quinta-feira, 5 de junho de 2014

DESUNIÃO NACIONAL: INCAPACIDADE DO POVO OU DAS LIDERANÇAS PARTIDÁRIAS?

 
 
O país sempre viveu em crise, desde que foi instituído um novo regime e uma nova República, em 1974.
Não me lembro de alguma vez e com qualquer governo, se viver em Portugal uma situação estável e normal.
Todos os sectores da sociedade portuguesa, incluindo os media e a própria Igreja, se queixavam da crise permanente em que, década após década, vivia a democracia portuguesa.
Crises de etiologia diversa, desde a rivalidade viral entre as ditas esquerda e direita, radicalizadas nos seus redutos ideológicos, até às resultantes da cíclica bancarrota quando a esquerda tomava o poder.
Neste contexto, a direita apenas era chamada a governar, para corrigir os desmandos de uma esquerda protagonizada pelo partido socialista, o partido do regime, que resultou da contra-revolução de 25 de Novembro de 1975.
Mas crise também de hostilidade viral de uma esquerda, convicta da sua propriedade exclusiva do regime instaurado em 1974, tentando, por todos os meios destituir, uma direita, dita reaccionária, quando esta toma o poder, mesmo legitimado pelo voto do povo, porque incompatível com o regime de Abril.
De crise em crise, de bancarrota em bancarrota, de queda em queda de governos, tidos como incompatíveis com Abril, de eleições antecipadas em eleições antecipadas, para recolocar a esquerda no poder, a dona legítima do mesmo, porque para ela e só para ela, o regime de Abril existe.
Crise, portanto, de uma democracia, neste sentido, limitada, em que apenas algumas correntes ideológicas, da dita esquerda, são aceites e apadrinhadas pelos donos do regime que, na sombra e mesmo já com as suas capacidades mentais reduzidas pela idade, continuam a comandar os cordelinhos do regime.
Fora disto, há um mundo que não existe.
Crise de identidade também,  sem nunca se saber ao certo, o que teria sido melhor para Portugal: estar ou não na União Europeia.
Tardando ou descurando essa avaliação, em tempo útil, hoje, talvez tarde demais, os resultados práticos dizem-nos que não foi a melhor opção, pelo menos no «timing» em que foi tomada.
O país da crise permanente, percorrendo, década após década, uma linha sinuosa de altos e baixos, mas sempre tendencialmente decrescente, finalmente e como se previa, acabou por se estatelar no abismo.
Crise das crises, nunca Portugal viveu, pelos menos desde há dois séculos, tempos tão difíceis, de verdadeira emergência nacional.
Mas, apesar desta espécie de estado de sítio em que estamos mergulhados, nem por isso a consciência nacional da união,  perante o perigo, falou mais alto.
Como se nada estivesse a acontecer, a sociedade portuguesa continua dividida, radicalizada em torno do radicalismo interesseiro los líderes partidários e do pensamento egoísta de muitas pessoas, que ainda acreditam que a ideologia do seu clube partidário, se for poder, lhes trará a tábua de salvação e lhes abrirá as portas do paraíso.
Uma clara violação inconsciente, do princípio da «união faz a força».
Divididos, cada vez estamos mais frágeis e vulneráveis e mais facilmente seremos vencidos.
 
Vencidos, pelas consequências da instabilidade e da ingovernabilidade do país. Vencidos por uma situação financeira, económica e social insustentáveis.
Numa situação de drástica redução das reservas de soberania de que dispúnhamos e que opções europeístas precipitadas, nos retiraram, a desunião dos portugueses é alarmante e não pressagia nada de bom.
 
Para além da maciça abstenção em eleições, sinal do enorme desinteresse da maioria da sociedade, pelos partidos políticos, mercê do comportamento incongruente dos seus lideres e dos seus governos, que tramaram irremediavelmente este povo, o espectáculo degradante da desunião e da crise, já os atingiu nas suas entranhas, pondo em risco a sustentabilidade do próprio regime democrático.
Ou entramos na realidade e afastamos o fantasma da desunião, mobilizando forças e ultrapassando divergências ideológicas, começando pela regeneração dos partidos e pela tomada duma nova atitude e simultaneamente a emergência de novas forças políticas, com programas inovadores que introduzam reformas de fundo no regime, Portugal e a sua população, arriscam-se a um futuro extremamente problemático, cujo ponto de não retorno, estará prestes a ser atingido.

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