De todos os quadrantes da
sociedade portuguesa, avolumam-se os apelos e as sugestões, para que a nação se
una e se mobilize para encontrar um amplo consenso nacional em torno de um
projecto de governo alternativo ao que está no poder.
No final da
grave crise socratista, em que o país já estava perto do abismo, as mesmas
vozes e os mesmo apelos, já sugeriam um governo de coligação alargada,
incluindo independentes, de iniciativa presidencial e com apoio parlamentar protocolado
e garantido.
O Presidente
da República optou por eleições antecipadas, seguindo a via constitucional
normal. Foram cerca de cinco meses de espera, em governo de gestão mas já com o
memorando de entendimento firmado.
A sociedade
esperou pelos resultados das eleições e, com grande expectativa de mudança e de
esperança, alterou o sentido de voto e, como sempre fez, optou pelos partidos
alternativos da área do centro e centro-direita.
Perante a falta
de uma alternativa credível, foi esta a opção mais lógica. Acreditámos e
confiámos!
Os
resultados confirmaram o sentido de voto.
Sócrates,
após o simulacro, o bluff e o descalabro em que deixou o país, foge e exila-se em Paris.
Uma grande parte da sociedade portuguesa
rejubilou de esperança, com o resultado das eleições. Esperança de que o bem-falante laranja vindo
há poucos anos da «Jota», fosse o grande
protagonista da mudança, fosse o «brinde» que todos ambicionávamos.
Mas, em vez do brinde, saiu-nos a
«fava».
As suspeitas
iniciais de impreparação e falta de experiência, confirmaram-se. O rapaz vindo
das «Jotas» e das «Doce» não estava à altura da situação de grave emergência
nacional.
O défice de competência governamental,
foi compensado com um tecnocrata vindo
de Bruxelas e bem relacionado com o mundo da eurocracia. Uma sumidade, do melhor
que há. Um «crânio» incomparável!
E, embora classificado na hierarquia
como o número dois, passou a ser o primeiro, o primeiro ministro.
Tudo passa por ele!
A receita por ele congeminada e
cegamente seguidista da «troika» e com a qual todos tiveram de se conformar, eles
os do governo e nós, os da sociedade, de suportar, conduziu a um substancial
agravamento da situação do país: económica, financeira e social.
Durante 2012
e perante os maus resultados conseguidos, do desagregar de todos os indicadores
da situação do país e dos exagerados sacrifícios pedidos, especialmente aos
mais fracos e indefesos, para nada, esperava-se
que o eurocrata das finanças, mudasse de estratégia e aconselhasse o governo, que
se impunha uma negociação com a troika, alargada aos parceiros sociais, no
sentido de se alterarem os parâmetros do ajustamento, de forma a que Portugal
pudesse cumprir o programa, sem provocar grandes estragos na economia e na
sociedade.
Pouco ou
nada se fez, apenas ligeiras subidas nas metas do défice e um pequeno
ajustamento na taxa de juro em 2011. E mesmo assim , em termos reais, as metas não
foram alcançadas nem em 2011, nem em
2012.
A dívida continua a subir, também
por via da queda do Produto, as taxas de juro cobradas pelas instâncias
financeiras europeias e pelo FMI, embora baixas para condições normais de
financiamento de países com economias a crescer, são ainda assim, excessivas,
para países em recessão profunda, sem capacidade económica e financeira para as
suportar e tendo em conta o montante astronómico da dívida pública, no caso
português já na ordem dos 120% do PIB.
Por isso, em
nome da emergência, da recessão e da calamidade social, que tudo isto está a provocar
e, diga-se, em nome da solidariedade que devia existir numa União que se diz europeia,
impunha-se uma revisão negociada dos parâmetros de ajustamento.
Desde logo
das taxas de juro. Perante o enorme valor da dívida, qualquer ponto percentual
que se conseguisse baixar, teria impacto muito significativo na diminuição da
despesa pública e portanto no défice orçamental. Mas, outros parâmetros poderiam
e deveriam ser renegociados, principalmente aqueles que pudessem libertar meios
para pôr em prática um verdadeiro programa de relançamento económico e de
criação de emprego.
E,
naturalmente, e em prioridade, cortes nas despesas públicas e na redução da
dimensão do Estado (Central, Autárquico, Empresarial Autárquico e Orgânico).
Porque, sem crescimento
económico não há programa que se consiga cumprir, por mais que se carregue nos
impostos, por mais que se imponha austeridade, porque, de austeridade em austeridade,
da espiral recessiva que elas provocam e da calamidade social que originam,
cada vez ficaremos mais longe de cumprir seja o que for.
E a meta da
Grécia, ficará cada vez mais à vista para Portugal.
Tal como
aconteceu com Sócrates, os actuais iluminados, entendem que não se pode dar
crédito às vozes discordantes, ao «populismo», utilizando a sua linguagem e
que, de todos quadrantes, aconselham prudência e cautela, mais pressão e
intervenção negocial sobre as instâncias europeias, para não se incorrer nos
mesmos erros cometidos em 2012.
Porque, é da
física e é básico, às mesmas causas correspondem
os mesmo efeitos.
Outros
países, desde logo a Espanha, aqui ao lado, tiveram o bom senso de negociar
condições, foram incansáveis nas deslocações a Bruxelas, pressionaram quanto
puderam e conseguiram condições aceitáveis, sem sequer pedirem resgate. Pelo menos até agora.
Portugal não.
Os subscritores do ajustamento, aceitaram tudo, foram literalmente encostados à
parede e, custe o que custar ao país, o plano troikeano tem de ser cumprido.
Seguiram a
posição do endividado que, perante o credor, tudo aceita para tentar salvar a
pele. E, pelo que estamos a ver, nem a pele já se consegue salvar.
O governo joga um jogo perigoso
de, perante a falta de uma alternativa de governo, pois o Partido Socialista
isolado, não é alternativa, impõe arbitrariamente as suas regras, seguindo a
linha vermelha do «custe o que custar».
Apesar dos
apelos da sociedade mais activa e mais lúcida, sobre os perigos que nos espreitam,
para se mobilizar a sociedade no sentido de se encontrar um alternativa de
governo, de base alargada, partidária e com independentes, a verdade é que essa
alternativa tarda em surgir.
Não posso acreditar que, no meu
país, onde existem excelentes competências nas diversas áreas do conhecimento e
com grande experiência profissional e até alguns políticos competentes com
sensibilidade social, não estejam dispostos a integrar essa alternativa de
governo em torno de um consenso de salvação nacional.
À falta de
uma alternativa partidária nova que, tudo indica, irá surgir, o país precisa
desde já, de uma alternativa de emergência independente de poderes instalados,
de cidadãos patriotas que estejam dispostos a integrá-la sob a égide e
iniciativa de instituição nacional e disposta, por via do consenso, a
constituir um novo governo, no caso de algo correr mal com o que se encontra no
poder.
Porque, como tudo indica, é muito
provável que isso possa acontecer.
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