terça-feira, 22 de maio de 2012

EDUCAÇÃO NACIONAL: A GRANDE DESILUSÃO


Tenho acompanhado os programas do Prof. Medina Carreira na Televisão, praticamente desde que se iniciaram.
Primeiro com o «Plano Inclinado» e agora com o «Olhos nos Olhos».

O primeiro, ainda nos tempos loucos do socratismo, sugerindo certamente a trajectória inclinada (para baixo), que o país estava seguir em direcção ao precipício e o segundo, já no tempo da esperança, sugerindo mudança, verdade, transparência.

Lembro-me de Nuno Crato, o actual Ministro da Educação, ser um dos participantes permanentes do «Plano Inclinado», juntamente com o economista João Duque.

Lembro-me que Nuno Crato, abordava preferencialmente temas sobre a educação em Portugal, área onde se sentia mais à-vontade, não fosse ele Presidente da Associação Portuguesa de Matemática e Professor universitário.
E, recordo-me perfeitamente da crítica acérrima que fazia ao sistema de educação, tanto ao nível do ensino básico, secundário ou universitário.

Criticava veementemente a política educativa dirigista do Ministério da Educação e os métodos anárquicos propostos pelos chamados «comissários políticos», colocados ao serviço desse dirigismo e que tinham por missão controlar, junto das escolas, a aplicação da utopia, tanto ao nível do ensino e dos métodos pedagógicos, como ao nível da relação professor/aluno.

Crato trazia gráficos e esquemas para mostrar no programa, que comprovavam os métodos absolutamente utópicos de ensino e avaliação dos alunos. Com estes métodos, os alunos, no fim dos ciclos, valiam «zero». Ignorância completa.
Mas, isso não era importante para os mentores políticos da utopia. O que era importante era o lúdico e o passatempo. No fim, os alunos levavam sempre uma classificação excelente. As estatísticas agradeciam. Lá fora rejubilava-se. Éramos os «Maiores»…

Renasceu a esperança, em muitos de nós que acompanhámos de perto os problemas da educação, com a escolha de Nuno Crato para Ministro da Educação. Os seus discursos iniciais, após a tomada de posse, acalentaram essa esperança.

Esperança de que se iria iniciar uma nova era na educação, a era do pós-anarquismo utópico.

Hoje, como habitualmente, assisti à transmissão do programa «Olhos nos Olhos», na TVI 24, cujo tema era precisamente a educação, e convidada a Dra Maria do Carmo Vieira, professora do ensino secundário.

O primeiro mote para a abordagem do tema, foi algo que não constituiu surpresa, dada a sua constatação, por parte de quem está minimamente atento ao que se passa no país.

Esse algo, que introduziu a discussão, foi exactamente o silêncio, a paz, a calma, que se vive hoje nas escolas e no sistema de ensino, contrastando claramente com o clima de agitação e confrontação que se viveu durante os seis anos de  regime socrático, sob o consulado de Rodrigues,  Canavilhas e Alçada.

Aparentemente este silêncio pareceria indicar que Crato, teria tido capacidade de apaziguar os professores, de ter convencido as escolas e os professores a aceitarem o seu plano, de por ordem no ensino e de pugnar pela sua qualidade.

Mas não!

Maria do Carmo Vieira, a convidada, conhecedora dos problemas do ensino, por dentro e por fora, notoriamente indignada, dispara:
- Trata-se de uma paz podre, tudo continua como dantes. Nada mudou!

O estatuto do aluno, os métodos anacrónicos de ensino, os manuais escolares, a completa ignorância dos professores sobre as matérias que deviam saber ensinar, a eliminação das matérias difíceis e incómodas dos programas, a arrogância, a macaquice e a prevaricação dos alunos, o excessivo trabalho a que os professores são obrigados para recuperar, obrigatoriamente, os alunos indigentes, mal educados e preguiçosos, a corrida às consultas de psiquiatria de muitos professores inconformados e, pasme-se o controlo e a censura política a quem criticar o sistema, sendo imediatamente rotulado de fascista, reaccionário e conotado com o regime de Salazar.
Ou seja, tudo continua na mesma. Os professores são avaliados, não em função do seus conhecimentos sobre as matérias que, supostamente deveriam saber ensinar, mas em função quase exclusiva de técnicas e métodos pedagógicos de ensino.

Segundo Maria do Carmo Vieira, os professores são formatados apenas para isto, não têm autonomia para aplicarem os seus próprios métodos e tudo tem de ser trabalhado em grupo.

A formatação do docente, passa ainda por ter de seguir, obrigatoriamente, um Manual do Professor.
Para a elaboração dos programas, não há consenso politico entre as diversas tendências ideológicas e resultam antes da predominância das forças de esquerda, que desde sempre, os têm imposto, segundo as suas concepções.
Ou seja, um filme de terror! Mas, já muito conhecido desde a «abrilada» de 1974.

Relativamente ao Acordo Ortográfico, Maria do Carmo afirma ainda que ele resultou de «uma cambada de oportunistas, políticos e meia dúzia de linguistas aventureiros, é uma autêntica blasfémia e, como afirma a  Nota Explicativa do Acordo e como critério científico para a sua concepção, que os «Lusitanos foram teimosos porque nunca quiseram tirar os «c» e os «p».

Oportunismo de lóbis, mais uma vez que, como afirma a Prof.ª Maria do Carmo. As acções de formação, por todo o país, para se ensinar, no dizer deles,  o «português correcto» e, interroga o Governo sobre quanto vai gastar com este Acordo

Crato, que tanto criticou o sistema, quando estava de fora, agora, lá dentro, parece que deixa andar e não te rales.
Faz como dizia Confúcio.

Será que Crato é mais uma vítima de lóbis e interesses instalados? Será que o seu entusiasmo inicial, força anímica e boas intenções esbarraram contra a barreira destes enormes poderes político-corporativos no nosso sistema de ensino?

São questões envoltas em mistério, tal como a paz podre de que fala Maria do Carmo Vieira, a professora do ensino secundário que, melhor do ninguém, conhece os problemas no terreno.

Passado quase um ano de governação, esperava-se que Nuno Crato fizesse mais.
Esperava-se que o Ministro da Educação já tivesse lançado as bases da grande reforma do ensino, que há muitos anos se impõe.

Esperava-se que o Ministro aproveitasse esta oportunidade única de mudar o sistema  e tivesse a coragem de desafiar um dos  os lóbis mais poderosos do país e que tanta poeira destrutiva lançou sobre a educação em Portugal.

Por isso, vale a pena ver e ouvir os participantes do «Olhos nos Olhos» do dia 21 de Maio.

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