sexta-feira, 31 de agosto de 2012

PRIVATIZAÇÕES, OS NOVOS PODERES E A RESPOSTA PORTUGUESA

 
 
 
 
 



 
A questão das privatizações, das concessões, da venda de tudo o que é público, dê ou não lucro e seja ou não rentável, está na ordem do dia.
Na óptica do governo, da troika, é preciso privatizar rapidamente, depressa e a qualquer preço.
 
Para fazer rapidamente uns trocos, que dêem uma ajuda para tapar mais alguns buracos deixados por um passado de desleixo, de incúria, de oportunismo, de irresponsabilidade.
 
Irresponsabilidade deles próprios, dos mesmos que agora estão a vender os dedos das mãos do país.
 
A privatização do sector público empresarial foi uma imposição da troika. Consta do «Memorando de Entendimento».
 
De «Entendimento?»…
Mas estes senhores, porventura se entenderam com alguém, sobre o que interessa à realidade portuguesa?

Não! Aplicam a sua receita standardizada, a «chapa cinco».
 
Foi o preço que o país teve de pagar por anos e anos de incúria, de desleixo e de gestão danosa deste sector.
 
Foi o preço da capitulação. De um país, sem qualquer poder negocial, pois nem isso os governantes tentaram.
 
Nem Sócrates, nem Coelho. Praticamente tudo foi aceite aos vencedores desta guerra do dinheiro, docilmente, servilmente, sem resistência.
 
Dinheiro sem o qual as batatas não chegam á nossa mesa. E nessa altura já não havia batatas, na mesa do Estado.
 
Impunha-se uma reestruturação, não uma privatização. Porque, são as jóias da coroa que estão em jogo e algumas são de todos de nós, assumem natureza colectiva.
 
Algumas dessa empresas, já vinham a ser  reestruturadas há anos (casos da RTP e da TAP por exemplo), houve esforço financeiro do Estado com esse objectivo e já estavam a gerar resultados positivos algumas e próximo disso, outras.
 
Tudo isto está a ser uma precipitação, sem se avaliarem as consequências!
 
A reestruturação não era difícil. Era uma questão de tempo e de boa vontade (de administrações e trabalhadores). Apenas as do sector dos Transportes Terrestres (rodoviários e ferroviários) necessitavam de mais atenção e de recursos.
 
Por isso, bastava que uma parte do empréstimo internacional, fosse canalizado para essa reestruturação e a tragédia a que estamos a assistir, impotentes, poderia ter sido evitada.
 
Erro crasso, falta de visão estratégica e inexperiência de um governo desorientado, que diz e contradiz, com a maior das facilidades.
 
Erro crasso, que nos vai sair muito caro no futuro.
 
Perda de controlo pelo país, de alguns sectores estratégicos, deslocação dos centros de decisão para fora do país, empobrecimento, por via da saída dos rendimentos gerados para os países de origem dos «investidores».
 
Investidores, entre aspas, porque parece estar a esboçar-se a constatação de que alguns destes «investidores» são falsos, autênticos abutres a quem estamos a abrir as portas e são movidos por objectivos ocultos e duvidosos, que não têm a ver com a lógica do conceito de investimento: «investir hoje para obter um rendimento maior, amanhã».
 
E se, entre os candidatos que vão aparecendo para comprar este património público ao desbarato e algum privado que já foi vendido, estiverem, de facto, falsos investidores, movidos por objectivos ocultos?
 
Podemos imaginar que as consequências directas para o país e até para toda a Europa, serão ainda piores!
 
Piores, porque  esses objectivos ocultos poderão no futuro traduzir-se no domínio completo do país, económico e político, numa lógica geoestratégica de domínio do flanco sul da Europa, pelos países ditos de economias emergentes: Angola, China, Brasil, com particular relevo para Angola.
 
Não é por acaso que Angola se apressa a comprar tudo o que é bom em Portugal. Bancos, Telecomunicações, Energias (Electricidade , Gás e Combustíveis), Grandes Construtoras, Medea, Grande Distribuição.
 
Os seus objectivos estratégicos são óbvios. Dominar a antiga potência colonizadora.
 
A China move-se por objectivos mais amplos. Dominar a Europa no seu conjunto, o principal aliado dos Estado Unidos da América.
 
Num país como o nosso, extremamente fragilizado e enfraquecido, sem capacidade de reunir forças que possam responder a esta ofensiva em larga escala, com generais derrotados e incompetentes, sem o mínimo de visão estratégica, facilmente podemos ser definitivamente vencidos.
 
Com uma estrutura etária da população extramente desequilibrada, consequência de uma ausência total de política demográfica, que originou uma das taxas mais baixas de natalidade a nível europeu e até mundial, a renovação da população portuguesa, afigura-se extremamente problemática, num futuro próximo.
 
E, um país sem população jovem que possa manter as infra-estruturas económicas, sociais e políticas é, no futuro um país problemático, empobrecido, sem capital humano e por isso facilmente dominado e derrotado.
 
Os estrategas dos países emergentes não dormem. Eles sabem disso. Todo o mundo, aliás, sabe disso.
Só nós é que não sabemos. Nós, os políticos de trazer por casa que têm tomado conta dos destinos do país.
 
No limite deste processo, e depois de definitivamente vencidos os portugueses, os tais objectivos ocultos, que agora se começam a esboçar, poderão significar, no futuro, um neocolonialismo,  que irá ser exercido pelas potências emergentes, nossas antigas colónias.
 
Poderão ser eles a tomar conta disto e a povoar espacialmente o nosso território deserto, por ausência de população.
 
Por isso, é  preciso ter uma visão do futuro, mesmo aproximada que seja, em função da evolução do presente e do conhecimento que temos da forma de pensar dos nossos adversários.
É assim na guerra, é assim na paz.
 
A visão estratégica passa por aqui. Por isso, o futuro é algo de que temos de ter hoje uma imagem mesmo esboçada que seja e com o passar do tempo se tornará mais nítida.
 
Para nos prepararmos, adaptarmo-nos ou anteciparmo-nos. Só assim, poderemos evitar a derrocada e derrota finais.
 
A governação do dia a dia, imediatista, tipicamente portuguesa, a falta de visão estratégica, podem pagar-se muito caro no futuro.
 
E as vítimas seremos nós, os nossos filhos ou os nossos netos…!



 
 
 
 


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