segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O REGRESSO AOS MERCADOS: A SALVAÇÃO DO PAÍS?






Desejaríamos acreditar que sim, mas a realidade é bem diferente!

O comentador, Marcelo de Sousa, divulgou ontem, no seu comentário semanal, com grande júbilo e certezas absolutas, de que Portugal vai voltar aos mercados antes de Setembro deste ano, como uma grande vitória para o país e para o governo.

Como se esse objectivo, neste momento ainda de certeza duvidosa, fosse a grande meta  a alcançar pelo país.

Se isso se concretizar e neste momento já alguns Bancos o conseguem fazer, a juros aceitáveis, mas ainda acima do desejável, é lícito perguntar para que serve a ida aos mercados?

Mesmo a compra de obrigações da dívida pública portuguesa pelo BCE, a custo mais baixo, pergunta-se onde vai ser aplicado o dinheiro?

Para apoiar as PME´s ainda sobreviventes, para pagar dívida com dívida, para pagar juros, para ir suportando as despesas do Estado, quando o dinheiro da troika se acabar, porque não se corta onde se deve cortar?

Ir aos mercados não é um objectivo estratégico para o país!

É uma medida transitória que, nas circunstâncias actuais, de sobreendividamento do Estado e do país, apenas permite ir-nos aguentando, sem entrar em rotura.

É continuar a viver com o dinheiro dos outros.

É resolver pontualmente problemas financeiros, mas adiando e empurrando  para a frente, os verdadeiros problemas de fundo, esses sim, criados por anos de incúria, desleixo e incompetência e necessitando de um verdadeiro plano estratégico global, para os resolver.

O regresso aos mercados, embora desejável, para evitar a rotura, tem o seus riscos.

Não se trata já da simples «gestão de uma dívida» como disse o ex-primeiro ministro.  

Numa situação em que a dívida pública portuguesa já se encontra no dobro do máximo aceitável, para ser gerida em condições normais, o recurso aos mercados, sendo um mal necessário, tem de ser feita com todo o critério e tem de ter como pressuposto, a diminuição incomportável do nível da dívida pública e do peso dos juros.

Sem este pressuposto, qualquer sinal de crescimento da economia, não chegará para o  país inverter a espirar de empobrecimento em que já entrou.

Os grandes objectivos para o país, no médio prazo e era disso que gostaríamos de saber a opinião de Marcelo Rebelo de Sousa, é como sanar de vez as finanças públicas, sem arrasar o país e os cidadãos, como reduzir a dívida pública e os seus astronómicos custos, como relançar a economia e o emprego, depois dos graves danos sofridos e como fazer sair este país da espiral de empobrecimento.

É que, atirar dinheiro para cima dos problemas, que têm causas profundas, não os vão resolver de um dia para o outro. Essa estratégia não surtiu efeito no passado e foi muito mal gerida. Destruir é fácil, reconstruir é muito mais difícil.

O governo segue a estratégia imposta pela troika e alguma de sua autoria e tenta resolver desta forma os problemas do país. Muitos sectores da sociedade portuguesa a contestam, porque havia alternativas menos penosas para o país, envolvendo na sua recuperação, os principais responsáveis  pela sua deterioração.

Mas, mesmo que o programa seja cumprido, com os custos enormes que está a ter para o país e para a sociedade, de que ainda não há certezas, pois tudo vai depender da execução do OE 2013,  que mal começou, e pensando no país para além da troika, como diz o primeiro ministro, pergunta-se o que vamos fazer depois?

Com um país em recessão profunda e desemprego galopante, cujos juros da dívida pesam mais que toda a despesa do Serviço Nacional de Saúde, depois da troika tudo ficará  resolvido, com o regresso aos mercados?

De forma realista, infelizmente não. Temos pela frente um duro, difícil e longo caminho.

É disto que gostaríamos de ouvir falar, Marcelo Rebelo de Sousa.

Gostaria de ser optimista e teria desejado acima de tudo, que o meu país não tivesse chegado à condição de país menos desenvolvido e mais desigual da União Europeia.

O GRANDE OBJECTIVO, ESSE SIM, É RETIRÁ-LO DESSA SITUAÇÃO HUMILHANTE!

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