O país sempre viveu em crise,
desde que foi instituído um novo regime e uma nova República, em 1974.
Não me lembro de alguma vez e com
qualquer governo, se viver em Portugal uma situação estável e normal.
Todos os
sectores da sociedade portuguesa, incluindo os media e a própria Igreja, se
queixavam da crise permanente em que, década após década, vivia a democracia
portuguesa.
Crises de etiologia diversa,
desde a rivalidade viral entre as ditas esquerda e direita, radicalizadas nos
seus redutos ideológicos, até às resultantes da cíclica bancarrota quando a
esquerda tomava o poder.
Neste contexto, a direita apenas
era chamada a governar, para corrigir os desmandos de uma esquerda protagonizada
pelo partido socialista, o partido do regime, que resultou da contra-revolução
de 25 de Novembro de 1975.
Mas crise
também de hostilidade viral de uma esquerda, convicta da sua propriedade
exclusiva do regime instaurado em 1974, tentando, por todos os meios destituir,
uma direita, dita reaccionária, quando esta toma o poder, mesmo legitimado pelo
voto do povo, porque incompatível com o regime de Abril.
De crise em
crise, de bancarrota em bancarrota, de queda em queda de governos, tidos como
incompatíveis com Abril, de eleições antecipadas em eleições antecipadas, para
recolocar a esquerda no poder, a dona legítima do mesmo, porque para ela e só
para ela, o regime de Abril existe.
Crise, portanto, de uma
democracia, neste sentido, limitada, em que apenas algumas correntes
ideológicas, da dita esquerda, são aceites e apadrinhadas pelos donos do regime
que, na sombra e mesmo já com as suas capacidades mentais reduzidas pela idade,
continuam a comandar os cordelinhos do regime.
Fora disto,
há um mundo que não existe.
Crise de
identidade também, sem nunca se saber ao
certo, o que teria sido melhor para Portugal: estar ou não na União Europeia.
Tardando ou
descurando essa avaliação, em tempo útil, hoje, talvez tarde demais, os
resultados práticos dizem-nos que não foi a melhor opção, pelo menos no
«timing» em que foi tomada.
O país da crise permanente,
percorrendo, década após década, uma linha sinuosa de altos e baixos, mas
sempre tendencialmente decrescente, finalmente e como se previa, acabou por se
estatelar no abismo.
Crise das crises, nunca Portugal viveu,
pelos menos desde há dois séculos, tempos tão difíceis, de verdadeira
emergência nacional.
Mas, apesar
desta espécie de estado de sítio em que estamos mergulhados, nem por isso a
consciência nacional da união, perante o
perigo, falou mais alto.
Como se nada estivesse a
acontecer, a sociedade portuguesa continua dividida, radicalizada em torno do
radicalismo interesseiro los líderes partidários e do pensamento egoísta de
muitas pessoas, que ainda acreditam que a ideologia do seu clube partidário, se
for poder, lhes trará a tábua de salvação e lhes abrirá as portas do paraíso.
Uma clara
violação inconsciente, do princípio da «união faz a força».
Divididos,
cada vez estamos mais frágeis e vulneráveis e mais facilmente seremos vencidos.
Vencidos,
pelas consequências da instabilidade e da ingovernabilidade do país. Vencidos
por uma situação financeira, económica e social insustentáveis.
Numa
situação de drástica redução das reservas de soberania de que dispúnhamos e que
opções europeístas precipitadas, nos retiraram, a desunião dos portugueses é
alarmante e não pressagia nada de bom.
Para além da
maciça abstenção em eleições, sinal do enorme desinteresse da maioria da
sociedade, pelos partidos políticos, mercê do comportamento incongruente dos
seus lideres e dos seus governos, que tramaram irremediavelmente este povo, o
espectáculo degradante da desunião e da crise, já os atingiu nas suas
entranhas, pondo em risco a sustentabilidade do próprio regime democrático.
Ou entramos na realidade e
afastamos o fantasma da desunião, mobilizando forças e ultrapassando divergências
ideológicas, começando pela regeneração dos partidos e pela tomada duma nova
atitude e simultaneamente a emergência de novas forças políticas, com programas
inovadores que introduzam reformas de fundo no regime, Portugal e a sua
população, arriscam-se a um futuro extremamente problemático, cujo ponto de não
retorno, estará prestes a ser atingido.
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