Retalhos
de uma Revolução…
Crónica do jornalista «Manuel de Portugal» (pseudónimo), escrita
no semanário «O TEMPO» em 18 de Dezembro de 1975, menos de um mês depois da
contra-revolução libertadora de 25 de Novembro desse ano.
Manuel
de Portugal
«Simbolizavas, Jaime Neves, bravo entre os bravos, Homem que se
orgulha dos seus Homens, Homens que se orgulham do seu Homem, simbolizavas o NÃO, possante e viril dum Povo Inteiro
que se quer Livre e não Escravo, a Liberdade Nacional face aos Miguéis de Vasconcelos
que a outras Espanhas nos querem vender, simbolizavas o Grito, a Raiva, a Força
daqueles que amando a Pátria, a não renegam nunca, por um prato de lentilhas,
por trinta moedas de prata, por um punhado de rublos, da KGB soviética.
Simbolizavas todos os que contigo estavam na Gesta Heróica de,
mais uma vez, libertar a Pátria. Simbolizavas, teus Comandos sem medo. Filhos
do Povo, Filhos da Nação, simbolizavas o
verdadeiro Espírito Libertador do 25 de Abril, conspurcado por Iscariotes sem
nome, sem rosto e sem alma.
Simbolizavas os novos conjurados do novo Dia da Restauração – 25 de Novembro – Eanes, Veloso, Pezarat,
Sousa e Castro e tantos outros que não é possível enumerar.
Simbolizavas, Jaime Neves, o Dever e a Honra que a Senhora Tua Mãe
te ensinou em pequeno dizendo-te entre canções de ninar, o quanto é Belo e
Grande este Nosso Portugal Bem-Amado.
Não, Jaime Neves, não, ninguém negociará este pedaço de chão, que
é teu, que é meu, que é dos teus filhos, que é dos meus filhos, ninguém venderá
esta Terra nossa, enquanto em cada coração português houver um pouco do Jaime
Neves que és, um pouco do teu patriotismo infinito, um pouco do Infinito de
Portugal que trazes dentro de ti.
Sim, Jaime Neves, aquele homem do Povo que não viste numa janela
da Ajuda, com o filho em frente, com a mulher ao lado, era eu, o Portugal
Civil, descobrindo com orgulho que havia ainda, um Portugal Militar para salvar
a Pátria das garras interesseiras dos abutres sem lei.
Perante vós, Comandos em luto, descubro o meu respeito, como
homenagem profunda pela página da História que com sangue escreveste. Vermelha
é a vossa boina. Vermelha é a nossa bandeira. Vermelho é o sangue dos
vossos Heróis, mortos traiçoeiramente
por balas assassinas de comunistas sem Pátria.
Sangue de Portugueses derramado por quem, talvez, já nem português
se sentisse.
Comandos de Portugal, Orgulho do Povo, Homens de uma só Fé, de um
só querer, Homens que não discutem a Nação, que não renegam a História, Homens
eternos dum Portugal Eterno, dum Portugal Invencível, dum Portugal Português.
De pé, Comandos de Portugal.
Em sentido. Soam os clarins da vitória, escutai-os perfilados na
Parada da Pátria. Para ouvirdes o Obrigado Infindo que vos chega de lés a lés
do Portugal Redimido que acabais de libertar.
Para
verdes de novo as crianças sorrindo, com
a esperança dum amanhã luminoso e belo. Para verdes um País ao Sol da Liberdade,
dispersas por vós com o sangue e com a dor, as nuvens negras da ditadura e da
opressão que nos ensombravam ameaçadoras.
Obrigado, amigos. Obrigado,
irmãos. São para vocês todas as palavras que dirijo ao vosso Comandante. Porque
nas famílias unidas «quem o meu filho
beija, minha boca adoça».
E vocês, Comandos de Portugal, são corpo coeso e disciplinado,
onde a camaradagem se tornou moeda corrente num dia fraterno. Como nos
Mosqueteiros d´El-Rei «um por todos e
todos por um» é o lema da vossa amizade sem fim.
Vertido no campo da Honra o sangue quente dos vossos Heróis, será
o exemplo doloroso de que a Pátria Una não admitirá jamais a insídia vergonhosa
da traição, nem pactuará no futuro com aqueles que, renegando a independência
nacional, não hesitaram em matar Soldados Portugueses, às ordens de países
estranhos que, por formas vis de dominação, nos pretendem transformar em
satélites obedientes para, nas nossas praias atlânticas, erguerem nova Cortina
de Ferro que transforme Portugal num desolado campo de concentração e de morte.
Atentos Comandos de Portugal, para
não serdes apunhalados pelas costas.
Olhai de frente a nobreza e o patriotismo do Homem que vos conduz.
Pesa sobre os vossos ombros a gigantesca tarefa de continuar Portugal.
E tu, Jaime Neves, Homem do Povo que ao Povo serve, sê apenas
aquilo que és, aquilo que mostraste ser na madrugada sangrenta, mas redentora,
do 25 de Novembro. Um Português.
Por isso, Jaime Neves, Homem lusíada, Viriato de hoje, eu, Manuel
de Portugal, que ao Presidente da República trato por tu, para quem o
Primeiro-Ministro simplesmente é o Zé, aqui na praça pública te distingo, primo
inter pares, proclamando-te na Inclita Geração do 25 de Novembro como o
primeiro que arriscando a vida, salvou a Nação.
E como o primeiro é, por tradição e por norma, o Príncipe da Grei,
tiro respeitosamente o meu chapéu, curvo galhardamente minha espinha sempre
erecta e com a vénia que os grandes da Pátria merecem, vos digo OBRIGADO, não ao Jaime Neves que foste,
mas àquele que pela coragem, pela valentia, pela heroicidade, sagro Cavaleiro
do Reino e entra, a partir de agora, na História da Pátria como apenas e só: JAIME DE PORTUGAL».
P.S.
– Em homenagem a esse Herói esquecido, a cuja têmpera e determinação se deveu a
reposição do verdadeiro espírito do 25 de Abril.
Jaime
Alberto Gonçalves das Neves, transmontano de Vila Real, nascido em 1936, Coronel na reforma e promovido, por distinção
em 2009, a Major-General.
A
esquerda portuguesa, os tutores da revolução, salvo algumas excepções, sempre
se opuseram à promoção de Jaime Neves a
General, porque nunca lhe perdoaram a ousadia de contrariar o Processo
Revolucionário em Curso (PREC) e restituir a liberdade ao Povo Português.
Mas,
o bom senso acabou por prevalecer.
Em
evocação do seu protagonismo determinado na noite de 25 de Novembro de 1975, foi-lhe erigido um
monumento em frente à Praça do Campo Pequeno , por ironia do destino, o local
onde a ditadura totalitária pretenderia executar a chamada «Matança da Páscoa».
Jaime
Neves, vive numa urbanização algures na margem sul do Tejo, concelho do Seixal,
onde é meu vizinho, na mesma rua. Teve graves problemas de saúde, mas
felizmente ainda está entre nós.
Mal
saberia Manuel de Portugal que, trinta e sete anos depois, o tal pouco do Jaime
Neves já dele pouco resta.
Portugal
é hoje um país destroçado, sem rumo, sob intervenção estrangeira, com soberania
limitada, onde os de fora é que ditam as regras, envolvido numa globalização
económica, social e cultural que o prejudicou e onde os portugueses cada vez se
sentem mais estrangeiros na sua própria terra.
Um
Estado absoluto, uma economia falida, uma justiça de rastos, uma política
fraudulenta e, em suma, o atraso de sempre enfeitado com os pechisbeques
informatizados de hoje.
Foi
para esta glorificação do socialismo “moderado” que se fez o 25 de Novembro?
Jaime Alberto Gonçalves das Neves diz que não.
Ele
terá a suas razões, eu tenho as minhas.
De
nada serviu o 25 de Abril, de nada serviu o 25 de Novembro…
Obrigado!
ResponderEliminarInfelizmente, não há muitos como ele, que se deixam levar por um ideal, mas que voltam atrás quando as coisas não correm de feição.