quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

OS NOVOS GUETTOS EUROPEUS OU A PROFECIA DE BUKOVSKY




Cada vez mais se avolumam os factos que comprovam que a entrada de Portugal na União Europeia, foi um erro e um embuste.
Desde o ilusório crescimento da primeira década após a entrada na então CEE em 1986, impulsionado por factores diversos, alguns durante o período do chamado cavaquismo (1986-1995) e outros por impulso na própria União Europeia, em particular do eixo franco-alemão, até à entrada na moeda única em 2001, Portugal só perdeu com a entrada na UE.
De facto, neste período que se seguiu à segunda bancarrota, em 1983 – 1985, pela mão de Mário Soares, então primeiro-ministro, a que se seguiu o cavaquismo, a ilusória aparência de prosperidade, foi devida essencialmente a uma conjuntura mundial favorável, que alterou as relações de troca a favor de Portugal (grande diminuição dos preços do petróleo e a desvalorização do dólar) e factores internos igualmente favoráveis, designadamente o avultado investimento estrangeiro, a chegada das primeiras tranches dos fundos comunitários e a desvalorização deslizante do escudo, realizada por Cavaco Silva, então primeiro-ministro.
Nesta altura ainda tínhamos soberania monetária e o país podia jogar com a desvalorização cambial, como forma de tornar a economia mais competitiva.

Mas, foi ainda durante este período e em parte durante o consulado de Guterres, que o pior aconteceu.

Esta aparente prosperidade que nos fascinou, deixou-nos suficientemente embriagados para não termos dado conta da sinistra ofensiva da Europa Central, via Comissão Europeia, que a patrocinou  e que consistiu em obrigar Portugal e desmantelar e destruir os principais recursos económicos que eram o sustentáculo da sua riqueza: a agricultura, a pesca e a indústria.
A troco de subsídios efémeros, isto é, que pouco perduram no tempo, como contrapartida.

Foi o primeiro embuste.

A estratégia era óbvia: criar no sul da Europa mercados de exportação para os países do centro, por via do desmantelamento dos principais recursos daqueles e da sua consequente dependência de importações.

A curva de rendimentos daqueles países começa a subir, impulsionada por esta estratégia, enquanto a dos países do sul, desce cada vez mais, tornando-os deficitários e cada vez mais endividados.
O aparente sucesso de Portugal por via dos factores externos apontados e alguns internos favoráveis, porque ainda tinha autonomia monetária, foi totalmente anulado pela astuciosa estratégia europeia.

Para a UE foi uma sucesso, para Portugal foi o princípio do fim.

Mas, o aprisionamento total do país, viria a seguir, com a entrada na moeda única, o euro, em 2001 e com a vinculação do país ao tratado orçamental.
Não só perdemos a soberania monetária, mas também a orçamental. Portugal deixa de ter moeda competitiva nas trocas comerciais e passa a utilizar uma moeda cuja cotação foi fixada igual à do marco alemão, ou seja, uma moeda que vale duzentas vezes mais que o escudo.
Portugal passa a utilizar uma moeda demasiado forte nas trocas comerciais, tornando as importações mais baratas, mas tornando as exportações muito mais caras, ou seja, criou-se, apenas por este mecanismo, uma situação extremamente desfavorável para o país, dificultando extremamente as exportações, dada a nossa fraca capacidade económica e tecnológica e por via do baixo custo das importações, tornando o país extremamente dependente de produtos importados.
O resultado prático desta política europeia, foi o agravar do défice comercial, fazendo diminuir o Produto Interno Bruto do país e gerando um progressivo endividamento, financiado em boa parte pelos países que congeminaram a estratégia e em que Portugal caiu.

Para além da incompetência e servilismo dos nossos governantes que, completamente acocorados, aceitaram tudo isto, extremamente mal negociado e caíram na tentação fácil dos fundos comunitários, muito mal aproveitados, como forma de gerar rendimento interno que, de outra forma não era possível gerar, entraram na loucura do betão, dos investimentos em obras públicas não reprodutivos e sem efeito multiplicador na economia e pior do que tudo, perante a insuficiência de meios financeiros, a negociação de ruinosas parcerias público-privadas, criando novas dependências e sobrecarregando um erário público já deficitário.

Era óbvio que Portugal bateria no fundo.

A entrada em insolvência era inevitável, perante o enorme endividamento, a fraca capacidade económica, cada vez mais débil, perante um quadro extremamente desfavorável em todos os sentidos, contrastando, paradoxalmente, com uma histeria despesista pública nunca vista, ignorando tudo e todos.
Surge então a ameaça final: a austeridade sem fim, para durar décadas. Cega, não negociada, servil e acocorada. Bons alunos para desgraça alheia. 
É esta austeridade forçada,  a que este povo e outros povos da Europa, estão a ser condenados, que nos faz temer o pior. Primeiro a Grécia, depois Portugal, depois Chipre, Malta, Espanha Itália…
A estratégia europeia de dominação dos povos do sul, começa a tomar forma e novos guettos começam a desenhar-se no horizonte. Zonas do sul descriminadas, marginalizadas, empobrecidas, dominadas.

É esta a União Europeia que queremos construir? Categoricamente não!

Quase todos os dias, novas normas, novas imposições, novas restrições, asfixiam e tornam a vida impossível aos povos europeus do sul, em que muita da sua população já luta por sobreviver.
A uma estratégia concertada de dependência comercial e de destruição das nossas infra-estruturas económicas, em simultâneo com a transferência de fundos para o país, pretensamente para nos aproximarmos dos países mais desenvolvidos, seguiu-se um endividamento galopante, em boa parte tendo como credores os próprios mentores dessa estratégia.

Portugal está amarrado e cercado por todos os lados. Encontra-se completamente dependente.
O culminar da estratégia europeia, em simultâneo com a nossa incapacidade interna para reagir e inverter o rumo a tempo, chama-se AUSTERIDADE, austeridade para décadas, amarrados à dívida, amarrados ao défice, amarrados à normas anacrónicas europeias que só nos prejudicam, amarrados a uma moeda não competitiva para o país, que só beneficia os países economicamente mais fortes.

Receio bem que se cumpra a profecia de Bukovsky, segundo a qual a União Europeia se poderá transformar numa nova União Soviética, em que o papel da Rússia irá ser desempenhado pelo eixo franco-alemão e os países periféricos do sul transformados em repúblicas soviéticas anexadas.

E, em perspectiva, novas formas de dominação e opressão.

Por isso, mais do que nunca, faz todo o sentido, questionarmos a nível nacional a nossa permanência na União Europeia e começar a preparar a saída.

Mas a estratégia terá de ser concertada com todos os países do sul, única forma de, unindo esforços, se obter a força suficiente para intimidar as zonas central e norte da Europa.

A cisão poderá ser uma solução e uma nova comunidade económica (não política) dos países do sul, começar a tomar forma e tirar daí as vantagens comerciais em toda a bacia do mediterrâneo, com uma moeda competitiva a nível mundial.

 







Sem comentários:

Enviar um comentário