Vejo
habitualmente os comentários à imprensa diária que, aos sábados de manhã, na
SIC Notícias, são feitos pela habitual convidada, a Historiadora e Professora
da Universidade Nova, Raquel Varela.
Aprecio a frontalidade das suas
opiniões, contrariando, muitas vezes, as opiniões formadas pelos media do
regime, as corporações e os sindicatos representantes de ideologias politicas
de partidos representados na Assembleia da República.
Fazem o jogo
do sistema!
Raquel
Varela é frontal, clara nos raciocínios e realista.
Chamou-me a atenção dois aspectos
centrais e hoje muito discutidos, da vida política e económica nacionais.
Um, dizia respeito à avaliação
dos professores, do ensino básico e
secundário. Na sua opinião, os professores devem ser avaliados para se garantir
alguma qualidade no sistema de ensino.
Na sua
perspectiva, tem havido muita permissividade, que tem baixado
significativamente a qualidade e a competência de quem ensina, seja no público
ou no privado. E os resultados vêem-se, pelo mau aproveitamento dos alunos,
sempre que se sobe um pouco a bitola da avaliação.
É verdade, é
um facto.
Ainda este ano, os resultados médios
das avaliações em Português e Matemática, a nível nacional, foram negativos.
Algo está mal no ensino e não apenas
ao nível de quem aprende, mas principalmente ao nível de quem ensina, que um
sistema de ensino baseado na permissividade e no faz de conta, instituiu há muitos
anos em Portugal.
Não é de
estranhar, portanto, as reacções dos professores que, no desespero da sua
implícita falta de preparação, receiam deixar a nu, as suas fragilidades, pois
quem não deve não teme.
Mas, a culpa não se lhe pode
imputar, a culpa não é deles.
A culpa é do permissivo sistema
de ensino que, desde logo ao nível do Ministério da Educação e durante décadas,
em obediência a uma visão ideológica da esquerda mais enviesada, raiando o
anarquismo e que tomou de assalto aquele vital Ministério, impôs ao país, com o
beneplácito e a cumplicidade dos governos.
Por essa
razão, desde sempre, desde a Revolução, o Ministério da Educação tem sido
ingovernável. Nenhum Ministro conseguiu fazer o que quer que fosse, e quando o
tentou, enfrentou sempre uma guerra sem
quartel movida pela esquerda radical, dona e senhora do ensino em Portugal.
Mas, estamos
a enganarmos a nós próprios.
Pode esse poder corporativo imenso,
da esquerda permissiva e destrutiva, ganhar todas as batalhas e todas as guerras,
protegido e escudado por uma Constituição feita à sua medida, mas quem vai
perder, quem já está a perder, é o país, e o balanço e o saldo finais deste
processo, estão a ser desastrosos.
A geração dita,
pelo poder instituído, como a mais qualificada de sempre, está-se a revelar a
mais ignorante de sempre e bem podemos dizer que ficará na história como a mais
qualificada, isso sim, no fabrico de canudos de papelão.
O outro aspecto, igualmente central
e de extrema importância, abordado por Raquel Varela, dizia respeito à enorme
concentração de riqueza nas mãos de minorias sociais, tornando Portugal um dos
países mais desiguais na distribuição da riqueza, não só ao nível da Europa, mas de todo o mundo.
Surpreenderam-me
os números revelados, embora tivesse a convicção já formada, de que não
estariam muito longe destes.
No nosso país, 870 bilionários
detêm fortunas avaliadas em cerca de 45% da riqueza nacional produzida, ou seja
do Produto Interno Bruto, representando qualquer coisa como 72.000 milhões de
euros, quase tanto com o valor do resgate financeiro a Portugal.
Raquel
Varela, aponta como solução a expropriação. Sinto vontade de a acompanhar, tal
a magnitude do embuste.
Contrastando
com esta enorme concentração de riqueza nas mãos de uns quantos privilegiados
do regime, cerca de cinco milhões de portugueses, metade da população, vivendo
na pobreza ou no limiar desta.
Interrogamos, legitimamente, como
foi possível em Portugal, cujo regime foi instituído por uma revolução,
pretensamente socialista e visando corrigir as desigualdades e implementar uma
sociedade mais justa, deixar derivar o país para uma situação que, em termos
relativos, é semelhante ou pior, do que a que vigorava antes de 1974?
Como foi possível, sob a capa de
uma falsa democracia, de uma falsa liberdade e de uma falsa ideologia, dita de
esquerda, derivar para um regime e um sistema de efectiva ditadura de um triunvirato
de poderes económico, politico e estatal, que se apoderou do país?
Como foi
possível, não termos o discernimento suficiente para acordarmos a tempo do sono
com que os políticos nos adormeceram e dos cânticos europeus com que nos
encantaram, gizando uma alternativa?
Como foi
possível deixarmo-nos cair no fosso e na espiral do endividamento, durante décadas,
dependência e escravatura anunciadas?
Um dia,
estou certo, far-se-á o julgamento da história e teremos a resposta a todas
estas interrogações.
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