Daquilo que se sabe sobre o roubo de armas e explosivos dos paióis
do complexo militar de Tancos, trata-se de um dos maiores desvios de armamento,
de que há memória em Portugal.

Desde logo o Ministro, pois sendo responsável máximo pela política
e administração da defesa nacional, devia ter-se inteirado do modo de
funcionamento da sua organização e controlado a sua gestão (O Ministério da Defesa Nacional (MDN) é o departamento governativo da administração
central portuguesa ao qual incumbe preparar e
executar a política de defesa nacional, no âmbito das competências que lhe são
conferidas, bem como assegurar e fiscalizar a administração das Forças
Armadas e dos demais órgãos, serviços e organismos nele integrados). Teve, portanto,
responsabilidades políticas e não pode a elas eximir-se, como aconteceu. Devia,
assim, demitir-se.
No âmbito das Forças Armadas, são responsáveis os dois chefes
militares colocados no topo da hierarquia, o Chefe do Estado Maior General e o
Chefe do Estado Maior do Exército, pois também não administraram, como deviam,
a componente Exército da estrutura. Têm, portanto, responsabilidade militar.
Deviam assumi-la e também demitir-se.
Directamente pelos paióis de material de guerra do complexo de
Tancos, os cinco comandantes das unidades responsáveis pela sua guarda. Tiveram
também responsabilidades militares directas, não se demitiram, mas foram exonerados
«temporariamente» pelos CEME, figura jurídica de que não se sabe bem o que é.
Na realidade, o que aconteceu?
Esgrimiram-se as desculpas do costume: CCTV avariado, patrulhas
esporádicas e sem munições, falta de recursos e desinvestimento nas Forças
Armadas. Falso problema. Uma boa organização de patrulhas permanentes,
consegue-se perfeitamente com o contributo de uma só unidade, das cinco encarregadas
da guarda, muito mais com o contributo de cinco.
E, patrulhas armadas, com armas carregadas ou com rápido acesso a
munições (a selagem das cartucheiras, não é razão; esse procedimento devia, há
muito ter sido anulado, porque é inconcebível, em acções de patrulhamento desta
responsabilidade).
O Ministro, como é norma neste governo, não se demitiu, perante um
incidente desta gravidade e apressou-se a descartar responsabilidades
políticas.
O Chefe do Estado Maior do Exército, «sentiu-se humilhado» (mas
porquê? quem o humilhou?) Também não assumiu qualquer responsabilidade e
branqueou o comportamento do Ministro, dizendo que este não tinha de assumir
responsabilidades políticas.
Do CEMGFA (Chefe militar máximo dos três ramos), nem se falou.
Os cinco comandantes das unidades de Tancos, responsáveis
directos, também não se demitiram e, não assumiam a responsabilidade militar. Foram
praticamente demitidos (temporariamente) pelo Chefe do Exército.
No meio de toda esta confusão e desorientação, ninguém assume
responsabilidades por coisa nenhuma neste país, o descalabro reina, gerou-se um
clima de desconfiança em tudo e em todos, não se confia na hierarquia militar,
entrega-se a guarda de paióis a
seguranças privados. Isto é absolutamente inconcebível.
Este episódio, bem como o de Pedrógão, são bem o reflexo do
desnorte, irresponsabilidade e incúria deste governo e, por mais graves que
sejam as desgraças que aconteçam ao país e ao seu povo, ninguém assume
responsabilidades, não há consequências e como sempre « o sol nasce e nada
acontece…».
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