domingo, 29 de abril de 2012

O ESPÍRITO DE NOVEMBRO. OBRIGADO JAIME... (PARTE I)

Retalhos de uma Revolução…


Crónica do jornalista «Manuel de Portugal» (pseudónimo) escrita no semanário «O TEMPO» em 18 de Dezembro de 1975.

Este jornalista assim como Vera Lagoa, eram das poucas pessoas ligadas aos media, que na época revolucionária, ousavam desafiar o regime e por isso sofreram perseguições.

Para que hoje possamos entender o clima de confusão revolucionária vivido de 25 de Abril de 1974 até 25 de Novembro de 1975, data em que ocorreu a contra-revolução, que pôs termos ao desvario totalitário comunista.

O 25 de Novembro de 1975, liderado pelo então Ten. Coronel Ramalho Eanes e pelo seu operacional do Regimento de Comandos, Major Jaime Neves, bem pode considerar-se o verdadeiro movimento militar que repôs a ordem democrática no país e pretendeu devolver a verdadeira liberdade ao Povo Português.

O verdadeiro espírito de Abril, a autêntica liberdade, é nesta data que deviam ser comemorados.

E por isso, devíamos antes comemorar o «Espírito de Novembro» como o sentido da verdadeira democracia e da verdadeira liberdade.
Mas, os donos da revolução, que sempre a tutelaram desde o início, passam pelo dia 25 de Novembro, como se ele nunca tivesse existido, como data histórica.

É deplorável. Para quem, como eu, viveram estes acontecimentos.

Mas, em tudo há sempre um «mas», uma dúvida, uma sombra, uma mancha que estraga tudo.

O poder devolvido aos civis, pelo movimento libertador de 25 de Novembro de 1975, como é apanágio das verdadeiras democracias foi, depois de muitos tumultos, conspirações e incertezas,  aproveitado para, desfraldando bandeiras socialistas,  como impunha a Constituição Revolucionária de 1976, oportunismo, despesismo, manipulação, incompetência, terminando no caos.

A texto de «Manuel de Portugal», escrito na época,  diz bem da mordaça que haviam colocado ao Povo Português.

Vale a pena de ler…


Manuel de Portugal

« Mais vale tarde do que nunca e nunca é tarde para pagar uma dívida, mesmo de gratidão.

Chegou-te a vez, Jaime Neves, de seres alvo desta crónica amiga que devia ser, em boa verdade, duma só palavra, grande, extensa, a toda a largura da página: OBRIGADO.

Há em ti, Jaime Neves, a força dum Povo, a determinação de uma raça, o sentido cósmico de uma espécie. É a tua bravura um Hino de Liberdade. É a tua coragem um sintoma de portuguesismo.

Direito, na torre do Chaimite, quando te vi, no dealbar do 25 de Novembro, a  subir a Calçada da Ajuda, bravo entre os bravos, ouvi dentro de mim, oitocentos anos de História, a bradarem em uníssono: vai ali, Portugal.

E ia!

Ia dentro de ti, Jaime Neves, o peão ignoto de Aljubarrota, pensando na mãe, pensando no filho, segurando firme a longa lança guerreira, determinado e audaz, contra o castelhano invasor da Pátria.  Salvé Jaime Neves de Aljubarrota, Libertador da Grei, companheiro de Nun´Álvares, Homem da Gesta e do Combate.

Ia dentro de ti Jaime Neves, o algarvio da moirama, o beirão entroncado, o minhoto labutador, subindo à enxárcia, puxando a vela, manobrando o leme, na Caravela da Aventura, da Grande Nau da Descoberta, levando por mares nunca dantes navegados, a Cruz de Cristo e as Quinas deste Portugal Cristão, deste Portugal Humano.

Ia dentro de ti Jaime Neves, o patriótico conspirador de 1640, valentia indómita a repelir a traição opressora, certeza lusíada em luta de morte contra os vis interesses de nação estrangeira a tentar dominar a nossa Pátria comum.

Ia dentro de ti, Jaime Neves, o lisboeta sem nome, pimpão afadistado que no Rossio em efervescência, bramava irado contra o Mapa-Cor-de- Rosa e as exigências ofensivas dum Ultimato vergonhoso que menosprezava a dignidade do Portugal de Sempre.

Bravo entre os bravos, Jaime Neves, eras Martim Moniz morrendo no Castelo de S. Jorge, Egas Moniz de baraço ao pescoço, eras Santo António a pregar aos crentes, Capelo e Ivens nas selvas traiçoeiras, Republicano da Rotunda, Liberal do Mindelo, Gomes Freire de Andrade balouçando ao vento, Cronista do Reino, Custódia de Gil Vicente, Profecia de Bandarra, Emigrante Partindo, eras tu Jaime Neves, eras eu, Manuel de Portugal.

Jaime Neves de ontem, Jaime Neves de hoje, Jaime Neves de sempre, Português dos Quatro Costados, Povo Trabalhador, Sábio, Santo, Artista, filhos da mesma Terra, filhos do mesmo Sonho, filhos da mesma Grandeza Eterna que nos chama irmãos, para lá Vida e para lá da Morte.

Simbolizavas, Jaime Neves, bravo entre os bravos, Homem que se orgulha dos seus Homens, Homens que se orgulham do seu Homem, simbolizavas o NÃO, possante e viril dum Povo Inteiro, que se quer Livre e não Escravo, a Liberdade Nacional face aos Miguéis de Vasconcelos, que outras Espanhas nos querem vender, simbolizavas o Grito, a Raiva, a Força daqueles que, amando a Pátria, a não renegam nunca, por um prato de lentilhas…»



Continua… (PATRTE II, a publicar brevemente)

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