A questão do
capitalismo e da necessária existência do factor capital, como factor produtivo
numa relação de produção, já foi abordada em artigos anteriores.
Não pode
haver relação de produção sem a concorrência dos dois factores produtivos:
capital e trabalho.
O capital,
no sentido de aplicação ou investimento de dinheiro, moeda ou outros meios, em
instrumentos de produção, tais como numa enxada, numa ferramenta, numa máquina,
na criação de uma marca, no desenvolvimento de um método de produção, ou mesmo
numa aplicação financeira, tem de ser sempre disponibilizado por alguém: um
particular, uma entidade privada ou pública ou até um trabalhador.
A questão do anti-capitalismo,
não faz, portanto, qualquer sentido, tal como não faria falar-se em anti-trabalhismo.
Estaríamos a negar a própria existência da função de produção, sem a qual não
seria possível produzir os bens e serviços com os quais podemos satisfazer as
nossas necessidades, na sua complexa hierarquia.
Com o termo
anti-capitalismo, pretender-se-á caracterizar as situação de capitalismo
selvagem, explorador, especulativo, que não visará satisfazer as necessidades
de uma colectividade, mas a avidez e o egoísmo de uma parte minoritária de uma
sociedade ou, num sistema globalizado de economias abertas, os mesmos
objectivos por parte de organizações internacionais.
Ainda assim,
estando presente o factor capital, este não será tanto no sentido económico e
portanto visando o bem comum, mas no sentido especulativo e lesivo, em muitos aspectos,
dos interesses de uma colectividade.
Este tipo de
capitalismo, obviamente, tem de ser banido e combatido, por todos os meios ao
dispor dos poderes públicos.
Outro sentido
em que o termo anti-capitalismo tem sido utilizado, é em relação a certas
ideologias totalitárias, do tipo colectivista, que não aceitam que haja
capitalismo privado. Todos os meios de produção são da colectividade, são
públicos e portanto apenas o Estado tem legitimidade para os administrar e
gerir, em nome dessa colectividade.
Ainda assim,
o termo não é adequado, pois que, o capital económico, negado a privados, terá
sempre de ser disponibilizado por entidades públicas, ou seja, haveria sempre
capitalismo, neste caso capitalismo de Estado e, nada garante, que não fosse,
em parte, também especulativo.
Em qualquer dos casos, é inegável
que o capitalismo, no sentido de disponibilização de meios monetários para
aplicação em instrumentos de produção, terá de existir sempre, em concorrência
com o outro factor produtivo: o trabalho.
A questão central, na minha perspectiva,
não se centra na existência ou não de capitalismo, porque este existirá sempre,
a mesmos que a máquina do tempo, nos faça regressar à Idade da Pedra ou mesmo
às cavernas. E mesmo aqui, a questão continuaria a ser discutível.
A questão
central reside no equilíbrio ou desequilíbrio da relação de produção, em que,
um dos factores produtivos, em geral o capital, tenta explorar e nalguns casos escravizar
o outro factor produtivo, o trabalho.
A questão é
secular e muitas teorias têm sido
avançadas desde Marx e seus discípulos e continuadores, até aos nossos dias, no
sentido da normalização do equilíbrio daquela relação, pilar fundamental da
forma como se desenha e organiza toda uma sociedade e da forma como se distribui
o rendimento gerado.
É um facto que,
até hoje, ninguém, nem nenhum Estado, conseguiu resolver de forma aceitável
esta questão e daí a secular conflitualidade na relação entre estes estes dois
protagonistas numa relação de produção, mais precisamente no sentido técnico,
de uma Função de Produção.
Os que tentaram, por via
revolucionária, impor um totalitarismo colectivista, em que o problema se
resolveria de forma radical, retirando da mão dos privados, qualquer veleidade
de dispor de capital para investir e desta forma, pretensamente, se erradicaria,
para sempre, toda e qualquer exploração
do Homem pelo Homem, não resolveram o problema e o balanço deste método,
saldou-se, como todos sabemos, por milhões de mortos e um resultado final, pela
escravização e alienação do Homem pelo novo Senhor: o Estado todo poderoso.
Os sistemas mais recentes, ditos
socialistas e sociais-democratas, tentaram a resolução do problema, por via
indirecta, ou seja pela via da redistribuição, retirando o rendimento, das mãos
dos privados e retribuindo-o segundo os critérios mais duvidosos.
E aqui aplicar-se-ia bem o velho
ditado português: QUEM PARTE E REPARTE E NÃO FICA COM A MAIOR PARTE, OU É TOLO
OU NÃO TEM ARTE…
E foi o que aconteceu.
O Estado (os seus agentes) de tolos não têm nada e o resultado foi o desastre
que conhecemos:
- Espoliação
do rendimento do sistema económico
privado (especialmente as pequenas e médias empresas), milhares de falências e
desemprego em massa, endividamento público e privado, galopantes, pelo efeito
da escassez de rendimento, Estado e sistema público bem gordos, falência do
país (no caso português e de alguns países europeus que seguiram o mesmo
modelo), pobreza da maioria dos cidadãos.
Ficou apenas
a liberdade que Abril trouxe, mas a liberdade apenas abandalhou uma grande
parte da população que, à falta de recursos, nela se refugiou, como ópio do
povo.
Ou seja, um
resultado final, muito semelhante ao do totalitarismo colectivista, embora,
como referi, por um método indirecto.
Como
resolver então o problema? Não há, obviamente, soluções milagrosas porque, se
as houvesse, o problema já estaria resolvido.
Mas haverá,
certamente, outras abordagens, outras
aproximações, aproveitando a experiência do passado, tentando corrigir o que
correu mal, inovando de forma realista e aperfeiçoando e testando novos
modelos, mas nunca voltar ao totalitarismo, apagando a história e a memória!
O meu modesto contributo, no
âmbito do modelo de Democracia Social Participativa, chama-se «Recentralização
e Valorização do Factor Trabalho» e passa, como elemento fundamental, pela participação
obrigatória do factor trabalho no capital social das empresas, para além de
outros elementos que contribuam para valorizar e envolver o factor trabalho na
«SUA» empresa, tentando-se, desta forma reequilibrar a Relação de Produção,
optimizando a produtividade e o ambiente organizacionais.