quarta-feira, 24 de abril de 2013

25 DE ABRIL DE 1974: UTOPIA OU OPORTUNIDADE PERDIDA?



Pela passagem de mais um aniversário de uma revolução, nunca são demais a reflexão, o balanço e a lição.

Ao ver e ouvir, ontem, a entrevista com Otelo Saraiva de Carvalho, considerado o cérebro e o operacional da revolução, avivou-se-me a memória de alguns pormenores, que ele, Otelo, tinha bem presentes, mas que o tempo, desvanece na memória de muitos de nós.

Estive lá, vivi os acontecimentos, conheço bem os prós e os contras, assisti às reuniões da minha unidade militar, o antigo Regimento de Caçadores Paraquedistas, que só foi chamada a intervir, uns dias depois.

Lembro-me de ter ficado retido na unidade, durante três dias, em prevenção e de ter faltado a uma casamento de uma pessoa de família chegada, que justamente se casava  e se casou, nesse próprio dia 25 de Abril, do já  longínquo ano de 1974.

Foi mais uma revolução de que o país foi protagonista, movida por ideais, como todas as outras o foram no passado.

Mas, como sempre acontece nas revoluções, em que se pretende substituir um estado social considerado ultrapassado, por outro, há sempre desvios, há sempre oportunismos, há sempre radicalismos, há sempre desmandos e há sempre tendência a cair nos extremos.

Os protagonistas mais activos, mais politizados e pretensamente mais esclarecidos (como aliás se dizia na época), arvoram-se em iluminados, tomam as bandeiras da revolução e constituem-se na sua vanguarda avançada.

Assim aconteceu em 1974.

A Aliança Povo-MFA instituída pela vanguarda da revolução, de cariz socialista totalitário, pretendia instituir o socialismo em Portugal.

Mas não se entenderam quanto ao tipo de socialismo mais adequado ao povo português. Ouve sérias cisões e divisões na vanguarda revolucionária.

Uns queriam instituir o socialismo estalinista, à maneira da antiga União Soviética. Fizeram campanhas de «dinamização cultural» por todo o país, numa tentativa de abrir os olhos ao zé povinho,  numa terra em que «quem tem um olho é rei».

Outros, a democracia popular à maneira da Albânia, uma democracia directa baseada no poder popular e num socialismo de miséria.

Outros, os mais moderados, pretendiam uma via socialista baseada na coexistência de uma economia privada, que serviria e serviu, que nem uma luva, de vaca leiteira e de galinha dos ovos de ouro, para alimentar o dito socialismo moderado.

Foi a via soarista, do nome do politico português Mário Soares que a apadrinhou e que havia de ser adoptada pelo actual partido socialista.

Houve golpes e contragolpes entre as várias facções, tendo triunfado a via moderada do socialismo, o chamado socialismo democrático.

Uma das facções, a liderada por Otelo, perante a derrota e não conformada, passa à clandestinidade e forma um movimento revolucionário, a FUP – FP 25 de Abril que, por via da sublevação armada do povo, ao qual foram distribuídas armas e de ataques terroristas, pretendia impor o seu socialismo de miséria.

O movimento fracassou e Otelo foi condenado e preso. Mário Soares, então Presidente da República, indultou-o e concedeu-lhe amnistia.

Durante o processo revolucionário, O PREC, o país sofre um rude golpe com a destruição da maior parte da sua infra-estrutura económica de que foram precisos mais de vinte anos para a estabilizar.

O modelo de desenvolvimento soarista, imposto pelo partido socialista e pelos partidários da social-democracia, arruinou definitivamente o país, passou por três bancarrotas e hoje Portugal e o seu povo, vivem com soberania limitada,  sob coacção e ordens de uma troika de credores a um governo feito fantoche.

O modelo soarista, pretendendo ser mais papista que o Papa, secou a vaca leiteira e matou a galinha dos ovos de ouro.

Portugal é hoje um país em completa desagregação, económica, política, social e cultural, o mais atrasado de toda a União Europeia, uma oligarquia de poderosos que se aproveitou das fragilidades do regime, verdadeira nobreza medieval, o mais desigual e excluindo de níveis de vida dignos, a maior parte da sua população.

Onde estão os ideais de Abril?  Para que serviu a revolução? Apenas para ganharmos liberdade e dizermos que o 25 de Abril é o dia da liberdade?

Foi muito pouco!

Somos mais habilitados e cultos? Vivemos melhor? Temos níveis de bem estar dignos de ser vividos? De forma nenhuma.

O cartão de crédito e o Estado Social, assente em pés de barro, foram apenas os alimentos artificiais de uma ilusão, que agora se desmoronou.

Diz-se que temos a geração mais qualificada de sempre. É verdade.
Mas muita é aparente. Há muito papel carimbado com selo branco, mas muito dele nada mais representa do que isso mesmo, um bocado de papel e um canudo.

Eu sei do que falo, porque dediquei mais de quinze anos ao ensino universitário e constatei a santa ignorância dos nossos jovens universitários, já muito mal preparados do nível anterior. De tal forma que algumas universidades, tiveram de optar entre um ano propedêutico ou descer a qualidade de ensino, para que os alunos chegassem ao fim das licenciaturas.

Não nos iludamos com as estatísticas!

A lição a tirar do 25 de Abril de 1974 é praticamente a mesma que se tirou de outras revoluções, cada uma delas com o seu mote próprio e as suas motivações.

Mas em todas elas há uma elemento comum: todas descambam no aproveitamento e no oportunismo de iluminados que, servindo-se do guião ideológico que melhor assenta na mente do povo, impõe, curiosamente de forma democrática, o seu modelo.

O nacional-socialismo de Hitler surgiu de forma democrática, não nos esqueçamos  e deu no que deu.
 


A revolução de 25 de Abril de 1974, acabou por ser um misto de utopia e oportunidade perdida. Utopia inicial dos revolucionários, optando por modelos já gastos e com péssimas provas dadas e que reduziu a escombros as principais infra-estruturas económicas herdadas do salazarismo,   mas essencialmente foi uma oportunidade perdida, pela falta de realismo no modelo de desenvolvimento seguido.

A grande lição a tirar é que, como dizia, Friedrich Hegel, «O QUE A HISTÓRIA ENSINA,  É QUE OS GOVERNOS E AS PESSOAS NUNCA APRENDEM COM A HISTÓRIA»!


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