A questão das privatizações, das concessões, da venda de tudo o
que é público, dê ou não lucro e seja ou não rentável, está na ordem do dia.
Na óptica do governo, da troika, é preciso privatizar
rapidamente, depressa e a qualquer preço.
Para
fazer rapidamente uns trocos, que dêem uma ajuda para tapar mais alguns buracos
deixados por um passado de desleixo, de incúria, de oportunismo, de
irresponsabilidade.
Irresponsabilidade deles próprios, dos mesmos que agora estão a
vender os dedos das mãos do país.
A privatização do sector público empresarial foi uma imposição da
troika. Consta do «Memorando de Entendimento».
De
«Entendimento?»…
Mas
estes senhores, porventura se entenderam com alguém, sobre o que interessa à
realidade portuguesa?
Não! Aplicam a sua receita standardizada, a «chapa cinco».
Não! Aplicam a sua receita standardizada, a «chapa cinco».
Foi o preço que o país teve de pagar por anos e anos de incúria,
de desleixo e de gestão danosa deste sector.
Foi
o preço da capitulação. De um país, sem
qualquer poder negocial, pois nem isso os governantes tentaram.
Nem
Sócrates, nem Coelho. Praticamente tudo foi aceite aos vencedores desta
guerra do dinheiro, docilmente, servilmente, sem resistência.
Dinheiro sem o qual as batatas não chegam á nossa mesa. E nessa
altura já não havia batatas, na mesa do Estado.
Impunha-se
uma reestruturação, não uma privatização. Porque, são as jóias da coroa que
estão em jogo e algumas são de todos de nós, assumem natureza colectiva.
Algumas dessa empresas, já vinham a ser reestruturadas há anos (casos da RTP e da TAP
por exemplo), houve esforço financeiro do Estado com esse objectivo e já
estavam a gerar resultados positivos algumas e próximo disso, outras.
Tudo
isto está a ser uma precipitação, sem se avaliarem as consequências!
A reestruturação não era difícil. Era uma questão de tempo e de
boa vontade (de administrações e trabalhadores). Apenas as do sector dos
Transportes Terrestres (rodoviários e ferroviários) necessitavam de mais
atenção e de recursos.
Por
isso, bastava que uma parte do empréstimo internacional, fosse canalizado para
essa reestruturação e a tragédia a que estamos a assistir, impotentes, poderia
ter sido evitada.
Erro crasso, falta de visão estratégica e inexperiência de um
governo desorientado, que diz e contradiz, com a maior das
facilidades.
Erro
crasso, que nos vai sair muito caro no futuro.
Perda
de controlo pelo país, de alguns sectores estratégicos, deslocação dos centros de
decisão para fora do país, empobrecimento, por via da saída dos rendimentos
gerados para os países de origem dos «investidores».
Investidores,
entre aspas, porque parece estar a esboçar-se a constatação de que alguns
destes «investidores» são falsos, autênticos abutres a quem estamos a abrir as
portas e são movidos por objectivos ocultos e duvidosos, que não têm a ver com
a lógica do conceito de investimento: «investir hoje para obter um rendimento
maior, amanhã».
E se, entre os candidatos que vão aparecendo para comprar este
património público ao desbarato e algum privado que já foi vendido, estiverem,
de facto, falsos investidores, movidos por objectivos ocultos?
Podemos imaginar que as consequências directas para o país e até
para toda a Europa, serão ainda piores!
Piores,
porque esses objectivos ocultos poderão
no futuro traduzir-se no domínio completo do país, económico e político, numa
lógica geoestratégica de domínio do flanco sul da Europa, pelos países ditos de
economias emergentes: Angola, China, Brasil, com particular relevo para Angola.
Não
é por acaso que Angola se apressa a comprar tudo o que é bom em Portugal.
Bancos, Telecomunicações, Energias (Electricidade , Gás e Combustíveis),
Grandes Construtoras, Medea, Grande Distribuição.
Os
seus objectivos estratégicos são óbvios. Dominar a antiga potência
colonizadora.
A
China move-se por objectivos mais amplos. Dominar a Europa no seu conjunto, o
principal aliado dos Estado Unidos da América.
Num país como o nosso, extremamente fragilizado e enfraquecido,
sem capacidade de reunir forças que possam responder a esta ofensiva em larga
escala, com generais derrotados e incompetentes, sem o mínimo de visão
estratégica, facilmente podemos ser definitivamente vencidos.
Com
uma estrutura etária da população extramente desequilibrada, consequência de
uma ausência total de política demográfica, que originou uma das taxas mais
baixas de natalidade a nível europeu e até mundial, a renovação da população
portuguesa, afigura-se extremamente problemática, num futuro próximo.
E, um país sem população jovem que possa manter as infra-estruturas
económicas, sociais e políticas é, no futuro um país problemático, empobrecido,
sem capital humano e por isso facilmente dominado e derrotado.
Os
estrategas dos países emergentes não dormem. Eles sabem disso. Todo o mundo,
aliás, sabe disso.
Só
nós é que não sabemos. Nós, os políticos de trazer por casa que têm tomado
conta dos destinos do país.
No
limite deste processo, e depois de definitivamente vencidos os portugueses, os
tais objectivos ocultos, que agora se começam a esboçar, poderão significar, no
futuro, um neocolonialismo, que irá ser
exercido pelas potências emergentes, nossas antigas colónias.
Poderão
ser eles a tomar conta disto e a povoar espacialmente o nosso território
deserto, por ausência de população.
Por isso, é preciso ter uma
visão do futuro, mesmo aproximada que seja, em função da evolução do presente e
do conhecimento que temos da forma de pensar dos nossos adversários.
É assim na guerra, é assim na paz.
A
visão estratégica passa por aqui. Por isso, o futuro é algo de que temos de ter
hoje uma imagem mesmo esboçada que seja e com o passar do tempo se tornará mais
nítida.
Para
nos prepararmos, adaptarmo-nos ou anteciparmo-nos. Só assim, poderemos evitar a derrocada
e derrota finais.
A governação do dia a dia, imediatista, tipicamente portuguesa, a
falta de visão estratégica, podem pagar-se muito caro no futuro.
E
as vítimas seremos nós, os nossos filhos ou os nossos netos…!