da estratégia europeia, em simultâneo com a nossa incapacidade interna para
reagir e inverter o rumo a tempo, chama-se AUSTERIDADE, austeridade para
décadas, amarrados à dívida, amarrados ao défice, amarrados à normas
anacrónicas europeias que só nos prejudicam, amarrados a uma moeda não
competitiva para o país, que só beneficia os países economicamente mais fortes.
Receio bem
que se cumpra a profecia de Bukovsky, segundo a qual a União Europeia se poderá
transformar numa nova União Soviética, em que o papel da Rússia irá ser
desempenhado pelo eixo franco-alemão e os países periféricos do sul transformados
em repúblicas soviéticas anexadas.
E, em
perspectiva, novas formas de dominação e opressão.
Por isso, mais do que nunca, faz
todo o sentido, questionarmos a nível nacional a nossa permanência na União Europeia
e começar a preparar a saída.
Mas a estratégia terá de ser
concertada com todos os países do sul, única forma de, unindo esforços, se
obter a força suficiente para intimidar as zonas central e norte da Europa.
A cisão poderá ser uma solução e
uma nova comunidade económica (não política) dos países do sul, começar a tomar
forma e tirar daí as vantagens comerciais em toda a bacia do mediterrâneo, com
uma moeda competitiva a nível mundial.