Tenho acompanhado os programas do Prof. Medina Carreira na
Televisão, praticamente desde que se iniciaram.
Primeiro com o «Plano Inclinado» e agora com o «Olhos nos Olhos».
O primeiro, ainda nos tempos loucos do socratismo, sugerindo
certamente a trajectória inclinada (para baixo), que o país estava seguir em
direcção ao precipício e o segundo, já no tempo da esperança, sugerindo
mudança, verdade, transparência.
Lembro-me de Nuno Crato, o actual Ministro da Educação, ser um dos
participantes permanentes do «Plano Inclinado», juntamente com o economista
João Duque.
Lembro-me que Nuno Crato, abordava preferencialmente temas sobre a
educação em Portugal, área onde se sentia mais à-vontade, não fosse ele
Presidente da Associação Portuguesa de Matemática e Professor universitário.
E, recordo-me perfeitamente da crítica acérrima que fazia ao
sistema de educação, tanto ao nível do ensino básico, secundário ou
universitário.
Criticava veementemente a política educativa dirigista do
Ministério da Educação e os métodos anárquicos propostos pelos chamados
«comissários políticos», colocados ao serviço desse dirigismo e que tinham por
missão controlar, junto das escolas, a aplicação da utopia, tanto ao nível do
ensino e dos métodos pedagógicos, como ao nível da relação professor/aluno.
Crato trazia gráficos e esquemas para mostrar no programa, que
comprovavam os métodos absolutamente utópicos de ensino e avaliação dos alunos.
Com estes métodos, os alunos, no fim dos ciclos, valiam «zero». Ignorância
completa.
Mas, isso não era importante para os mentores políticos da utopia.
O que era importante era o lúdico e o passatempo. No fim, os alunos levavam
sempre uma classificação excelente. As estatísticas agradeciam. Lá fora
rejubilava-se. Éramos os «Maiores»…
Renasceu a esperança, em muitos de nós que acompanhámos de perto
os problemas da educação, com a escolha de Nuno Crato para Ministro da
Educação. Os seus discursos iniciais, após a tomada de posse, acalentaram essa
esperança.
Esperança de que se iria iniciar uma nova era na educação, a era
do pós-anarquismo utópico.
Hoje, como habitualmente, assisti à transmissão do programa «Olhos
nos Olhos», na TVI 24, cujo tema era precisamente a educação, e convidada a Dra
Maria do Carmo Vieira, professora do ensino secundário.
O primeiro mote para a abordagem do tema, foi algo que não
constituiu surpresa, dada a sua constatação, por parte de quem está minimamente
atento ao que se passa no país.
Esse algo, que introduziu a discussão, foi exactamente o silêncio,
a paz, a calma, que se vive hoje nas escolas e no sistema de ensino,
contrastando claramente com o clima de agitação e confrontação que se viveu
durante os seis anos de regime socrático,
sob o consulado de Rodrigues, Canavilhas
e Alçada.
Aparentemente este silêncio pareceria indicar que Crato, teria
tido capacidade de apaziguar os professores, de ter convencido as escolas e os
professores a aceitarem o seu plano, de por ordem no ensino e de pugnar pela
sua qualidade.
Mas não!
Maria do Carmo Vieira, a convidada, conhecedora dos problemas do ensino,
por dentro e por fora, notoriamente indignada, dispara:
-
Trata-se de uma paz podre, tudo continua como dantes. Nada mudou!
O estatuto do aluno, os métodos anacrónicos de ensino, os manuais
escolares, a completa ignorância dos professores sobre as matérias que deviam saber
ensinar, a eliminação das matérias difíceis e incómodas dos programas, a
arrogância, a macaquice e a prevaricação dos alunos, o excessivo trabalho a que
os professores são obrigados para recuperar, obrigatoriamente, os alunos indigentes,
mal educados e preguiçosos, a corrida às consultas de psiquiatria de muitos
professores inconformados e, pasme-se o
controlo e a censura política a quem criticar o sistema, sendo imediatamente
rotulado de fascista, reaccionário e conotado com o regime de Salazar.
Ou seja, tudo continua na mesma. Os professores são avaliados, não
em função do seus conhecimentos sobre as matérias que, supostamente deveriam
saber ensinar, mas em função quase exclusiva de técnicas e métodos pedagógicos
de ensino.
Segundo Maria do Carmo Vieira, os professores são formatados apenas
para isto, não têm autonomia para aplicarem os seus próprios métodos e tudo tem
de ser trabalhado em grupo.
A formatação do docente, passa ainda por ter de seguir, obrigatoriamente,
um Manual do Professor.
Para a elaboração dos programas, não há consenso politico entre as
diversas tendências ideológicas e resultam antes da predominância das forças de
esquerda, que desde sempre, os têm imposto, segundo as suas concepções.
Ou
seja, um filme de terror! Mas, já muito conhecido desde a «abrilada» de 1974.
Relativamente ao Acordo Ortográfico, Maria do Carmo afirma ainda
que ele resultou de «uma cambada de
oportunistas, políticos e meia dúzia de linguistas aventureiros, é uma
autêntica blasfémia e, como afirma a Nota
Explicativa do Acordo e como critério científico para a sua concepção, que os «Lusitanos
foram teimosos porque nunca quiseram tirar os «c» e os «p».
Oportunismo
de lóbis, mais uma vez que, como afirma a Prof.ª Maria do Carmo. As acções de formação,
por todo o país, para se ensinar, no dizer deles, o «português correcto» e, interroga o Governo sobre
quanto vai gastar com este Acordo
Crato, que tanto criticou o sistema, quando estava de fora, agora,
lá dentro, parece que deixa andar e não te rales.
Faz como dizia Confúcio.
Será
que Crato é mais uma vítima de lóbis e interesses instalados? Será que o seu
entusiasmo inicial, força anímica e boas intenções esbarraram contra a barreira
destes enormes poderes político-corporativos no nosso sistema de ensino?
São questões envoltas em mistério, tal como a paz podre de que
fala Maria do Carmo Vieira, a professora do ensino secundário que, melhor do
ninguém, conhece os problemas no terreno.
Passado quase um ano de governação, esperava-se que Nuno Crato fizesse mais.
Esperava-se que o Ministro da Educação já tivesse lançado as bases da grande reforma do ensino, que há muitos anos se impõe.
Esperava-se que o Ministro aproveitasse esta oportunidade única de mudar o sistema e tivesse a coragem de desafiar um dos os lóbis mais poderosos do país e que tanta poeira destrutiva lançou sobre a educação em Portugal.
Passado quase um ano de governação, esperava-se que Nuno Crato fizesse mais.
Esperava-se que o Ministro da Educação já tivesse lançado as bases da grande reforma do ensino, que há muitos anos se impõe.
Esperava-se que o Ministro aproveitasse esta oportunidade única de mudar o sistema e tivesse a coragem de desafiar um dos os lóbis mais poderosos do país e que tanta poeira destrutiva lançou sobre a educação em Portugal.
Por isso, vale a pena ver e ouvir os participantes do «Olhos nos Olhos»
do dia 21 de Maio.
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